O governo da Argentina “não tem opinião” sobre os encontros realizados na segunda-feira (15) pelo embaixador do Brasil em Buenos Aires, Julio Bitelli, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com seu chanceler, Mauro Vieira, para discutir a tensa relação com o Executivo de Javier Milei.
“É uma questão de questões diplomáticas do país irmão. É uma questão deles sobre a qual não temos opinião, portanto não há muito a dizer”, comentou nesta terça-feira o porta-voz da presidência argentina, Manuel Adorni, em sua habitual coletiva de imprensa na Casa Rosada, sede do governo argentino.
O porta-voz respondeu assim às perguntas dos jornalistas sobre a notícia divulgada na segunda-feira a respeito da viagem do diplomata brasileiro a Brasília.
“Acho que o embaixador estará de volta à Argentina na próxima semana”, afirmou brevemente Adorni.
Fontes oficiais explicaram à Agência EFE no Brasil que a intenção dos encontros foi analisar “o melhor caminho” para que a tensão gerada pelas acentuadas diferenças ideológicas que separam Lula e Milei não se transfira para as relações entre os dois países.
As mesmas fontes esclareceram que não se trata de uma “chamada para consultas”, que na diplomacia é utilizada para expressar claro desconforto, mas que a intenção era conversar com o embaixador sobre como “conduzir a relação da melhor forma”.
Bitelli, que permanecerá em Brasília “por alguns dias”, reuniu-se na segunda-feira com Vieira e depois ambos estiveram com Lula em um almoço oferecido pelo governo brasileiro ao presidente da Itália, Sergio Mattarella, que se encontra em visita oficial ao Brasil.
A viagem do embaixador a Brasília ocorre dez dias depois de Milei ter feito a primeira visita ao Brasil desde que assumiu o poder na Argentina, em dezembro do ano passado, embora não tenha sido para se encontrar com Lula ou qualquer membro do governo.
Essa visita teve um caráter privado e foi para participar da CPAC (Conferência da Ação Política Conservadora), organizada na cidade de Balneário Camboriú, onde se encontrou com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
As relações entre os dois são nulas desde que Lula manifestou apoio na campanha eleitoral ao candidato peronista Sergio Massa, ao que Milei respondeu chamando o brasileiro de “corrupto” e “comunista”.
Antes da viagem do presidente argentino ao Brasil, Lula disse que ainda não havia tido contato com Milei porque espera que ele peça desculpas, tanto a ele quanto ao Brasil, por essas declarações.
No entanto, o líder argentino respondeu imediatamente que não iria pedir perdão, pois apenas disse “a verdade”.
Milei também esteve ausente da última Cúpula do Mercosul, realizada em Assunção no início de julho, em uma ausência questionada tanto por Lula como por seus homólogos de Bolívia, Uruguai e Paraguai.