O ex-presidente do Peru, Alejandro Toledo, foi condenado a 20 anos e seis meses de prisão por conluio e lavagem de dinheiro. A Justiça peruana o declarou culpado de receber propinas milionárias da Odebrecht em troca de contratos durante seu governo (2001-2006).
Toledo, de 78 anos, aceitou US$ 35 milhões (cerca de R$ 200 milhões) em subornos para favorecer a Odebrecht na licitação de dois trechos da Rodovia Interoceânica Sul. Concluída em 2013, a rodovia de 2.600 quilômetros liga a costa do Pacífico no Peru ao Atlântico no Brasil, buscando impulsionar comércio e integração regional.
“Este colegiado assume o pedido feito pela promotoria de 20 anos e seis meses de prisão”, anunciou a juíza Zaida Pérez, que presidiu o tribunal composto por três magistrados. A sentença inclui nove anos pelo crime de conluio e onze anos e meio por lavagem de dinheiro.
Durante a audiência em Lima, Toledo ouviu a sentença mas reiterou sua inocência. “Sou inocente; nunca fiz nenhum acordo com o senhor [Jorge] Barata”, declarou, referindo-se ao ex-executivo da Odebrecht no Peru.
O ex-presidente pediu que a Justiça considerasse seu estado de saúde, alegando sofrer de câncer e problemas cardíacos. “Peço que me deixem me curar ou morrer em casa”, disse.
Toledo está preso desde abril de 2023, após ser extraditado dos EUA em um processo que durou anos. Ele é o primeiro dos quatro ex-presidentes peruanos envolvidos no escândalo da Odebrecht a ser condenado.
Além da prisão, o tribunal ordenou que Toledo pague uma multa de 1,375 milhão de soles (mais de US$ 463 milhões) como reparação ao Estado peruano.
A condenação se baseou em provas apresentadas pela promotoria. Depoimentos de Jorge Barata, ex-superintendente da Odebrecht, e de Josef Maiman, amigo de Toledo que faleceu em 2021, foram cruciais. Maiman admitiu ter atuado como intermediário dos subornos.
Esses depoimentos foram corroborados por documentos financeiros, registros de transferências bancárias e análises periciais que revelaram irregularidades no processo de licitação.
O promotor José Domingo Pérez destacou a robustez das provas. “Provamos os crimes de conluio e lavagem de dinheiro […] o ex-presidente solicitou US$ 35 milhões à Odebrecht”, afirmou.
O escândalo da Odebrecht emergiu em 2016, quando a empresa admitiu, no âmbito da Operação Lava Jato, pagar propinas em vários países da América Latina para garantir contratos públicos. No Peru, além de Toledo, os ex-presidentes Alan García (que se suicidou em 2019), Ollanta Humala e Pedro Pablo Kuczynski também foram investigados.