Guaidó pede ajuda internacional após Maduro bloquear ajuda humanitária enviada à Venezuela

Tropas de Maduro incendiaram dois caminhões carregados de comida e remédios e forçaram outros a voltarem aos armazéns na Colômbia, depois que os cidadãos voluntários de Guaidó não conseguiram romper o bloqueio

25/02/2019 19:55 Atualizado: 25/02/2019 19:59

Por Ivan Pentchoukov

Tropas leais ao ditador socialista Nicolás Maduro expulsaram violentamente os comboios de ajuda externa das fronteiras da Venezuela em 23 de fevereiro, condenando os Estados Unidos e levando o presidente interino Juan Guaidó a propor que a comunidade internacional considerasse “todas as opções” para garantir a segurança e liberdade da nação empobrecida.

As tropas de Maduro incendiaram dois caminhões carregados de comida e remédios e forçaram outros a voltarem aos armazéns na Colômbia, depois que os cidadãos voluntários de Guaidó não conseguiram romper o bloqueio. As tropas dispersaram multidões em várias passagens de fronteira e cidades com munição real, gás lacrimogêneo e balas de borracha, matando dois manifestantes e ferindo centenas de pessoas.

O grupo de direitos humanos, Fórum Penal, informou que registrou 29 feridos de balas e duas mortes na Venezuela em confrontos com soldados no dia 23 de fevereiro. Autoridades colombianas disseram que registraram 285 pessoas feridas, incluindo pessoas afetadas por gás lacrimogêneo.

“Os acontecimentos de hoje me obrigam a tomar uma decisão: a de propor formalmente à comunidade internacional que devemos ter todas as opções em aberto para garantir a liberdade de nosso país que está lutando e continuará a lutar”, escreveu Guaidó no Twitter. “A esperança nasceu para não morrer, Venezuela!”

Os Estados Unidos foram os primeiros a reconhecer Guaidó como o líder legítimo do pais, quando ele invocou a constituição para assumir uma presidência interina no mês passado. Mais de 50 nações do mundo livre reconhecem Guaidó, enquanto alguns dos atuais e antigos regimes comunistas e socialistas apoiaram Maduro.

O presidente Donald Trump alertou os membros das forças armadas venezuelanas que eles podem perder tudo se prejudicarem seus compatriotas e continuarem do lado de Maduro. Trump também disse que a intervenção militar é uma das opções na mesa.

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, condenou a violência e o bloqueio de ajuda e, em 23 de fevereiro, disse que os Estados Unidos tomarão medidas contra aqueles “que se opõem à restauração pacífica da democracia na Venezuela”.

“Denunciamos a recusa de Maduro em permitir que a assistência humanitária chegue à Venezuela. Que tipo de tirano doente impede a comida de chegar a pessoas famintas? As imagens de caminhões em chamas cheios de ajuda são repugnantes”, escreveu Pompeo no Twitter. “Enquanto Guaidó lidera o esforço para levar a ajuda ao povo, Maduro envia gangues armadas para atacar civis inocentes”.

Guaidó havia dado uma despedida pessoal a um comboio que transportava ajuda da cidade colombiana de Cúcuta, em 23 de fevereiro. Os voluntários de Guaidó esperavam que as tropas de Maduro recusassem o fornecimento desesperadamente necessário no país, onde milhões sofrem de desnutrição e doenças tratáveis.

Imagens de televisão de uma passagem de fronteira mostraram uma unidade feminina das forças de Maduro bloqueando a passagem para impedir o comboio de ajuda. Algumas das mulheres pareciam se desmanchar em lágrimas quando os voluntários imploraram que elas permitissem que a ajuda prosseguisse.

As forças de Maduro atearam fogo em dois caminhões de ajuda no ponto de fronteira de Urena, enviando fumaça no ar enquanto multidões corriam para tentar salvar as caixas de suprimentos.

Guaidó disse que participaria de uma reunião do Grupo Regional de Lima, em Bogotá, no dia 25 de fevereiro, com o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, e eles decidiriam mais ações para aumentar a pressão sobre Maduro.

“Hoje o mundo viu em minutos, em horas, a pior face da ditadura venezuelana”, disse Guaidó em entrevista coletiva anterior na Colômbia, ao lado do presidente colombiano Ivan Duque.

