Os Estados Unidos responderam ao ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, que manterão “intacta” sua política de sanções contra o país sul-americano até que sejam dados passos concretos para o regresso à democracia.
“Enquanto Maduro e seus seguidores continuarem reprimindo o povo venezuelano e desviando recursos para práticas corruptas, continuaremos pressionando o regime com sanções”, afirmou nesta segunda-feira à EFE um porta-voz do Departamento de Estado americano.
Maduro pediu na quinta-feira passada ao presidente dos EUA, Joe Biden, que suspendesse “todas as sanções” aplicadas à Venezuela que, segundo ele, são “criminosas”.
Em sua resposta, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA instou Maduro a se sentar com a opositora Plataforma Unitária para “resolver os problemas da Venezuela e restaurar a democracia e o Estado de direito” no país.
“Nossa política de sanções à Venezuela permanece intacta. Continuaremos a impor sanções à Venezuela para apoiar o regresso à democracia”, ressaltou.
Na semana passada, Maduro disse que nos últimos oito anos “o imperialismo e seus débeis e extremistas lacaios roubaram da Venezuela a quantia de US$ 411 milhões por dia”, o que qualificou como “roubo criminoso”.
O governo Biden condicionou o alívio das sanções aos acordos que Maduro fizer com a oposição nas negociações que estão ocorrendo na Cidade do México.
Os Estados Unidos deixaram de reconhecer há duas semanas a presidência interina do opositor Juan Guaidó na Venezuela, mas também não reconhecem o regime de Maduro como legítimo.
Crise humanitária
Segundo o Observatório Venezuelano de Finanças (OVF), órgão independente composto por especialistas econômicos, em dezembro do ano passado uma família venezuelana precisaria de 53 salários mínimos para comprar uma cesta básica.
O OVF disse que o salário mínimo e as pensões, ambos de 130 bolívares, eram equivalentes a cerca de US$ 7, neste cenário os trabalhadores com esse salário e os pensionistas precisavam de um montante equivalente a 53 vezes este valor para comprar a cesta básica.
A inflação na Venezuela atingiu valores superiores a 100% e não conseguiu retrair, provocando diversas crises de abastecimento e encarecendo serviços e bens essências como gás doméstico, água e limpeza urbana, telefonia móvel, serviço de internet e transporte terrestre, conforme indicado pelo Observatório ao estimar uma inflação de 142,6% em novembro do ano passado.
Além das questões econômicas, o regime autoritário de Maduro limitou todas as liberdades individuais e de imprensa. A repressão aos opositores inibe a perspectiva de mudanças e de retorno de um Estado democrático de direito no país.
Diante da crise generalizada, a Venezuela viu uma onda de migração sem precedentes, com mais de 7 milhões de venezuelanos abandonando o país.
Ernesto Araújo, Chanceler do Brasil durante o governo Bolsonaro, comentou sobre a crise na Venezuela em entrevista exclusiva concedida ao Epoch Times e NTD Brasil e conduzida pelo jornalista Marcos Schotgues. Ela está disponível em vídeo no link abaixo, contudo, destacamos um trecho pertinente à Venezuela para apreciação.
Marcos: Bom, quando falamos da questão das drogas, uma informação que eu trago para os leitores é que, segundo o Center for a Secure Free Society, um think tank americano respeitado, estima-se que cerca de 25%, 1 quarto de toda a cocaína do mundo, é escoada através da Venezuela com a conivência e envolvimento de agentes do Estado Venezuelano, o chamado “Cartel dos Sóis” (leia mais aqui). E justamente nessa linha, Ernesto, uma das medidas pretendidas e já anunciadas é a de reatar laços com o regime da Venezuela, do Partido Socialista Unido da Venezuela. Laços que o Sr. cortou durante a sua gestão do Itamaraty. Como entender isso?
Ernesto: Pois é. Um dos meus primeiros atos, uma das primeiras medidas que tomei, antes mesmo de assumir, como ministro nomeado , foi justamente não convidar o “presidente” Maduro, nem o “presidente” de Cuba, Díaz-Canel, para a posse do presidente Bolsonaro; porque a posse é para países que sejam não só amigos do Brasil, mas amigos da liberdade no mundo. Não é para países que estão escravizando seus povos e exportando, há décadas no caso de Cuba, e há anos no caso da Venezuela, a opressão e o narco-socialismo pela região inteira.
Agora nós vemos um ato de, aparentemente, querer convidar o Maduro para a posse de Lula. Então isso é realmente simbólico de duas visões muito diferentes de mundo. Eu acho que o Lula traz essa visão de que, na superfície, há a “máscara” do “temos boas relações com todo o mundo”. É a desculpa: “São nossos vizinhos… e a integração latino americana”. E aí levantamos o capô do carro e vemos aquele motor da corrupção, do tráfico de drogas, funcionando plenamente.
Na Colômbia, o presidente pró-drogas que assumiu, Petro, uma das primeiras coisas que fez foi reatar com Maduro. Não é simplesmente por amizade, não é simplesmente para jogar biriba no fim de semana, claro que não, é porque eles querem melhorar a coordenação no narcotráfico. Querem melhorar a coordenação no apoio ao terrorismo. E infelizmente, nós vemos o Brasil indo por essa linha. Nada de bom pode vir de uma associação com o regime venezuelano. O regime venezuelano é hoje, digamos assim, a “holding” de várias organizações criminosas. A Venezuela hoje é uma espécie de Disneylândia do crime.
Praticamente todas as organizações criminosas da região e algumas de fora da região estão lá. Lavam dinheiro, traficam – traficam não só drogas, mas traficam pessoas. Isso tudo também está ligado à crise migratória nos Estados Unidos. Está ligado à desestabilização de praticamente todos os países da América do Sul. Então é isso que parece que um governo Lula quer prestigiar. É também um reflexo do que chamamos de nominalismo: “Se é um país vizinho, então temos que ter boas relações”. Não! Temos que entender qual é o conteúdo dessas relações e também, no nosso caso… nada contra a Venezuela. Alguns falam: “Ah, vocês não querem boas relações com a Venezuela?”. Claro que queremos! É uma nação amiga, o povo venezuelano. Mas essa nação, esse povo, está sujeito a uma usurpação, uma opressão por parte de um regime completamente ilegítimo.
Então como nós sinalizamos a nossa amizade com a Venezuela enquanto nação, com o povo venezuelano, enquanto povo irmão? Como sinalizamos? Apoiando a volta da democracia à Venezuela, no nosso caso, contra Maduro e em apoio a um governo legítimo de Juan Guaidó. É isso que é. Por que? Porque a Venezuela, além de exportar esse modelo de narco-socialismo, de corrupção e terrorismo, ela oprime seu próprio povo. É um país que praticamente já expulsou mais de 20% da população. Isso praticamente não tem precedentes no mundo, de 30 milhões de habitantes, 7 milhões já saíram da Venezuela. Então, qual é o sinal que estamos passando? O sinal de que o Brasil quer fazer parte de tudo isso. Eu acho lamentável.
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