Ex-ministro australiano recebe US$ 660 mil por ano da China, diz que não é agente estrangeiro

08/12/2017 23:26 Atualizado: 08/12/2017 23:26

Em meio a crescentes preocupações sobre a infiltração da China nas instituições políticas da Austrália, o ex-ministro australiano do comércio e investimento recebeu AU$ 880 mil (cerca de US$ 660 mil) por ano de uma empresa chinesa intimamente ligada ao regime do Partido Comunista Chinês. Enquanto o ex-ministro negou veementemente ser um agente estrangeiro, a mídia estatal chinesa, ironicamente, levantou-se em sua defesa, destacando suas declarações contra seus críticos e as novas leis sobre interferência estrangeira no governo australiano.

A mídia australiana Fairfax Media e o programa “Four Corners” da ABC informaram em junho que Andrew Robb, que serviu como ministro do comércio e investimento do país sob o governo do Partido Liberal de 2013 a 2016, recebeu um pagamento anual de $880 mil do Landbridge Group, uma companhia chinesa que ficou conhecida pela polêmica aquisição do porto australiano de Darwin em 2015.

A Fairfax acrescentou recentemente que o contrato de “consultoria” de Andrew Robb com a empresa chinesa é tão vago e mal definido que ele é pago mesmo que não faça nada. O ex-ministro do comércio, que foi o arquiteto do Acordo de Livre-Comércio China-Austrália durante seu mandato, teria começado a receber o pagamento chinês pouco depois de deixar o Parlamento em 2016.

Nos últimos meses, a expansão significativa do controle e da influência do Partido Comunista Chinês sobre as instituições políticas, empresas e academia da Austrália, e também sobre os estudantes chineses no país, tem sido amplamente divulgada pela mídia australiana. Sob pressão pública, o governo de Malcolm Turnbull mobilizou-se para ampliar as leis de traição existentes visando reduzir a influência estrangeira na política australiana.

As novas leis propostas, que enfrentam uma batalha árdua no próximo voto do Senado australiano, incluem a proibição de doações estrangeiras para os partidos políticos, bem como um sistema para registrar lobistas e agentes de influência trabalhando em nome de governos estrangeiros.

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No Twitter, Robb negou veementemente ser um agente da China e declarou que a nova legislação “não se aplica” a ele. Ele também disse à mídia australiana que a legislação era um “golpe político”, dizendo que estava “cansado de ser martelado como um traidor”.

“Há no momento, e tem havido nos últimos doze meses ou mais, uma tentativa imoderada de alarmar as pessoas a respeito da China”, disse Robb.

Ironicamente, no entanto, as declarações de Robb, retrucando a seus críticos e criticando a legislação proposta, foram quase que imediatamente relatadas com destaque pela agência de notícias Xinhua, uma mídia estatal porta-voz oficial do regime chinês.

Citando o ex-funcionário australiano que agora se tornou lobista trabalhando para uma empresa chinesa, a Xinhua diz que as novas leis “irão expor injustamente os esforçados australianos” que estão construindo o relacionamento do país com a China.

A Xinhua também citou Robb dizendo que “o alarme precisa parar” para que não prejudique a “prosperidade e boa-vontade” da China de trabalhar em estreita colaboração com a Austrália, seu governo e suas empresas locais.

Foi observado que Ye Cheng, o proprietário do Landbridge Group, é membro da Conferência Consultiva Política do Povo da China, um órgão político controlado pelo Partido Comunista Chinês (PCC) e comumente usado para coordenar a propaganda e operações da “Vanguarda Unida”, ou seja, iniciativas em que organizações ou indivíduos que não fazem parte do PCC são recrutados para promover os interesses do regime chinês, muitas vezes sem se darem conta.

Anteriormente, a aquisição pelo Landbridge Group do porto de Darwin no Território do Norte na Austrália foi amplamente criticada por seus potenciais riscos para a segurança nacional do país. Ye Cheng reconheceu que a aquisição era parte da iniciativa de Pequim chamada “Um Cinturão, Uma Rota”, que visa expandir a influência da China no estrangeiro, principalmente na Ásia-Pacífico. Andrew Robb defendeu que a Austrália adote plenamente a iniciativa da China, argumentando que não representa uma ameaça para a Austrália.