A guerra contra o terrorismo está mudando de forma, passando dos campos de batalha para os tribunais, e de balas para as finanças que possibilitam os ataques terroristas.
No Afeganistão, em 19 de novembro, as forças militares dos EUA bombardearam 10 supostas fábricas de produção de ópio do Talibã. De acordo com o jornal militar Stars and Stripes, foi “o primeiro uso significante das novas autoridades aprovadas pela Casa Branca para atacar o fluxo de receita dos insurgentes”.
Essas ações baseiam-se num método testado e comprovado de combater o terrorismo, que visa colapsar as organizações em suas bases, desabilitando a complexa rede de movimentação de dinheiro, do crime organizado e de operações de fachada de “caridade”.
“Pode-se ver que as organizações atuais estão evoluindo, buscando novas estratégias, novas formas de lutar contra o Ocidente; e temos de contra-atacar de forma semelhante, temos de pensar fora dos parâmetros convencionais”, disse Nitsana Darshan-Leitner, presidente da Shurat HaDin, um centro de direito baseado em Tel Aviv que representa as famílias de vítimas do terrorismo.
De acordo com Darshan-Leitner, o método de atacar o fluxo financeiro vital dos grupos terroristas é um dos métodos mais bem sucedidos usados por Israel, e os israelenses têm auxiliado os Estados Unidos e seus aliados a empregarem essa abordagem.
Ela apresenta a história da operação do Mossad, o serviço de inteligência de Israel, por trás desta estratégia em seu novo livro, “Harpoon: Inside the Covert War Against Terrorism’s Money Masters“, em coautoria com o autor e documentarista nova-iorquino Samuel M. Katz.
O método foi desenvolvido pelo ex-diretor do Mossad, o falecido Meir Dagan, apelidado de “Rei das Sombras”. Em 1996, ele formou o grupo Harpoon (ou Arpão) como uma força-tarefa de contraterrorismo financeiro, composta de soldados, agentes especiais, hackers, contadores e advogados.
Darshan-Leitner disse numa entrevista por telefone que o Harpoon tinha um objetivo: “ir e sufocar o oxigênio que impulsiona as organizações terroristas”, que foi incorporado no slogan da agência como “seguir o dinheiro, atacar o dinheiro e matar o dinheiro”.
“Israel viu o que os outros não enxergaram, que o dinheiro é a fonte do terrorismo, e que se você pode parar o fluxo do dinheiro, você pode parar o fluxo do terrorismo”, disse ela.
Não demorou muito para que os agentes israelenses estivessem batendo nas portas das agências dos EUA para informá-los sobre as redes de financiamento do terrorismo nos Estados Unidos. Essas incluíam instituições de caridade administradas pelo grupo terrorista Hamas para financiar seus ataques e uma operação do Hezbollah envolvendo falsificação de produtos que acumulou cerca de 50 milhões de dólares.
“Mas todos ignoraram isso”, disse Darshan-Leitner. O foco então estava nos terroristas que organizavam e realizavam os ataques, e não nos facilitadores financeiros.
“Todos visaram os combatentes, todos atacaram seus centros operacionais, os lugares onde eles esconderam seus mísseis ou de onde os lançaram”, disse ela, “mas ninguém pensou em ir atrás do financiamento.”
A atitude mudou, no entanto, após os ataques terroristas em 11 de setembro de 2001, e ficou claro que a guerra contra o terror não era apenas um problema israelense. E logo, os Estados Unidos estavam colaborando com os experientes israelenses para ver como eles combatiam o terrorismo.
“Israel e os Estados Unidos aprenderam há muito tempo que não há trabalhos de colarinho branco nas organizações terroristas; que, se você movimenta dinheiro, você se torna um alvo”, disse Darshan-Leitner.
O método tem sido fundamental para reduzir os ataques da Autoridade Palestina e da anterior Organização para a Libertação da Palestina. As organizações terroristas compensam as famílias de pessoas que realizam ataques suicidas contra israelenses e, quanto mais pessoas elas matam, mais elas são pagas.
“Se os terroristas sabem que, uma vez que eles se explodam, não haverá ninguém para cuidar de suas famílias, eles realmente considerarão se devem fazer isso ou não”, disse Darshan-Leitner. “Muito desse financiamento incentiva os terroristas a realizarem ataques.”
Durante o conflito entre Israel e Gaza de 2014, o Hamas ficou sem créditos e as famílias de combatentes reclamaram do grupo terrorista sobre a falta de pagamento. Darshan-Leitner disse: “Eles ficaram desesperados, então, eventualmente, o Hamas enviou os homens do dinheiro ao Irã, eles lhes deram 13 milhões de dólares em maletas, e então Israel atacou a pessoa, disparando mísseis em seu carro, e o abateu.”
Logo que o dinheiro foi perdido, o Hamas negociou um cessar-fogo com Israel.
Guerra financeira
O Harpoon usou abordagens semelhantes para impedir o Irã de desenvolver armas nucleares. Meir Dagan considerou um ataque militar num sistema nuclear como último recurso e, em vez disso, destacou opções preventivas de curto prazo contra uma guerra, incluindo sanções financeiras, pressão diplomática, ataques cibernéticos e, por fim, o assassinato específico de cientistas nucleares iranianos.
De acordo com Samuel M. Katz, esses métodos estão rapidamente se tornando a nova face da guerra. Ele disse numa entrevista por telefone: “O interessante sobre a guerra é quando alguém cria um novo nível, uma nova dimensão, como as campanhas convencionais e não convencionais são criadas.”
Ele observou que a história de Meir Dagan e outros que desenvolveram os novos métodos de guerra merecem uma análise atenta. “Estes foram indivíduos que passaram suas vidas lutando nas guerras de Israel, lutando contra o terrorismo.”
Algumas operações trataram de questões que não eram tão simples quanto parecem na superfície. Ele observou que, quando o Harpoon rastreou as finanças do Hamas às organizações de caridade, muitas delas com sede nos Estados Unidos, as instituições de caridade frequentemente estavam prestando serviços aos seus cidadãos que o Hamas se recusava a fornecer.
No entanto, embora o Hamas mantivesse suas inciativas caritativas e militantes separadas, observou Katz, a ajuda aos civis tinha um preço, e “o preço da lealdade a esta organização era travar uma ‘guerra santa’, e era uma ‘guerra santa’ que resultou em inúmeros atentados suicidas contra civis israelenses”.
Ele disse que as ações do Harpoon para deter o fluxo de finanças “se tornaram uma ferramenta bem sucedida” para acabar com muitas campanhas terroristas do Hamas e do Hezbollah.
Os novos métodos também abriram novas formas de compreender as ameaças e como preveni-las. Com os atentados suicidas, Katz observou que as pessoas que realizam os ataques raramente são as únicas envolvidas. Por trás dos terroristas-suicidas há organizadores militares que pagam os construtores das bombas, há dinheiro necessário para instalações e equipamentos para criar as bombas, e também há dinheiro necessário para compensar as famílias dos terroristas.
Se as finanças são removidas da equação, todo o sistema se desvenda. Isso não pode impedir as ações de indivíduos isolados e automotivados, disse Katz, mas “as células terroristas bem-financiadas, secretas e altamente capazes que são patrocinadas do estrangeiro é algo que a campanha financeira tem sido capaz de restringir”.
“Há muito dinheiro a ser feito no terror”, disse Katz. “Eu acho que um dos erros que os governos cometeram relacionado ao terror é que eles olham a ideologia ou o fim religioso, e não o negócio.”
Ele disse que seria prudente olhar o terror “como um empreendimento criminoso que poderia ser derrotado por meio do dinheiro”.