Por Andrew Thomas
A Segunda Guerra Civil Sudanesa ceifou aproximadamente 2 milhões de vidas e deslocou cerca de 4 milhões de pessoas. Este homem fez uma jornada incrível, mal conseguindo sobreviver, mas anos depois ele retornou em circunstâncias muito diferentes.
Manyang Reath Kher cresceu no sul do Sudão durante a Segunda Guerra Civil Sudanesa que devastou o nordeste da África entre 1983 e 2005. Ele e sua família viviam longe o suficiente ao sul, achando que a guerra não os alcançaria.
No entanto, um dia, quando Kher tinha apenas 3 anos de idade, a guerra chegou à sua aldeia.
Soldados do governo sudanês vieram em busca de rebeldes.
Uma das primeiras memórias de Kher é estar sendo separado de sua mãe. Ela disse que ele iria ficar com seu tio, mas ele ainda não estava seguro lá.
Soldados do governo invadiram a aldeia quando Kher e seu tio fugiram.
O tio de Kher levou-o através do rio conseguindo assim mantê-lo em relativa segurança, mas foi baleado antes de chegar ao outro lado. Mesmo ferido ele conseguiu levar Kher para a outra margem.
“Ele morreu naquela guerra do Sudão. Essa foi a última vez que o vi ”, disse Kher ao Epoch Times.
Havia amigos da família esperando do outro lado do rio para ajudá-lo. Infelizmente, Kher estava longe de estar seguro.
Aviões militares lançaram bombas nos campos, forçando muitos deles a saírem e recuarem para sua casa no Sudão, deixando para trás um lugar devastado pela guerra. Foi uma viagem de 3 semanas de volta da Etiópia para a fronteira do Sudão do Sul.
Muitos não sobreviveram aos ataques nos campos. Outros morreram em tentativas de cruzar rios sob chuvas fortes. As doenças causadas pela desnutrição e pelo esgotamento fizeram com que muitas delas não completassem sua jornada.
Soldados continuaram a perseguir os aldeões do outro lado do rio, e as famílias pediam às crianças que fugissem para sua própria segurança.
“Muitas crianças foram expulsas da aldeia porque os pais não querem que sejam mortas”, lembrou Kher.
Kher tornou-se um dos “The Lost Boys”, grupo com cerca de 27 mil crianças fugindo da guerra civil.
Ele e outras crianças refugiadas viajaram durante um mês até conseguir chegar ao primeiro campo de refugiados.
Kher era tão jovem que não consegue se lembrar com precisão, mas estima que seu grupo levou pelo menos um mês, viajando quase 1.000 milhas a pé para chegar ao primeiro acampamento na vizinha Etiópia.
“Onde estamos indo?” Kher se lembrou de pensar.
Soldados do governo continuavam a atirar e a matá-los ao longo do caminho. Alguns refugiados morreram de fome. Outros foram mortos por animais selvagens. Alguns simplesmente não conseguiam continuar andando.
Apenas cerca de 20 mil refugiados chegaram aos campos.
Kher e os outros refugiados estavam longe da salvação. Apesar de terem chegado a um campo de refugiados, as condições não eram muito boas.
“Foi uma triste realidade. Você recebe uma refeição por dia da U.N. Não há higiene, não há assistência médica, não há educação. Não há cuidado. Você perde tudo”, lembrou Kher sobre o primeiro acampamento.
Nos 13 anos seguintes, Kher viajaria e viveria em mais dois campos de refugiados ao longo da fronteira etíope-sudanesa. Muitos refugiados morreram nos campos. Um dia, Kher quase morreu também.
No meio da noite, enquanto ele dormia, ele foi picado na mão por uma cobra. Mas o fato acabou sendo uma benção mista.
“A cobra quase me matou, mas me ajudou ao mesmo tempo”, lembrou ele.
A Organização Mundial da Saúde o levou a um hospital da ONU, onde as condições eram muito melhores do que no campo.
Kher ficou no hospital por quase um ano.
“Minha vida vai ser uma vida de campo de refugiados para sempre? Eu vou ficar aqui toda a minha vida?”, Kher lembrou de pensar consigo mesmo.
Felizmente, Kher teve uma oportunidade de sair.
A ONU pediu-lhe para fazer uma entrevista a fim de verificar como poderiam ajudá-lo. Ela tentava tirar as crianças particularmente vulneráveis do campo de refugiados e reinstalá-los nos Estados Unidos, e eles tinham ouvido falar da experiência da picada de cobra de Kher.
Ele estava compreensivelmente apreensivo.
“Eu estava com medo porque passei minha vida inteira sozinho. E então eu vou ser enviado para outro continente que fica tão longe”, explicou Kher. “Eu estava com medo da morte”.
Kher deixou o campo de refugiados em 2005, aos 16 anos. Quando chegou aos Estados Unidos, foi alojado junto com um grupo pelos próximos dois anos em Richmond, Virgínia.
Embora morar com outras pessoas não fosse o ideal, foi uma grande melhoria em relação ao campo de refugiados onde ele passou a maior parte de sua vida.
“Lá Você tinha banho quente. Você tinha uma cama limpa. Você podia ver uma paisagem agradável quando saía. Você podia caminhar até o shopping. Você recebia educação. Você ficava feliz porque via coisas diferentes do que normalmente via”, explicou Kher.
Kher ganhou uma bolsa de estudos para a Universidade de Richmond. Ele gostava da faculdade e se saiu muito bem nos estudos.
Em 2015, formou-se em ciências políticas e negócios internacionais.
Em 2016, Kher começou sua própria empresa de café chamada 734 Coffee. Ele não se tornou apenas um homem de negócios experiente, ele também era defensor dos refugiados.
O café produzido e comercializado por Kher é originário da região da Etiópia, onde ele passou a maior parte de sua infância como refugiado, e 80% dos lucros são destinados a bolsas de estudos para refugiados sudaneses.
Grato por seu sucesso, ele quer inspirar outros refugiados a buscar o empreendedorismo também.
“Refugiados podem fazer isso. Eles podem abrir uma empresa. Eles podem ter sucesso”, disse ele.