O FBI possuía inteligência sobre um esquema russo de suborno, quadrilha, extorsão e lavagem de dinheiro em solo estadunidense destinado a articular os interesses nucleares de Moscou muito antes de o Governo Obama aprovar dois controversos acordos nucleares com o país, informou The Hill na terça-feira (17) citando documentos do governo americano e entrevistas.
Um dos acordos, aprovado em 2010, deu à Rússia o controle de 20% do suprimento de urânio nos Estados Unidos. Aproveitando-se ao acordo, os russos transferiram milhões de dólares para a fundação de caridade do ex-presidente Bill Clinton no período em que Hillary Clinton presidia um departamento envolvido na aprovação do acordo. Embora esta atividade tenha sido noticiada pelo New York Times em 2015, John Solomon e Alison Spann, da Hill, descobriram que o FBI tinha uma testemunha ocular além de documentos comprobatórios da atividade já em 2009.
O Departamento de Justiça (DOJ, na sigla em inglês) estava ciente do caso, mas em vez de abrir processos em 2009, investigou por mais quatro anos, enquanto o Governo Obama endossava os acordos nucleares com a Rússia. A evidência obtida por Solomon e Spann sugere que o FBI manteve o público americano e o Congresso no escuro sobre a atividade criminosa russa num momento em que essa perspectiva poderia ter desempenhado um papel fundamental se compartilhada com os funcionários dos EUA que assinaram os acordos.
Os agentes federais usaram uma testemunha confidencial na indústria nuclear russa como parte da investigação. Este informante colheu registros financeiros, realizou gravações secretas e interceptou mensagens de e-mail a partir de 2009 que mostravam empresários russos corrompendo uma empresa americana de transporte de urânio com subornos, propinas e até ameaças, de acordo com documentos de tribunais e do FBI.
“Os russos estavam corrompendo empreiteiros americanos na indústria nuclear com propinas e ameaças de extorsão, as quais levantaram preocupações legítimas de segurança nacional”, disse uma pessoa que trabalhou no caso. “E nenhuma destas evidências foi transmitida antes de a administração Obama tomar aquelas decisões”.
A atividade russa foi apoiada por funcionários de alto escalão que mais tarde compartilharam as propinas, escreveu um agente numa carta de declaração jurada.
As duas negociações entre os Estados Unidos e a Rússia em questão aconteceram em 2010 e 2011. O Departamento de Estado dos EUA aprovou um acordo para a gigante nuclear estatal russa Rosatom comprar a empresa canadense de mineração Uranium One, em 2010. Este acordo deu à Rússia o controle de um quinto do urânio dos Estados Unidos.
A controvérsia sobre o acordo de Uranium One tem se arrastado por anos com revelações de que Bill Clinton recebeu centenas de milhares de dólares em comissões por palestras na Rússia enquanto sua esposa comandava o departamento envolvido na aprovação do acordo.
O porta-voz de Hillary Clinton se esquivou dos questionamentos quando eles vieram a público, dizendo que ela não estava envolvida na revisão do acordo e que um funcionário do Departamento de Estado afirmou que ela “nunca interveio… em qualquer assunto [do Comitê de Investimento Estrangeiro nos Estados Unidos].”
O segundo acordo permitiu que uma subsidiária da Rosatom, a Tenex, vendesse urânio enriquecido para usinas nucleares dos EUA. Antes disso, a Tenex só podia vender urânio recuperado das armas nucleares russas desmanteladas.
Eric Holder era o procurador-geral quando o acordo sobre o Uranium One foi aprovado. Ele participou do Comitê de Investimento Estrangeiro nos Estados Unidos com Hillary Clinton, mas vários funcionários do FBI e do DOJ não sabem se os membros do comitê foram notificados da atividade criminosa russa.
O porta-voz de Hillary Clinton, Eric Holder, e o DOJ não retornaram as tentativas de contato do The Hill.
Quando o DOJ finalmente trouxe um caso contra os russos envolvidos em atividades criminosas, o departamento não deu muita ressonância a isso, com uma única nota de imprensa sobre o caso tendo aparecido no site do DOJ um ano depois de ter se iniciado, observando que uma pessoa era acusada de lavagem de dinheiro de uma única quantia.
A falta de divulgação pública do caso deixou muitas autoridades importantes no escuro. Mesmo o assistente do diretor do FBI responsável por processos criminais não foi informado do processo, apesar das acusações criminais.
O presidente do Comitê de Inteligência da Câmara à época das provas do FBI, Mike Rogers, disse que nunca foi informado sobre o caso, apesar de vários parlamentares sustentarem sérias preocupações com o acordo sobre a Uranium One da gestão Obama.
“Não fornecer informações sobre um esquema de corrupção antes de o acordo russo de urânio ter sido aprovado pelos reguladores dos Estados Unidos e envolver comitês correspondentes do Congresso tem servido para sabotar os interesses de segurança nacional dos Estados Unidos pelas próprias pessoas encarregadas de protegê-los”, disse Rogers. “Os esforços russos para manipular nosso empreendimento político americano são de tirar o fôlego.”
Para documentos relacionados à investigação e mais detalhes, visite The Hill
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