Famílias equatorianas choram por desaparecimentos atribuídos a dissidentes das FARC

Por Fernando Gimeno e EFE
19/10/2022 15:58 Atualizado: 19/10/2022 15:58

Já faz mais de três meses que a família de Óscar López não sabe seu paradeiro, ele desapareceu abruptamente como outros jovens do Equador perto da fronteira com a Colômbia, aparentemente sequestrado e recrutado à força pelos dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) em incursões em território equatoriano.

“Estamos com medo porque também recebemos ameaças, mas parece que foram extorsionários, porque há muitas pessoas que se aproveitam da situação”, disse à EFE um familiar de López, que prefere não revelar sua identidade por questões de segurança.

López, um jovem de 23 anos que trabalhava como motorista de táxi no cantão (município) de San Lorenzo, uma cidade da província de Esmeraldas, no norte, a poucos quilômetros da fronteira com a Colômbia, desapareceu repentinamente em 29 de junho. Ele foi trabalhar com seu carro e nunca mais voltou para casa.

Dias depois, o veículo foi encontrado abandonado e com sinais de luta na estrada que vai de San Lorenzo à Colômbia, especificamente em direção ao setor Mataje. Ali, perdeu-se o rastro do jovem de cabelos pretos curtos, 1,76 metros de altura e 76,2 quilos de peso.

Ele está vivo, segundo indicações

A única indicação que a família tem é que Óscar ainda está vivo e está com um desses grupos armados em território colombiano, graças a informações obtidas por uma ex-autoridade local que tem contatos com esses grupos e que lhe disseram que a família não o veria novamente, segundo o relato de parentes do desaparecido.

“(Eles explicaram a ele que) ele tem as características pessoais que eles procuram, e isso vai continuar, eles vão continuar levando os jovens, porque eles precisam atingir um número, entre colombianos e equatorianos, quem eles encontrarem”, disse a fonte da família Lopez.

Com perfil semelhante ao de López, outro jovem está desaparecido que também trabalhava como taxista e cuja família se recusou a falar com a EFE por medo de possíveis represálias. Os parentes de outro menino que está na mesma situação há vários anos também preferiram não falar.

O número de denúncias de desaparecimentos só cresceu nos últimos anos na província de Esmeraldas, segundo os registros da Procuradoria Geral do Estado que incluem todos os motivos de desaparecimento. De 24 em 2019 passou para 37 em 2020 e entre janeiro e outubro de 2021 foram 85.

Em San Lorenzo, há vários casos conhecidos de pessoas que cruzaram para o lado colombiano e não retornaram. A EFE tentou entrar em contato com o prefeito do cantão, mas não obteve resposta.

Decepcionados com a polícia

A família de López também denuncia a falta de vontade da Polícia para encontrar o seu paradeiro, e inclusive indica que lhes foi pedido para rever as gravações das câmeras de segurança e notificá-los se encontrarem algo.

“A única finalidade delas é que não se seja intenso no questionamento e na busca de respostas”, afirma a pessoa próxima ao desaparecido, que atribui essa atitude ao medo que os dissidentes das FARC também geram nos policiais, que vêm sem agentes suficientes para tomar a iniciativa.

Consultado pela EFE, o chefe de polícia de San Lorenzo na época do desaparecimento de López referiu-se a um caso de sequestro com vínculos pessoais com um desses grupos armados, mas a família de López nega que o jovem tenha tido um relacionamento anterior com esses grupos fora da lei.

O policial garantiu ainda que a atividade dos dissidentes das FARC se limita ao território colombiano, onde existem enormes plantações ilegais de folha de coca, e que não realizam ações no Equador.

Fogo cruzado

No entanto, as evidências da presença de grupos armados colombianos em território equatoriano aumentaram nos últimos meses, impulsionadas pelo narcotráfico que torna essa área uma das grandes rotas de cocaína da América do Sul, desde as lavouras do lado colombiano até os portos equatorianos.

Em meados de agosto houve um confronto de fogo cruzado entre os militares equatorianos e membros de um desses grupos, que ocorreu quando uma patrulha que monitorava a linha de fronteira se deparou com sete pessoas armadas, das quais conseguiram prender duas.

Ainda mais frequentes são os achados na área de San Lorenzo e Mataje de caletas (zulos), com armas ou explosivos enterrados na vegetação da selva da área. Em julho foi encontrado um acampamento abandonado de um desses grupos. Tudo em terreno equatoriano.

 

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