A França acredita que o imbróglio do Carrefour no Brasil, após decidir proibir a carne brasileira em suas lojas francesas no contexto da polêmica do acordo entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, não vai afetar a imagem internacional do país.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores francês afirmou nesta quinta-feira, a propósito deste assunto, que não está convencido de que “a imagem internacional da França se resuma à marca Carrefour”.
Na sua habitual coletiva de imprensa semanal, o porta-voz não quis comentar o anúncio que o Carrefour fez na semana passada de que deixará de vender carne brasileira nos seus supermercados e hipermercados na França, em um momento em que o setor agrícola francês organiza protestos contra o acordo comercial entre a UE e o Mercosul.
O porta-voz se limitou a dizer que se tratava de uma decisão da empresa que não cabia a ele comentar, quando questionado sobre as possíveis implicações para a imagem da França.
A questão ganhou uma dimensão claramente política esta semana, já que foi o próprio governo brasileiro quem avisou na terça-feira que reagirá “com firmeza” a qualquer outra nova campanha contra os produtos brasileiros.
O veto à venda de carne brasileira em suas lojas na França, que representava um número infinitesimal para o Carrefour, gerou reação do setor agrícola brasileiro, que respondeu com a suspensão das vendas de carne à subsidiária do grupo de distribuição francês no Brasil.
O CEO da empresa, Alexandre Bompard, pediu desculpas e pontuou que esta medida de veto à carne do Mercosul foi anunciada por “solidariedade ao mundo agrícola” e se limitou à França. Especificou também que sua subsidiária brasileira continuaria vendendo carne brasileira.
A França opõe-se categoricamente ao acordo UE-Mercosul, que foi fechado em 2019 após duas décadas de negociações e que ficou praticamente congelado pelo bloqueio, principalmente de Paris, que o considera muito prejudicial para sua agricultura.
Agora que a Comissão Europeia está tentando reativar o acordo para que possa entrar em vigor, voltou à tona a rejeição dos agricultores franceses, que fizeram da sua oposição a principal pauta de sua nova campanha de protesto.
Paralelamente, as autoridades francesas tentam impedir a iniciativa de Bruxelas e esta semana o governo organizou um debate com votação na Assembleia Nacional e no Senado para mostrar que existe uma posição quase unânime de parlamentares de todos os partidos contra a mesma.
O porta-voz de Exteriores destacou hoje esta posição de rejeição a um texto que a França continua a considerar “não aceitável tal como está” por diferentes razões e disse esperar que esta “mensagem forte” seja ouvida por outros países europeus.
A este respeito, ressaltou que há outros membros da UE que se somam à sua posição de rejeição, e referiu-se em particular à Polônia, que se manifestou nesse sentido esta semana.