Em uma França impregnada de agitação social e econômica, a esquerda francesa convocou neste domingo dezenas de milhares de manifestantes em um ato realizado em Paris para pressionar mais o governo de Emmanuel Macron, que terá uma semana tensa pela frente.
Organizada pelo movimento político França Insubmissa (LFI), de Jean-Luc Melenchon, e apoiada pelo resto das legendas de esquerda e por personalidades como a nova vencedora do Prêmio Nobel de Literatura Annie Ernaux, a manifestação parisiense é fruto do crescente descontentamento francês.
A escassez de combustível em vários pontos do país devido à greve nas refinarias; a erosão do poder de compra devido à alta inflação; e uma provável aprovação do plano de Orçamento do Governo para 2023 sem debate, na via rápida, obscureceram o ambiente no país.
E dentro de dois dias será a vez dos sindicatos, que planejam uma “mobilização interprofissional” na terça-feira, quando vários setores-chave poderão ficar paralisados.
Os números sobre o número de manifestantes neste domingo diferem. Os organizadores estimaram 140 mil, enquanto as autoridades reduziram para 30 mil.
“O inegável sucesso desta marcha nos dá coragem e esse choque terá um impacto nas instituições”, disse Melenchon, que vê Macron “ofegante” e com sérios problemas para continuar governando.
Muito criticado nas últimas semanas por sua atitude branda em relação a um caso de violência doméstica cometido por seu ex-número dois da LFI, o líder de esquerda havia convocado essa marcha contra o elevado custo de vida e as mudanças climáticas, mas a possível dissolução da Assembleia tornou-se um dos principais temas.
O governo de Macron, sem maioria absoluta no Parlamento, pode sofrer uma moção de censura da oposição se acelerar o plano orçamentário para 2023 através do artigo 49.3 da Constituição.
Melenchon e a extrema-direita Marine Le Pen, que representam as duas principais forças de oposição, anunciaram que apresentarão moções contra o governo caso ele use o artigo.
“Um problema europeu”
Entre os manifestantes, havia gente de fora da França, como o deputado da região belga da Valônia John Beugnies, do Partido do Trabalho (PTB).
“Este não é um problema belga ou francês, é um problema europeu. É importante ter vindo aqui para que esse movimento seja ampliado e os de cima nos ouçam e não nos deixem apenas as migalhas”, disse à Agência EFE.
Na manifestação, considerada de alto risco, estavam cerca de 2 mil militares, entre gendarmes e policiais, preocupados sobretudo com a presença de algumas centenas de movimentos de ultra-esquerda, como a “Ação Antifascista” e os Coletes Amarelos.
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