Irritado com o apoio de Duque para Guaidó, Maduro disse que ele estava quebrando relações diplomáticas com Bogotá e deu ao seu pessoal diplomático 24 horas para deixar o país.

Maduro, cujas políticas socialistas aleijaram o país outrora rico em petróleo, nega que sua nação precise de ajuda. Washington alertou que poderia tentar impor novas e duras sanções à Venezuela na cúpula de 25 de fevereiro, caso Maduro bloqueasse as remessas de ajuda.

Testemunhas disseram que homens mascarados em trajes civis também dispararam contra manifestantes com munição real. Pompeo observou que os ataques foram perpetrados por agentes cubanos em nome de Maduro. Em uma repreensão pouco velada à China e à Rússia, Bolton perguntou como esses países poderiam apoiar tal comportamento.

“Bandidos mascarados, civis mortos e a queima de caminhões que transportavam alimentos e remédios muito necessários”, disse Bolton no Twitter. “Esta tem sido a resposta de Maduro aos esforços pacíficos para ajudar os venezuelanos. Países que ainda reconhecem Maduro devem tomar nota do que eles estão endossando tudo isso”.

Os Estados Unidos consideram Maduro um fantoche do regime comunista em Cuba. Mais de 90.000 representantes cubanos estão incorporados no governo de Maduro. Os comunistas em Havana também mobilizaram mais de 20.000 funcionários da força de segurança para a Venezuela, para apoiar Maduro.

‘Liberdade’

Nas cidades fronteiriças venezuelanas de San Antonio e Urena, as tropas dispararam tiros de borracha contra partidários da oposição, inclusive legisladores, que caminhavam em direção à fronteira, agitando bandeiras venezuelanas e cantando “liberdade”.

Imagens de televisão de San Antonio, mostraram uma dúzia de homens em motocicletas, vestidos de preto e usando balaclavas, disparando com espingardas e pistolas contra uma multidão.

Manifestantes em Urena barricaram ruas com pneus em chamas, incendiaram ônibus e atiraram pedras contra as tropas para exigir que Maduro permitisse ajuda em um país devastado por um colapso que reduziu pela metade o tamanho de sua economia em cinco anos.

“Eles começaram a atirar de perto como se fôssemos criminosos”, disse o lojista Vladimir Gomez, 27 anos, vestindo uma camisa branca manchada de sangue.

Pelo menos seis dos cerca de uma dúzia de caminhões que tentaram chegar à Venezuela depois voltaram para Cúcuta, onde a agência de gerenciamento de desastres da Colômbia disse que eles seriam descarregados e o auxílio armazenado até que Guaidó solicitasse seu uso novamente.

O governador de Porto Rico, Ricardo Rossello, disse que ordenou que um navio porto-riquenho levando ajuda humanitária voltasse atrás depois que um navio da Marinha venezuelana ameaçou abrir fogo contra ele.

“Isso é inaceitável e vergonhoso”, disse Rossello em um comunicado. “Também notificamos nossos parceiros no governo dos Estados Unidos sobre esse grave incidente.”

Na cidade de Santa Elena de Uairen, no sul do país, pelo menos duas pessoas foram mortas em confrontos com forças de segurança, segundo um médico do hospital onde foram tratadas. Em 22 de fevereiro, um casal em uma comunidade indígena próxima foi morto a tiros pelas forças de segurança.

Dezenas de defeitos

Guaidó havia apelado às forças armadas da Venezuela para que se afastassem e permitissem a entrega da ajuda, prometendo anistia aos policiais que negassem a autoridade de Maduro. Dezenas de soldados, cujas famílias sofrem a mesma escassez que outros venezuelanos, aceitaram a oferta.

“Você não deve obediência a alguém que sadicamente celebra que a ajuda humanitária não entra em um país que precisa dela”, disse Guaidó.

Um vídeo nas mídias sociais mostrou tropas que abandonaram seus postos dirigindo veículos blindados através de uma ponte que ligava a Venezuela à Colômbia, derrubando barricadas metálicas e depois pulando para fora dos veículos e correndo para o lado colombiano.

“O que fizemos hoje, fizemos pelas nossas famílias, pelo povo venezuelano”, disse um dos desertores em um vídeo televisionado por um programa de notícias colombiano.

Luke Taylor em Cúcuta, na Colômbia e a Reuters contribuíram para este artigo.

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