O Iêmen enfrenta um estado de crise. Sua população sofre fome; terroristas, incluindo o Estado Islâmico (EI) e a al-Qaeda, estão construindo campos de treinamento dentro de suas fronteiras; e governos estrangeiros estão lutando contra ou patrocinando grupos militantes locais.
Os militares dos EUA costumavam manter uma presença de segurança no Iêmen, que o governo Obama gradualmente encerrou.
Em março de 2015, os Estados Unidos evacuaram suas tropas remanescentes do país, enquanto grupos, incluindo rebeldes Houthis, al-Qaeda e o grupo terrorista EI, ajudam a deteriorar a situação de segurança do Iêmen.
Desde então, a situação tem somente piorado. ReliefWeb, um serviço do ramo humanitário das Nações Unidas, informou em 20 de março que a luta está intensificando-se novamente na costa oeste. “A situação da população civil é terrível e milhões de pessoas passam fome”, disse o serviço.
E observou que 70% dos iemenitas atualmente contam com ajuda humanitária para sobreviver. Mas os combates destruíram estradas e outras infraestruturas, e obstáculos burocráticos interferem nos esforços de ajuda, tornando difícil para as organizações fornecerem esta assistência crítica. Com o Iêmen diante da perspectiva de uma fome em massa, o ministro alemão das Relações Exteriores, Sigmar Gabriel, afirmou: “Não há muito tempo para evitar esta catástrofe.”
Parte de um conflito maior
A situação no Iêmen está relacionada com o conflito mais profundo por trás da Síria, de acordo com Robert J. Bunker, professor- adjunto de pesquisa no Instituto de Estudos Estratégicos da Escola de Guerra do Exército dos EUA. Ele disse que a Arábia Saudita e o Irã estão “engajando-se numa luta sunita contra xiitas, uma disputa geopolítica por influência no Oriente Médio, com a Síria e o Iêmen representando apenas dois de uma série de confrontos em andamento”.
No Iêmen, os Estados Unidos estão apoiando a Arábia Saudita e o Irã está apoiando as forças da oposição, incluindo os rebeldes Houthis e as organizações terroristas como al-Qaeda e o EI. Para tornar a situação mais complexa, o EI também está lutando contra os Houthis, enquanto a al-Qaeda tem tentado recrutar combatentes do EI para suas próprias fileiras.
Os grupos terroristas têm operado tempo o suficiente na região para fincar o pé no terreno. O EI alega que estabeleceu um campo de treinamento no Iêmen em julho de 2015, de acordo com Vocativ, e o grupo divulgou fotografias online mostrando seus militantes supostamente conduzindo treinamento.
Por outro lado, a al-Qaeda tem mantido uma forte presença no Iêmen, que abriga a al-Qaeda na Península Arábica (AQPA), seu grupo afiliado mais forte.
“É sem dúvida um estado fracassado”, disse Drew Berquist, especialista em contraterrorismo para a comunidade de inteligência dos EUA e fundador da OpsLens, um sítio da rede que apresenta comentários diários sobre questões de segurança nacional. “É uma situação perigosa. Nós recuamos, e nossa presença é muito menor do que deveria ser.”
“Vemos isso repetidamente”, disse ele. “Você dá às pessoas tempo e espaço para planejarem e operarem, eles ganham controle, e apresentam maiores ameaças para o Ocidente e outros.”
Foco renovado
A divisão militar americana SEAL Team 6 invadiu um complexo terrorista no Iêmen em 29 de janeiro, numa das poucas operações terrestres dos EUA no país e o primeiro ataque contra o terrorismo conduzido sob o governo Trump. O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, disse numa reunião de esclarecimento em 7 de fevereiro que o ataque foi para recolher informações de inteligência.
A missão teve problemas, no entanto. William “Ryan” Owens, um comando SEAL, foi morto por terroristas e um avião de 75 milhões de dólares foi destruído. A equipe conseguiu capturar a informação de inteligência visada.
O presidente Donald Trump elogiou a missão e Owens, dizendo num discurso ao Congresso em 28 de fevereiro, “Ryan morreu como viveu, um guerreiro e um herói, lutando contra o terrorismo e pela segurança de nossa nação.”
Informações adicionais sobre o ataque também foram reveladas pelo Washington Times. Este citou uma revisão dos resultados da operação, que afirmou que a missão não foi comprometida como inicialmente circulado na mídia, mas que “o inimigo estava mais preparado para lutar do que o esperado” e que “mulheres num edifício surpreenderam os comandos quando dispararam armas”.
A matéria revelou que uma casa no complexo terrorista tinha sido reservada para familiares dos terroristas e não tinha sido considerada uma grande preocupação. Essa percepção mudou, no entanto, quando “mulheres pegaram em armas e começaram a disparar”.
As tropas depararam-se então com a escolha entre potencialmente serem mortos ou responderem às mulheres que atiravam contra eles.
“Essas [missões] nem sempre são simples”, disse Berquist, observando que “as pessoas nem sempre ouvem sobre isso”.
Sobre as críticas, ele disse: “Acho que isso é em grande parte devido ao fato de que foi a primeira ação do tipo sob Trump, então é algo que pode ser desconstruído e usado para atacá-lo.”
Imediatamente após a missão, o governo iemenita supostamente recingiu a permissão para as Forças de Operações Especiais dos EUA conduzirem missões terrestres contra suspeitos de terrorismo, de acordo com o New York Times, citando funcionários estadunidenses não identificados.
A CNN informou em 14 de março, citando também uma fonte não identificada, que Trump concedeu autoridade adicional ao Pentágono para realizar investidas na Somália e na Líbia. Não ficou claro se isso inclui missões terrestres, ou se se limita a ataques de aviões não tripulados, embora a mídia britânica Independent tenha informado que os militares norte-americanos realizaram 40 ataques aéreos no Iêmen entre 1º e 15 de março.
Pelo andar da carruagem, Bunker disse que é provável que os Estados Unidos continuem a realizar missões no Iêmen visando inteligência específica ou terroristas, mas ele não acredita que essa intervenção se transformará numa operação em larga escala.
“Há potencial para operações esporádicas de tropas de operações especiais dos EUA no Iêmen com a finalidade de atingir objetivos limitados, mas eu não vejo a possibilidade de operações terrestres em escala total”, disse ele.