Os protestos eclodiram em Buenos Aires nos últimos 90 dias e continuam a crescer dentro da capital, enquanto a população luta contra seu governo de centro-esquerda pelas mudanças nos programas sociais.
Os cortes nos subsídios no setor de energia com base na renda familiar começaram em junho.
Outros subsídios, incluindo o notório programa de bem-estar social do país, também estão no limite, levando milhares de cidadãos enfurecidos às ruas.
A ajuda do Estado para a população disparou nos últimos 20 anos, deixando 22 milhões de argentinos dependentes de alguma forma de assistência governamental.
No primeiro trimestre de 2022, a taxa de emprego nacional foi de 43%, segundo dados do governo.
Os programas financiados pelo Estado do país se estendem a quase todos os aspectos da economia, de salários a serviços públicos, educação e cuidados de saúde.
A Argentina já gasta cerca de 800 milhões de pesos por dia – uma soma de mais de US $6 milhões – em programas de benefícios estatais.
Ao mesmo tempo, a inflação no país sul-americano atingiu 58% em maio e subiu acima de 60% em julho. Em comparação, a inflação nacional foi de pouco mais de 14% em 2015.
Harry Lorenzo, diretor financeiro da Income Based Research, disse ao Epoch Times americano, que os hábitos de gastos do governo argentino são a raiz do problema que só tende a crescer.
“O governo argentino está às voltas com uma economia em colapso há algum tempo. A principal razão para isso são os gastos insustentáveis do governo, que foram financiados em parte por programas generoso de assistência social”, explicou Lorenzo.
Aprofundando no caos econômico
Gritos por mais dinheiro do Estado, liberdade do Fundo Monetário Internacional (FMI) e pela renúncia do presidente Alberto Fernández ecoaram entre as multidões enfurecidas reunidas perto do escritório do presidente – Casa Rosada – durante a celebração do dia da independência do país em 9 de julho.
Desde então, as manifestações programadas continuaram, lideradas por organizadores profissionais de protestos ou “piqueteiros” exigindo a abolição dos cortes de subsídios propostos e um aumento salarial.
“Isso é loucura. O que os piqueteros estão pedindo é loucura”, disse Alvaro Gomez ao Epoch Times americano.
Gomez vive e trabalha em Buenos Aires há mais de 15 anos e atualmente é taxista. Com o passar dos anos, ele viu seu país mergulhar cada vez mais fundo no caos econômico.
“Vi cinco presidentes entrarem e saírem nesse período; nada melhorou. Metade das pessoas do nosso país não quer emprego, e os que querem não querem pagar os impostos dos outros”, disse.
O ministro da Economia da Argentina e aliado próximo de Fernández, Martin Guzman, renunciou ao cargo em 2 de julho em meio a queixas de que conflitos internos o impediam de fazer seu trabalho.
Guzmán foi a força motriz por trás de um novo acordo crítico com o FMI. Ele também teria entrado em confronto com a atual vice-presidente e ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner por dois mandatos sobre como tratar a crise econômica.
Kirchner é uma defensora fiel dos subsídios e já havia denunciado a dependência da Argentina ao FMI.
Em resumo, metade da coalizão governante quer mais resgates estrangeiros como solução para os cofres falidos e a inflação.
A outra metade quer manter os programas sociais existentes e ser independente da ajuda externa enquanto aumenta os impostos sobre uma população cada vez mais empobrecida.
Atualmente, algumas partes da Argentina têm mais de 40% de sua população vivendo abaixo da linha da pobreza.
Baixa confiança do investidor
Kirchner chamou a renúncia repentina de Guzmán de “um imenso ato de irresponsabilidade política” durante uma entrevista coletiva na província de Santa Cruz.
Fernandez rapidamente nomeou Silvina Batakis em 3 de julho para preencher a lacuna no cargo central.
Sem perder tempo, Batakis se reuniu com a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, em 25 de julho para discutir um possível novo acordo para a dívida pendente de US $44 bilhões do país.
Robert Donnelly, gerente financeiro da Marketplace Fairness, disse ao Epoch Times americano que a dependência da Argentina em ajuda estrangeira não é uma solução, mas mais uma liberação de válvula de pressão econômica de curto prazo.
“Embora isso tenha sido um pouco bem-sucedido, não resolveu o problema subjacente”, disse Donnelly.
Ele explicou que o governo de Fernández pode fazer várias coisas para aliviar a dependência do país de empréstimos externos, como aumentar as exportações e atrair mais investimentos estrangeiros.
Embora com o colapso do peso, inflação alta e nenhuma estratégia clara para qual caminho seguir por parte do governo, a confiança do investidor externo permanece muito baixa.
Lorenzo afirma que os gastos do governo são fundamentais. “Isso envolveria a redução dos programas de bem-estar, que têm sido um dos principais contribuintes para a dívida do país.”
No entanto, para os 1,2 milhão de membros dependentes do programa social “Empower Work” que é um subsídio de renda que proporciona um salário digno por tempo indeterminado, trabalhar em um emprego regular está fora de questão.
“O governo espera que trabalhemos das 8h às 17h pela mesma quantia de dinheiro”, lamentou uma moradora indignada e piquetera de Buenos Aires aos repórteres durante uma transmissão ao vivo.
Quando questionada sobre como ela estava sustentando sua casa, a mulher respondeu: “pelo governo”.
Raiva por ter que trabalhar
Outro manifestante, um homem adulto, também criticou as mudanças propostas no programa de assistência social, dizendo a repórteres locais: “Cristina [Kirchner] nos disse que temos que ir trabalhar em vez de receber benefícios sociais. Ir trabalhar, essa é a política da extrema direita”.
Os manifestantes continuam pedindo mais dinheiro para subsídios ou que Fernandez deixe o cargo.
Enquanto isso, o chefe de Estado em apuros pediu unidade na nação economicamente devastada durante o 206º aniversário da independência do país. No mesmo discurso, Fernandez provocou grupos que atacavam o governo e queriam “manter toda a renda”.
Sobre o aprofundamento da crise econômica do país e a instabilidade resultante, Fernandez disse: “A unidade é sempre fruto da vontade dos envolvidos em consolidá-la”.
“A história nos ensina que é um valor que devemos preservar nos momentos mais difíceis.”
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