Por Isaac Teo
Da identificação de “inimigos” e monitoramento de dissidentes à manipulação de organizações locais, Pequim está utilizando todos os meios em sua caixa de ferramentas para silenciar aqueles em comunidades chinesas no exterior, inclusive no Canadá, o que é visto como uma ameaça, de acordo com relatório do governo.
O relatório mostrou que a China está ativamente engajada em uma “campanha sistemática de coleta de inteligência, persuasão, influência e manipulação” contra vozes dissidentes por meio de seu Escritório de Assuntos Chineses no Exterior (OCAO).
O OCAO, que o regime chinês afirma “proteger os direitos e interesses legítimos dos chineses no exterior”, foi encarregado de “influenciar ou manipular” os membros da comunidade e usar “táticas coercitivas” contra aqueles que desafiaram o regime, de acordo com o relatório.
“Isso envolve intimidação de chineses no extrangeiro em todos os níveis da sociedade”, afirmou o relatório, de autoria da Agência de Segurança de Fronteiras do Canadá (CBSA), em março de 2020 e obtido pela Global News, que publicou um artigo sobre isso no dia 26 de janeiro.
“O gerenciamento de seu comportamento é realizado por meio de incentivo ou desincentivo, bem como coleta de inteligência, vigilância e subversão contra as comunidades chinesas estrangeiras.”
O relatório da CBSA acrescentou que o Partido Comunista Chinês (PCC) busca eliminar quaisquer ameaças externas percebidas ao seu poder, como os advogados independentes que defendem Taiwan ou o Falun Gong, e depende da OCAO, que está estabelecida “em quase todos os países para fazer a ligação com as comunidades chinesas locais”.
Segundo a Global News, o relatório foi divulgado durante um processo judicial recente envolvendo o ex-funcionário da OCAO, Yong Zhang, e sua esposa, Yuxia Gao, a quem foi negada a residência permanente no Canadá quando seu recurso foi indeferido pelo Tribunal Federal no dia 19 de janeiro.
Em sua decisão, a juíza Vanessa Rochester escreveu que, embora o casal tenha sido patrocinado por sua filha, que é cidadã naturalizada, um oficial de imigração canadense em Hong Kong os considerou inadmissíveis devido ao emprego anterior de Zhang na OCAO.
“O oficial determinou que havia motivos razoáveis para acreditar que a OCAO havia se envolvido em atos de espionagem que são ‘contrários aos interesses do Canadá’”, escreveu ela.
A advogada de Zhang, Jacqueline Bonisteel, declarou à Global News que seu cliente nunca foi acusado de espionar para a China; ele era apenas um membro de baixo escalão de uma organização que o Canadá acusava de espionagem.
“Ele não teve envolvimento pessoal, não é um espião”, afirmou Bonisteel.
O juiz observou que Zhang foi técnico de informática de 1983 a 2002, quando foi transferido para um cargo administrativo. Ela escreveu em sua decisão que a Imigração do Canadá observou que, quando Zhang se aposentou em 2004, ele era um “membro chefe da equipe”.
O relatório da CBSA compartilha uma conclusão semelhante com o oficial de imigração, pois afirma que a OCAO “se envolve em espionagem” e “é conhecida por operar no Canadá”.
“A OCAO está envolvida em ações secretas e coerção contra as comunidades chinesas no exterior, assim como outras minorias em todo o mundo, visando dissidentes chineses no exterior e se engajando na coleta de inteligência sobre elas e suas atividades”, afirmou.
“A OCAO trabalha para minar indivíduos identificados como ameaças ao PCC (Partido Comunista Chinês) e organiza e monitora ‘redes comerciais, estudantis, culturais, de mídia e políticas chinesas no exterior.’”
O relatório da CBSA, que citou o governo dos EUA, revistas acadêmicas e de notícias, de acordo com a Global News, afirmou que os serviços de inteligência chineses estão entre os “mais ativos” do mundo e estão “se tornando mais agressivos”.
“Embora as estimativas sobre o número de espiões variem, foi relatado que ‘a China pode afirmar com razão ter o maior, mais amorfo, mas também o mais ativo setor de inteligência do mundo… são potenciais ativos de inteligência”, declarou.
Sheng Xue, um ativista da democracia sino-canadense em Toronto, afirmou que os elementos pró-Pequim profundamente arraigados plantados pelo PCC ameaçam a segurança nacional, e não apenas no Canadá.
“A ameaça e a infiltração do PCC formaram um modo de ação em rede nos países democráticos. Enquanto houver incidentes que não sejam favoráveis ao PCC, as organizações e o pessoal designado pelo PCC nesses países tomarão medidas imediatas”, relatou ela anteriormente, em entrevista ao Epoch Times.
Gloria Fung, presidente da Ligação Canadá-Hong Kong, afirmou que além de tentar silenciar os setores de negócios, cultura e mídia no Canadá, o PCC também está procurando ativamente calar quaisquer políticos que falem abertamente sobre a brutalidade e má conduta do regime.
Ela citou o exemplo do ex-deputado conservador Kenny Chiu, que perdeu seu lugar na corrida de Steveston-Richmond East na eleição federal de 2021.
“Eles também interferiram na integridade democrática do país nas recentes eleições federais, espalhando notícias falsas sobre o projeto de lei C-282 de Kenny Chiu, afirmando que isso levará à discriminação ou racismo contra os chineses canadenses”, declarou Fung em entrevista anterior.
O projeto de lei C-282 visa obrigar aqueles que trabalham em nome de entidades estrangeiras a se registrarem como agentes estrangeiros para aumentar a transparência.
Chiu afirmou ao Epoch Times em uma entrevista anterior que foi alvo de desinformação em campanhas eleitorais anteriores, mas em 2021, “foi excepcional”.
Tanto o Serviço de Inteligência de Segurança Canadense quanto o Comitê Nacional de Segurança e Inteligência dos Parlamentares, um comitê parlamentar especial, publicaram relatórios alertando sobre ameaças crescentes de agentes estatais estrangeiros contra a segurança nacional do Canadá.
O relatório da CBSA afirmou que Pequim fará de tudo para eliminar “discursos rivais ou ameaças potenciais” à sua existência.
“A OCAO está focada na eliminação de ameaças ao regime e busca minar essas ameaças nos países em que opera”, declarou.
Noé Chartier contribuiu para esta reportagem.
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