EUA seguem adiante com tarifas contra China enquanto disputa comercial se intensifica

Economia chinesa mostra sinais de desaceleração enquanto guerra comercial ameaça moeda

22/06/2018 14:39 Atualizado: 17/07/2018 16:32

Por Fan Yu, Epoch Times

O presidente norte-americano Donald Trump anunciou em 15 de junho que iria adiante com as tarifas propostas sobre produtos chineses no valor de US$ 50 bilhões, afirmando sua promessa de nivelar o campo de ação e defender-se do roubo indevido de propriedade intelectual pela China.

A China revidou horas depois, anunciando suas próprias tarifas de 25% sobre US$ 50 bilhões em produtos norte-americanos. O cronograma de implementação reflete amplamente o dos Estados Unidos, com tarifas focadas em importações agrícolas.

A gestão Trump prometeu que os Estados Unidos buscariam tarifas adicionais quando a China retaliasse em espécie.

O Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR) descreveu os bens sujeitos às tarifas de 25% como “importações chinesas contendo tecnologias industrialmente significativas, incluindo aquelas relacionadas à política industrial chinesa ‘Feito na China 2025’”.

As novas tarifas serão implementadas em duas etapas. A primeira lista contém 818 produtos no valor de US$ 34 bilhões, que entrarão em vigor em 6 de julho, com outra rodada de bens no valor de US$ 16 bilhões a ser implementada após um período de consulta pública.

As sanções da China geralmente visam produtos agrícolas como soja e carne bovina, o que impacta a principal base de eleitores republicanos de Trump no coração dos Estados Unidos. A soja é a maior importação da China em valor proveniente dos norte-americanos.

Um bom clima rendeu uma safra de soja excepcional este ano, em grande parte do centro-oeste norte-americano, mas as tarifas crescentes têm atenuado esse otimismo.

Os riscos do mercado fizeram com que as commodities sofressem uma queda na semana passada. Os futuros de soja que se estabeleceram em julho caíram 2,5% em 15 de junho, para US$ 904,25, na Bolsa Mercantil de Chicago. A queda é de 17,6% desde os recentes aumentos alcançados em 2 de março.

Economia chinesa no limite

O impacto das novas tarifas chega num momento crítico para a economia chinesa, que finalmente está mostrando sinais de fratura.

O Banco Popular da China deixou suas taxas inalteradas este mês, surpreendendo os mercados que esperavam uma pequena subida nas taxas para acompanhar o Federal Reserve norte-americano, sugerindo que o banco central chinês estava menos confiante nas perspectivas de crescimento econômico do país.

A produção industrial, o investimento e as vendas no varejo cresceram menos que o esperado, segundo estatísticas oficiais do regime chinês divulgadas em 14 de junho. As vendas no varejo, que acompanham a confiança e os gastos do consumidor, aumentaram 8,5% ano a ano, a menor taxa de crescimento em 15 anos. Os investimentos em ativos fixos, o motor de crescimento da China, desaceleraram para 6,1% no período de janeiro a maio, o mais lento aumento desde que a China começou a acompanhar e registrar esses números em 1998.

Embora o impacto das tarifas sobre as economias de ambos os países ainda não esteja claro, dados recentes sugerem que uma guerra comercial em potencial será mais prejudicial para a China.

Contribuindo para a desaceleração está a recente política da China de restringir os negócios de sistema bancário paralelo, que desacelerou o crescimento do crédito recentemente. “Além da fraca emissão de títulos em meio ao recente aumento nas inadimplências de títulos nacionais, outros financiamentos não bancários (como empréstimos fiduciários) também diminuíram numa base ampla”, escreveram os analistas do Morgan Stanley numa nota de 12 de junho para os clientes.

Com esse pano de fundo, a desaceleração do comércio poderia levar a conta corrente da China, sua balança comercial, a um déficit mais profundo no segundo trimestre e além, o que poderia provocar mais saídas de capital, diminuir investimentos e deprimir o renminbi em relação ao dólar. A China registrou seu primeiro déficit em conta corrente em quase 17 anos durante o primeiro trimestre de 2018.

Roubo de propriedade intelectual

Um tanto perdida na narrativa predominante, que erroneamente se concentrou no livre comércio versus protecionismo, está a verdadeira preocupação de Trump com o roubo de tecnologia.

As tarifas mais recentes foram formuladas especificamente em resposta ao roubo da propriedade intelectual (PI) dos Estados Unidos pelo regime comunista chinês. De acordo com um relatório da Comissão de PI divulgado no início deste ano pelo Departamento Nacional de Pesquisa Asiática, o custo anual do roubo de PI para a economia norte-americana pode chegar a US$ 600 bilhões. A Comissão de PI apontou a China como o principal infrator, responsável por 50% a 80% dos danos.

E apesar das negativas ou comentários de que as acusações são “infundadas”, o regime chinês não produziu ampla evidência para mitigar essas preocupações.

O programa “Feito na China 2025” do regime chinês foi citado pelo USTR como a força motriz por trás do aumento do investimento e aquisição de empresas estrangeiras de tecnologia, e subsequentes transferências forçadas de PI, segundo um relatório investigativo recente do USTR.

As empresas americanas têm levantado preocupações há anos, principalmente por meio de canais privados, para agências do governo dos Estados Unidos por medo da retaliação por parte de Pequim. Esse é um dos principais motivos pelos quais a disputa comercial mais ampla de Trump com a China assumiu maior importância. Isso não diz respeito ao comércio; é uma luta para proteger o status da nação como líder em tecnologia.