Em reunião preliminar à cúpula do BRICS, que ocorre em Kazan, Rússia, a Venezuela foi excluída da lista de 13 países aceitos como novos membros associados do grupo. A Nicarágua também ficou fora da relação. A lista foi apresentada pelo líder russo Vladimir Putin, que não recebeu objeções dos dirigentes presentes.
De acordo com vários veículos de imprensa, como Deutsche Welle, CNN, Globo News e Uol, a cúpula do grupo atendeu ao pedido do governo brasileiro para impedir a entrada dos países latino-americanos na aliança. A Venezuela vinha pressionando pela própria adesão.
A diplomacia brasileira, através do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), argumentou que a entrada de novos membros deveria ser consensual, o que inviabilizaria a adesão da Venezuela e Nicarágua.
Os novos membros associados ao BRICS incluem Bolívia e Cuba, mas a ausência da Venezuela é um reflexo das tensões recentes nas relações diplomáticas entre Brasília e Caracas.
Tensões diplomáticas
A deterioração dos laços entre Brasil e Venezuela se acentuou após as eleições presidenciais neste país, em 28 de julho, que dividiu a comunidade internacional. O presidente Lula não reconheceu a vitória de Nicolás Maduro, condicionando a aceitação do resultado à apresentação das atas eleitorais.
Pelo outro lado, o procurador-geral da Venezuela, Tarek Saab, ligado a Maduro, criticou Lula. Em outubro, disse que o presidente brasileiro se intromete em assuntos internos do país vizinho e acusou-o de ter se tornado “porta-voz” da “esquerda capturada pela CIA”, a agência de inteligência dos EUA.
Em relação à Nicarágua, o ambiente também tenso foi evidenciado quando, em agosto, o país da América Central expulsou o embaixador brasileiro em Manágua. Isso aconteceu após Lula não apoiar a ofensiva, pelo regime de Daniel Ortega, contra a Igreja Católica no país. No dia seguinte, o Brasil fez o mesmo com o embaixador nicaraguense.
O assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, discorda da adesão venezuelana à aliança, mesmo como país parceiro. “Eu não defendo a entrada da Venezuela. Acho que tem que ir devagar. Não adianta encher de países, senão daqui a pouco cria um novo G-77”, declarou em entrevista à CNN.
“Novo mundo multipolar”
Maduro, que desembarcou na Rússia para participar da cúpula como observador, disse que o BRICS virou “o epicentro do novo mundo multipolar, da nova geopolítica, da diplomacia da paz”.
A cúpula do BRICS, composta atualmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, ganhou novos Estados-membros no começo de 2024, como Egito, Irã e Etiópia e Emirados Árabes Unidos. A Argentina também recebeu convite, mas o presidente Javier Milei recusou a oferta.
A expansão da aliança, enquanto estratégia da política externa russa, busca contornar sanções impostas a ela, no contexto da guerra contra a Ucrânia. Putin, com isso, pode rechaçar seu isolamento do mundo e, por exemplo, usar o bloco para apresentar uma alternativa ao dólar como moeda internacional.
Definida na terça-feira (22), a lista extra-oficial inclui as seguintes nações, consideradas para inaugurar a categoria de parceiros dos BRICS: Argélia, Belarus, Bolívia, Cuba, Indonésia, Cazaquistão, Malásia, Nigéria, Tailândia, Turquia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.