Insegurança alimentar cresce 60% na América Latina em sete anos

Por Agência EFE e Danielle Dutra
06/12/2022 19:32 Atualizado: 06/12/2022 19:36

A insegurança alimentar na América Latina cresceu 60% entre 2014 e 2021, atingindo 40,6% da população dos países da região, superando a média em mais de dez pontos a média global, que se situa em 29,3% da população mundial, informaram nesta terça-feira organizações internacionais em Santiago, capital do Chile.

De acordo com um relatório apresentado pela Comissão Econômica para a América América e o Caribe (Cepal), a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) e o Programa Alimentar Mundial (PAM), o número de desnutridos também aumentou na região, de 5,8% da população em 2014 para 8,6% em 2021.

A insegurança alimentar atinge especialmente as áreas rurais da América Latina, que registram uma incidência de pobreza de 44,3%, 15 pontos a mais do que nas áreas urbanas, segundo o documento.

As três organizações internacionais advertiram que as sucessivas crises econômicas internacionais e a invasão russa na Ucrânia provocaram um aumento da inflação dos produtos alimentícios, principalmente do trigo, afetando negativamente as cadeias de produção agrícola da América Latina.

Grande volume da produção de trigo se encontra na região do Mar Negro, e desde que a guerra entre Rússia e Ucrânica iniciou-se em fevereiro 2022, o preço do trigo apresentam flutuações no mercado. O choques de preços dos produtos se espalharam rapidamente para o mercado de câmbio. Houve um impacto positivo de choques de preços de commodities no valor do dólar canadense em relação ao euro e ao iene.

Especificamente, os preços de alimentos e bebidas na região subiram para 12,4% em uma variação interanual em setembro de 2022, quatro pontos percentuais acima do IPC mundial.

Além disso, o declínio dos preços internacionais dos alimentos entre abril e outubro de 2022 não se traduziu em queda equivalente nos preços dos países da região, destacou o texto.

“Apesar de ter um superávit comercial agrícola significativo, a América Latina e o Caribe estão expostos a problemas de produção e comercialização e aumentos de preços decorrentes da guerra na Ucrânia”, disse José Manuel Salazar-Xirinachs, secretário-executivo da Cepal.

A maioria dos países latino-americanos e caribenhos são vulneráveis ​​às flutuações dos preços internacionais dos alimentos, porque são importadores líquidos de muitos produtos básicos.

Por exemplo, na região, 26 países são altamente dependentes das importações de trigo e 13 são de milho; Somente a Argentina é exportadora líquida de todos os principais produtos agrícolas.

No Brasil, a demanda de trigo é superior a produção interna, sendo altamente dependente da importação, representando um pouco mais de 50% do consumo interno.  Para suprir a demanda interna, apenas neste ano, foram importados 373,3 mil toneladas de trigo. Destes, em setembro, cerca de 80,6% foram importados da Argentina, 14,3 % dos EUA e 18,9% do Paraguai, de acordo com o análise mensal de trigo da Companhia Nacional de Abastecimento.

A crise de preços também se sobrepõe aos elevados níveis de endividamento na maioria dos Estados – até 52,1% do PIB anual em média -, com condições de crédito mais duras como resultado das políticas monetárias restritivas das principais potências e com a desvalorização das moedas que acelera a inflação.

Por isso, a Cepal, FAO e PAM exigem “respostas emergenciais” dos Estados para melhorar o acesso aos alimentos da população da região e manter a produção agrícola local, como a redução de tarifas e a diversificação das fontes de importação.

 

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