EUA: políticos, FBI e DOJ fazem último esforço para prevenir publicação do memorando

01/02/2018 18:34 Atualizado: 03/02/2018 20:56

Políticos de alto escalão dos Estados Unidos, bem como o Departamento Federal de Investigação (FBI) e o Departamento de Justiça (DOJ), estão tentando prevenir e desacreditar a divulgação de um memorando que supostamente detalha os abusos de poder nos mais altos níveis de governo do país.

O memorando é escrito por Devin Nunes (R-CA), o presidente do Comitê Seletivo Permanente de Inteligência da Câmara dos Representantes, e é baseado em quase um ano de pesquisa. Ele mostra, entre outras coisas, que altos funcionários do FBI e do DOJ utilizaram conscientemente informações não verificadas numa investigação de contrainteligência contra um oponente político.

Antes de sua publicação, que se espera ocorrer na quinta-feira ou sexta-feira, houve um esforço coordenado contra sua liberação, levada a cabo por aqueles que alegadamente são expostos no documento.

Depois de contestar ferozmente o lançamento do memorando ao público por semanas, o copresidente de Inteligência da Câmara, Adam Schiff (D-CA), enviou uma carta ao presidente Nunes em 31 de janeiro alegando que mudanças foram feitas depois que a Comitê votou, e deve, portanto, ser submetido a uma nova votação antes do sua divulgação pública.

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Uma fonte de inteligência da Casa Branca disse ao colunista Byron York do jornal Washington Examiner, que as mudanças feitas consistiam em correções “gramaticais e esclarecedoras”. Uma mudança foi solicitada pelo FBI devido à preocupação entre fontes e métodos, e a mudança de uma palavra foi solicitada pelos democratas para garantir precisão.

As regras do Comitê da Câmara não exigem uma nova votação quando pequenas modificações são feitas.

O líder da minoria da Câmara, Nancy Pelosi (D-CA), chegou a escrever uma carta ao líder da maioria da Câmara, Paul Ryan (R-Wisc.), para remover Nunes de sua posição.

Um dia antes, Nunes respondeu a uma declaração do FBI pedindo que o memorando não fosse divulgado, dizendo que o FBI e o DOJ haviam “embarreirado o Congresso para obter informações durante quase um ano”.

Estados Unidos, Devin Nunes, memorando, Donald Trump, Hillary Clinton, FBI, DOJ - O vice-procurador-geral Rod Rosenstein fala durante o "Programa de Observância do Mês do Patrimônio Asiático-Americano e Insular do Pacífico" no Departamento de Justiça em Washington, D.C., em 31 de maio de 2017 (Mark Wilson/Getty Images)
O vice-procurador-geral Rod Rosenstein fala durante o “Programa de Observância do Mês do Patrimônio Asiático-Americano e Insular do Pacífico” no Departamento de Justiça em Washington, D.C., em 31 de maio de 2017 (Mark Wilson/Getty Images)

“Está claro que altos funcionários usaram informações não verificadas num documento judicial para promover uma investigação de contrainteligência durante uma campanha política americana. Uma vez que a verdade for exposta, podemos começar a tomar medidas para garantir que nossas agências de inteligência e os tribunais nunca sejam usados ​​indevidamente desta forma de novo”, disse Nunes.

A saga é a última de uma série de tentativas nas últimas duas semanas para evitar que o memorando seja divulgado ao público. O DOJ, incluindo o escritório do vice-diretor Rod Rosenstein, se opôs à sua liberação. Rosenstein, no entanto, é supostamente mencionado no memorando como tendo assinado um mandado baseado na Lei de Vigilância de Inteligência Estrangeira (FISA), apesar de saber que a evidência foi baseada em informações não verificadas.

Os legisladores que viram o memorando descreveram as ações nele contidas como uma ameaça potencial à República, e como algo que todos os americanos têm o direito de saber.

O presidente Donald Trump na terça-feira, após o seu primeiro discurso do Estado da União, disse que estava 100% certo de que o memorando seria divulgado.

Da mesma forma, o chefe de gabinete da Casa Branca, o general John Kelly, disse à Fox News que o memorando seria lançado “bastante rápido” e que “então o mundo inteiro poderá vê-lo”.

O memorando é baseado em quase um ano de pesquisa de Nunes, que começou quando ele revelou pela primeira vez no ano passado que altos funcionários da gestão Obama fizeram dezenas dos chamados pedidos de desmascarados para revelar as identidades dos membros da equipe de Trump durante a eleição presidencial.

No início de janeiro, o DOJ concordou em fornecer ao Comitê de Nunes os documentos que ele requisitou por meses, envolvendo o chamado dossiê Trump, que foi pago pela campanha presidencial de Hillary Clinton e pelo Comitê Nacional Democrata, bem como os detalhes sobre o agente do FBI, Peter Strzok, e a advogada do FBI, Lisa Page, que trocaram milhares de mensagens de texto revelando um claro preconceito contra Donald Trump e favoritismo por Hillary Clinton.

Strzok foi o principal agente do FBI tanto na investigação do uso ilegal de um servidor privado e inseguro de e-mail por Hillary Clinton quando ela serviu como secretária de Estado, bem como sobre a alegação sem embasamento de uma colusão entre a Rússia e Trump para interferir na eleição presidencial.

O vice-diretor do FBI, Andrew McCabe, foi forçado a se demitir na segunda-feira, um dia após o seu chefe, o diretor do FBI, Christopher Wray, ler o memorando.

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