Nesta quarta-feira (15), a França decretou estado de emergência em Nova Caledônia em resposta aos tumultos que ocasionaram quatro mortes e centenas de feridos. A ilha, que faz parte do território francês, enfrenta a sua maior onda de protestos desde a década de 1980, marcada por violentos confrontos com a polícia.
Como parte das medidas para conter a violência, além de mobilizar o exército para garantir a segurança dos portos e aeroportos, as autoridades decidiram proibir o aplicativo chinês TikTok em toda Nova Caledônia. O governo francês fundamenta essa decisão mencionando o uso da plataforma no ano passado na França, onde foi utilizada para incitar tumultos, criar caos e atrair indivíduos potencialmente violentos para as ruas. Também foi imposto toque de recolher noturno.
Os protestos tiveram início na última segunda-feira (13) em resposta a uma reforma constitucional votada no parlamento francês, que concede mais direitos de voto aos residentes franceses que vivem na ilha há mais de dez anos. A mudança aumentaria drasticamente o número de novos eleitores em Nova Caledônia, medida vista por grupos pró-independência como uma tentativa da França de consolidar o seu domínio sobre o arquipélago, além de beneficiar políticos pró-França.
Por décadas, Nova Caledônia tem sido o cenário de tensões entre os Kanaks, que buscam a independência, e os descendentes de colonizadores, que desejam permanecer sob a soberania francesa.
Em entrevista à CNN, Denise Fisher, ex-cônsul-geral australiana na Nova Caledônia, afirmou que os protestos recentes marcam o fim de um período de 30 anos de paz na ilha.
“Nos últimos dois dias vimos uma violência em uma escala que não víamos há 30 anos na Nova Caledônia”, disse Fisher.
“O povo Kanak opõe-se [à votação na França] não só porque foi decidida em Paris sem eles, mas também porque sentem que eles querem que isso faça parte de uma negociação… que incluiria outra votação de autodeterminação e uma série de outras coisas”.
O porta-voz do governo, Prisca Thévenot, enfatizou que “O Estado terá maiores poderes para manter a ordem” e poderá “impor proibições de trânsito, prisões domiciliárias e buscas” contra manifestantes.
O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que líderes da Nova Caledônia teriam até junho para negociar um acordo antes que ele sancione a lei da reforma constitucional.
A ilha de Nova Caledônia foi colonizada pelos franceses em meados do século 19 e hoje abriga aproximadamente 270 mil habitantes.