Governo canadense aponta intenção do PCC em eliminar dissidentes em comunidades chinesas no exterior

PCC busca eliminar quaisquer ameaças externas ao seu poder, afirma relatório

28/01/2022 16:02 Atualizado: 28/01/2022 16:02

Por Isaac Teo

Da identificação de “inimigos” e monitoramento de dissidentes à manipulação de organizações locais, Pequim está utilizando todos os meios em sua caixa de ferramentas para silenciar aqueles em comunidades chinesas no exterior, inclusive no Canadá, o que é visto como uma ameaça, de acordo com relatório do governo.

O relatório mostrou que a China está ativamente engajada em uma “campanha sistemática de coleta de inteligência, persuasão, influência e manipulação” contra vozes dissidentes por meio de seu Escritório de Assuntos Chineses no Exterior (OCAO).

O OCAO, que o regime chinês afirma “proteger os direitos e interesses legítimos dos chineses no exterior”, foi encarregado de “influenciar ou manipular” os membros da comunidade e usar “táticas coercitivas” contra aqueles que desafiaram o regime, de acordo com o relatório.

“Isso envolve intimidação de chineses no extrangeiro em todos os níveis da sociedade”, afirmou o relatório, de autoria da Agência de Segurança de Fronteiras do Canadá (CBSA), em março de 2020 e obtido pela Global News, que publicou um artigo sobre isso no dia 26 de janeiro.

“O gerenciamento de seu comportamento é realizado por meio de incentivo ou desincentivo, bem como coleta de inteligência, vigilância e subversão contra as comunidades chinesas estrangeiras.”

O relatório da CBSA acrescentou que o Partido Comunista Chinês (PCC) busca eliminar quaisquer ameaças externas percebidas ao seu poder, como os advogados independentes que defendem Taiwan ou o Falun Gong, e depende da OCAO, que está estabelecida “em quase todos os países para fazer a ligação com as comunidades chinesas locais”.

Ativistas pró-independência de Taiwan pedem o referendo em frente à sede do Partido Democrático Progressista, durante uma manifestação em Taipei, no dia 20 de outubro de 2018 (Sam Yeh/AFP via Getty Images)
Ativistas pró-independência de Taiwan pedem o referendo em frente à sede do Partido Democrático Progressista, durante uma manifestação em Taipei, no dia 20 de outubro de 2018 (Sam Yeh/AFP via Getty Images)

Segundo a Global News, o relatório foi divulgado durante um processo judicial recente envolvendo o ex-funcionário da OCAO, Yong Zhang, e sua esposa, Yuxia Gao, a quem foi negada a residência permanente no Canadá quando seu recurso foi indeferido pelo Tribunal Federal no dia 19 de janeiro.

Em sua decisão, a juíza Vanessa Rochester escreveu que, embora o casal tenha sido patrocinado por sua filha, que é cidadã naturalizada, um oficial de imigração canadense em Hong Kong os considerou inadmissíveis devido ao emprego anterior de Zhang na OCAO.

“O oficial determinou que havia motivos razoáveis ​​para acreditar que a OCAO havia se envolvido em atos de espionagem que são ‘contrários aos interesses do Canadá’”, escreveu ela.

A advogada de Zhang, Jacqueline Bonisteel, declarou à Global News que seu cliente nunca foi acusado de espionar para a China; ele era apenas um membro de baixo escalão de uma organização que o Canadá acusava de espionagem.

“Ele não teve envolvimento pessoal, não é um espião”, afirmou Bonisteel.

O juiz observou que Zhang foi técnico de informática de 1983 a 2002, quando foi transferido para um cargo administrativo. Ela escreveu em sua decisão que a Imigração do Canadá observou que, quando Zhang se aposentou em 2004, ele era um “membro chefe da equipe”.

O relatório da CBSA compartilha uma conclusão semelhante com o oficial de imigração, pois afirma que a OCAO “se envolve em espionagem” e “é conhecida por operar no Canadá”.

“A OCAO está envolvida em ações secretas e coerção contra as comunidades chinesas no exterior, assim como outras minorias em todo o mundo, visando dissidentes chineses no exterior e se engajando na coleta de inteligência sobre elas e suas atividades”, afirmou.

“A OCAO trabalha para minar indivíduos identificados como ameaças ao PCC (Partido Comunista Chinês) e organiza e monitora ‘redes comerciais, estudantis, culturais, de mídia e políticas chinesas no exterior.’”

O relatório da CBSA, que citou o governo dos EUA, revistas acadêmicas e de notícias, de acordo com a Global News, afirmou que os serviços de inteligência chineses estão entre os “mais ativos” do mundo e estão “se tornando mais agressivos”.

“Embora as estimativas sobre o número de espiões variem, foi relatado que ‘a China pode afirmar com razão ter o maior, mais amorfo, mas também o mais ativo setor de inteligência do mundo… são potenciais ativos de inteligência”, declarou.

Sheng Xue, um ativista da democracia sino-canadense em Toronto, afirmou que os elementos pró-Pequim profundamente arraigados plantados pelo PCC ameaçam a segurança nacional, e não apenas no Canadá.

“A ameaça e a infiltração do PCC formaram um modo de ação em rede nos países democráticos. Enquanto houver incidentes que não sejam favoráveis ​​ao PCC, as organizações e o pessoal designado pelo PCC nesses países tomarão medidas imediatas”, relatou ela anteriormente, em entrevista ao Epoch Times.

Gloria Fung, diretora da Ligação Canadá-Hong Kong, se pronuncia em uma coletiva de imprensa no Parliament Hill, em 30 de agosto de 2016 (Jonathen Ren/NTD Television)
Gloria Fung, diretora da Ligação Canadá-Hong Kong, se pronuncia em uma coletiva de imprensa no Parliament Hill, em 30 de agosto de 2016 (Jonathen Ren/NTD Television)

Gloria Fung, presidente da Ligação Canadá-Hong Kong, afirmou que além de tentar silenciar os setores de negócios, cultura e mídia no Canadá, o PCC também está procurando ativamente calar quaisquer políticos que falem abertamente sobre a brutalidade e má conduta do regime.

Ela citou o exemplo do ex-deputado conservador Kenny Chiu, que perdeu seu lugar na corrida de Steveston-Richmond East na eleição federal de 2021.

“Eles também interferiram na integridade democrática do país nas recentes eleições federais, espalhando notícias falsas sobre o projeto de lei C-282 de Kenny Chiu, afirmando que isso levará à discriminação ou racismo contra os chineses canadenses”, declarou Fung em entrevista anterior.

O projeto de lei C-282 visa obrigar aqueles que trabalham em nome de entidades estrangeiras a se registrarem como agentes estrangeiros para aumentar a transparência.

Chiu afirmou ao Epoch Times em uma entrevista anterior que foi alvo de desinformação em campanhas eleitorais anteriores, mas em 2021, “foi excepcional”.

Tanto o Serviço de Inteligência de Segurança Canadense quanto o Comitê Nacional de Segurança e Inteligência dos Parlamentares, um comitê parlamentar especial, publicaram relatórios alertando sobre ameaças crescentes de agentes estatais estrangeiros contra a segurança nacional do Canadá.

O relatório da CBSA afirmou que Pequim fará de tudo para eliminar “discursos rivais ou ameaças potenciais” à sua existência.

“A OCAO está focada na eliminação de ameaças ao regime e busca minar essas ameaças nos países em que opera”, declarou.

Noé Chartier contribuiu para esta reportagem.

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