Por Anastasia Gubin, Epoch Times
Os líderes dos Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha emitiram ontem (15) uma carta conjunta acusando e pedindo explicações à Rússia pelo atentado com gás nervoso contra um agente duplo e sua filha em Salisbury em 3 de março, que também causou a hospitalização de um policial.
A Rússia “ameaça a segurança de todos nós”, advertem os líderes.
Por sua vez, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia para a ONU acusou o Reino Unido de não realizar uma investigação mais profunda, e negou a responsabilidade.
“Nós repudiamos o ataque contra Sergei e Yulia Skripal em Salisbury, no Reino Unido”, diz a carta dos líderes norte-americanos e europeus.
O oficial de polícia britânico, que foi exposto no ataque, “permanece gravemente doente e as vidas de muitos cidadãos britânicos inocentes foram ameaçadas.”
A carta menciona que o gás nervoso usado no ataque é de um tipo que pode provavelmente ter sido desenvolvido pela Rússia, cujo nome é “Novichok”.
“Este foi o primeiro uso ofensivo de um agente nervoso na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. É um ataque à soberania do Reino Unido e qualquer uso deste tipo por parte de um Estado é uma clara violação da Convenção sobre Armas Químicas e uma violação das leis internacionais.”
A carta acrescenta que “o Reino Unido informou em detalhes aos seus aliados que era muito provável que a Rússia seja a responsável pelo ataque. Compartilhamos a avaliação do Reino Unido de que não existe uma explicação alternativa plausível.”
Os quatro países exortaram a Rússia a fornecer a divulgação completa do chamado programa Novichok à Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCW, na sigla em inglês). Eles mencionaram que existe inclusive “um padrão prévio de comportamento irresponsável dos russos”.
“Pedimos à Rússia para que cumpra com suas responsabilidades como membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas para defender a paz e a segurança internacionais”, conclui o documento.
Resposta da Rússia
Depois de uma reunião realizada ontem (15) pelo Conselho de Segurança da ONU sobre o incidente químico em Salisbury, o Ministério das Relações Exteriores russo afirmou que Londres “mais uma vez demonstrou claramente sua falta de interesse real em se concentrar na investigação profissional completa e confiável do incidente em Salisbury. Para nós, isso não foi uma surpresa.”
Disse também que “a delegação britânica, através das suas alterações, distorceu a essência” de um documento que deveria ser emitido pela ONU, e “forçou a restrição dos trabalhos e, na verdade, frustrou sua adoção”, que ajudaria a investigação.
O artigo original da ONU “pede a todos os Estados membros interessados que consultem e cooperem com a investigação de acordo com suas obrigações no âmbito do parágrafo 2º do artigo IX da Convenção sobre a Proibição de Armas Químicas”, segundo o governo russo.
De acordo com o jornal RBK, o vice-ministro Sergei Ryabkov desaprovou a produção da substância venenosa chamada “Novichok”, tanto na Rússia como na União Soviética. Ele disse que a informação que se tem no Ocidente sobre o produto só é contada por um número de pessoas que emigraram da Rússia.
Ontem, o representante permanente da Rússia para a ONU, Vasily Nebenzia, chamou a possível fonte de origem de tal veneno como “países onde, a partir do final dos anos 1990 até o presente, se realizam pesquisas intensivas sobre essas substâncias, incluindo a Grã-Bretanha.”
Novichok, dez vezes mais letal que qualquer outro
Segundo o ex-químico militar soviético Vil Mirzayanov, que desde 1996 vive nos Estados Unidos, afirma que ele foi um dos inventores do gás nervoso “Novichok”, do qual a Rússia é acusada.
Décadas atrás, o químico declarou que na União Soviética e na Rússia se desenvolveram novos tipos de armas químicas, e que ele trabalhou por mais de 20 anos no Instituto Estatal de Pesquisa Científica de Química e Tecnologia Orgânica, relata o RBK.
Contra Mirzayanov, foi aberto um inquérito por divulgar segredos de Estado e ele foi preso. No entanto, em 1994, o caso foi encerrado. Em 1996, Mirzayanov emigrou para os Estados Unidos.
Um gás que não tem cura
Em uma entrevista para o jornal britânico The Telegraph esta semana, Mirzayanov disse que, provavelmente, Sergei Skripal e sua filha Yulia foram atacados com este gás, e que estão condenados a morrer ou ficar inválidos para o resto da vida.
“A convalescença está completamente descartada”, disse o cientista, acrescentando que a fórmula do gás nervoso ainda é um segredo, portanto ele acredita que só a Rússia poderia tê-lo fabricado.
De acordo com Mirzayanov, “Novichok” é 10 vezes mais poderoso do que qualquer outro agente químico, e advertiu que no verão, quando as temperaturas são mais quentes, dois gramas seriam suficientes para matar 500 pessoas.
Ele explicou que “Novichok” pode ser armazenado em dois recipientes e, assim, permanecer completamente inofensivo, por isso pode ser transportado facilmente. As duas partes são unidas apenas na hora de usar.