Grande número de norte-coreanos tenta fugir do país no ano novo

11/01/2018 16:42 Atualizado: 12/01/2018 22:53

Aumentou significativamente o número de norte-coreanos que tentaram fugir do Estado-prisão durante o ano novo, esperando que a segurança fosse relaxada durante as celebrações, de acordo com fontes na província de Ryanggang, no Nordeste da Coreia do Norte.

Muitos deles foram presos.

As tentativas de deserção do isolado reino têm crescido sob o regime de Kim Jong-un desde 2012, enquanto a segurança de fronteiras foi aumentada, reduzindo drasticamente o número de norte-coreanos que conseguiram escapar pela China, de acordo com o governo sul-coreano.

Mas, de acordo com as fontes norte-coreanas contatadas pelo Daily NK, um serviço de notícias baseado em Seul e especializado em alcançar fontes dentro da Coreia do Norte e norte-coreanos na China, o número de prisões saltou durante os feriados de fim do ano quando os norte-coreanos que tentavam atravessar a fronteira foram capturados.

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Diferentemente do soldado que escapou através da Zona Desmilitarizada (DMZ) no final de 2017, sendo baleado cinco vezes no processo, a maioria dos norte-coreanos foge através da fronteira muito mais levemente protegida com a China, ao invés da fronteira fortemente fortificada com a Coreia do Sul.

O regime comunista da China tem sido criticado por grupos de direitos humanos durante décadas devido ao repatriamento forçado de norte-coreanos que fugiram. Deixar a Coreia do Norte sem permissão é considerado um crime grave e frequentemente resulta em prisão nos severos campos de trabalho do regime.

De acordo com fontes que falaram com o Daily NK, as tentativas de deserção aumentaram recentemente, resultando no aumento das prisões.

“Duas famílias, 10 pessoas no total, foram presas perto de onde a China encontra-se com as fronteiras das províncias de Ryanggang e Jagang. Eles achavam que a segurança ficaria mais relaxada devido ao feriado de ano novo, e então tentaram atravessar para a China às 3h da madrugada em 1º de janeiro, mas não foram bem-sucedidos”, disse uma fonte na província de Ryanggang, no Nordeste da Coreia do Norte, ao Daily NK em 7 de janeiro.

As forças fronteiriças da Coreia do Norte foram aumentadas, juntamente com o uso de informantes para identificar os residentes que estão considerando fugir do país, disse a fonte.

Algumas famílias tentam evitar que as autoridades descubram seus planos de deserção pelo maior tempo possível enquanto fingem estar migrando dentro da Coreia do Norte.

Uma família disse aos vizinhos que estavam saindo para trabalhar nos mercados de outra região, disse a fonte, mas na verdade eles se esconderam em outra casa por pouco mais de uma semana antes de tentarem atravessar a fronteira na véspera do ano novo.

Eles foram presos enquanto tentavam atravessar o Rio Yalu para a China.

A pressão para reduzir os cruzamentos fronteiriços não controlados aumentou em toda a Coreia do Norte, afetando os contrabandistas e os futuros desertores.

O resultado foi uma queda dramática no número de norte-coreanos que buscam refúgio na Coreia do Sul e a quase extinção dos pequenos contrabandistas que supriam os mercados negros da Coreia do Norte.

Coreia do Norte, Kim Jong-un, Coreia do Sul, China, deserção, ano novo - Agricultores norte-coreanos trabalham nos campos perto de Sinuiju (Johannes Eisele/AFP/Getty Images)
Agricultores norte-coreanos trabalham nos campos perto de Sinuiju (Johannes Eisele/AFP/Getty Images)

Enquanto esses contrabandistas operavam num status pseudolegal, pagando subornos a soldados e funcionários ao longo da fronteira, as diretrizes rígidas de Kim Jong-un e as punições maiores para os cruzamentos fronteiriços não autorizados têm assustado os guardas de fronteira prevenindo-os de aceitarem esses subornos, informou o Japan Times.

Enquanto o contrabando continua, ele está amplamente limitado a poucas grandes empresas chinesas, de acordo com o Japan Times.

Para o norte-coreano comum, o cruzamento da fronteira tornou-se muito mais difícil.

De acordo com o Daily NK, as autoridades do partido central colocaram maior pressão sobre os quadros de baixo escalão para reprimirem futuras travessias da fronteira.

“Os residentes estão ouvindo avisos da polícia e dos líderes inminban [das unidades populares, ou de vizinhança] que estão alertando para terem cuidado mesmo quando coletam água ou lavam suas roupas no rio perto de pontos comuns de deserção”, disse a fonte.

A polícia também aumentou as buscas em residências que parecem estar vazias, num esforço para descobrir desertores que ainda possam estar a caminho da China.

“As autoridades de fronteira parecem extremamente ocupadas ultimamente, já que o número de prisões daqueles que fazem tentativas de deserção aumentou ao longo do ano passado. Especificamente, houve um aumento de pelo menos 150% nas prisões em relação ao mesmo período do ano passado na província de Ryanggang”, afirmou a fonte.

Cerca de 30 a 40 pessoas foram presas em janeiro do ano passado, segundo a fonte, enquanto 20 pessoas foram presas apenas em 1º de janeiro deste ano.

A Coreia do Sul divulgou no final de 2017 que o número de refugiados da Coreia do Norte caiu continuamente desde 2012, coincidindo com o aumento do poder de Kim Jong-un e a intensificação dos controles nas fronteiras.

Em 2017, o número de refugiados norte-coreanos que chegou à Coreia do Sul caiu para 1.127, uma queda de 21% dos 1.418 em 2016, de acordo com dados preliminares do Ministério da Unificação da Coreia do Sul, informou The Korea Herald.

Esse número é menos da metade do volume de 2011.

A vigilância da fronteira aumentou sob o novo regime de Kim Jong-un, assim como os esforços da China para capturar os norte-coreanos que tentam atravessar para a China. Reportagens da China indicam que houve aumento de suas patrulhas, vigilância e prisões ao longo da fronteira.

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