Por Clàudia Sacrest, Agência EFE
A festa que o pequeno povoado francês de Salency faz para coroar uma jovem escolhida por suas “virtudes” estava há 30 anos sem acontecer, mas o anúncio do retorno, marcado para junho de 2019, chegou cercado de polêmica, após alguns críticos apontarem que a virgindade é um dos critérios de seleção.
Um artigo publicado no jornal “Le Parisien” que cita “a virtude, a piedade e a modéstia, mas também a virgindade” como qualidades exigidas gerou uma onda de críticas e um petição online no “Change.org” com mais de 30 mil assinaturas contra a organização da festa.
A “Fête de la Rosière” nasceu no século V, quando São Medardo coroou uma jovem exemplar como santa. Desde então, e até 1987, uma moça com idade entre 16 e 20 anos era escolhida todo ano como a “Rosa” por sua “conduta irretocável”, e no domingo seguinte era coroada com flores e escoltada por 20 meninos e meninas.
“A polêmica aconteceu por causa da pouca honestidade da imprensa. Eu disse virtude como critério e alteraram a minha mensagem”, lamentou o presidente da Confraria de São Medardo, Bertrand Tribout, organizadora da festa.
Embora alguns jornais atribuam a ele a informação de que a reputação das candidatas pese na hora da escolha, ele garantiu que é um “apaixonado pela história”, mas a questão da virgindade “não interessa”.
“Quando falamos de virtude, falamos da disposição de fazer o bem. A virtude da inteligência, de ser boa aluna, de ajudar o outro, do envolvimento com o povo, de se preocupar com o próximo. Sempre falo de estima, estima pública”, ressaltou Tribout à Agência EFE.
Com apenas 900 habitantes, a pressão midiática pegou de surpresa a Prefeitura de Salency, que deixou de fazer o evento há três décadas “por motivos financeiros” e que, em uma tentativa de reativar o patrimônio local, decidiu retomá-la. Apesar das críticas, a eventual anulação será decidida em uma votação em setembro.
No entanto, a “Fête de la Rosière” não é a única tradicional da região. Na Brède, Emma Baggio foi escolhida há dois meses a “Rosière” de 2018, uma comemoração criada em 1824 e com muita adesão dos jovens.
Fontes da Prefeitura de Brède indicaram à EFE que a ideia é eleger “um representante da juventude” e que “os critérios evoluíram” para estar “perfeitamente adaptados ao momento atual”. Conforme explicaram, basta apenas carta de motivação justificando o vínculo com o povo. Diferentes famílias locais selecionam a candidata e ela, por sua vez, elege um par para que seja nomeado com ela.