O Departamento de Justiça (DOJ) dos EUA indiciou o ex-copresidente de uma empresa de transporte baseada em Maryland por seu suposto papel no suborno de um funcionário russo ligado à Corporação Estatal de Energia Atômica da Rússia.
A empresa americana, cujo nome foi retido pelo DOJ, é especializada no transporte de materiais nucleares nos Estados Unidos e em todo o mundo.
A acusação, que foi deslacrada pelo DOJ em 12 de janeiro, indicia Mark Lambert com 11 acusações. O DOJ atualmente tem uma quantidade excepcional de acusações seladas arquivadas em distritos em todo os Estados Unidos, cerca de 9 mil desde outubro do ano passado.
Uma das acusações é que Lambert conspirou para violar a Lei de Práticas Corruptas no Estrangeiro (FCPA, na sigla em inglês). A suposta conspiração envolveu pagamentos ao funcionário russo Vadim Mikerin em troca de contratos lucrativos.
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Mikerin trabalhou para a JSC Techsnabexport, uma subsidiária da Corporação Estatal de Energia Atômica da Rússia e o único fornecedor e exportador de urânio e de serviços de enriquecimento de urânio da Federação Russa para empresas de energia nuclear em todo o mundo.
Mikerin já se declarou culpado de conspiração por cometer lavagem de dinheiro envolvendo violações da FCPA em junho de 2015 e atualmente está cumprindo uma pena de 48 meses de prisão.
De acordo com o DOJ, o alegado suborno começou no início de 2009 e continuou até outubro de 2014.
Este período de tempo coincide com notícias anteriores de que o governo russo tinha comprometido uma empresa americana de transporte de urânio.
A mídia The Hill havia relatado em 18 de outubro de 2017 que, no início de 2009, “Moscou havia comprometido uma empresa americana de transporte de urânio com subornos e propinas.”
Não está claro se a empresa de transporte rodoviário em questão é a mesma que foi acionada pelo DOJ.
Acordo da Uranium One
Os esforços russos na época eram parte de um esquema de suborno maior descoberto pelo FBI, e que ocorreu ao mesmo tempo em que a gestão Obama avaliou e aprovou que a Corporação Estatal de Energia Atômica da Rússia adquirisse uma participação majoritária na empresa mineradora canadense Uranium One.
“O FBI havia reunido evidências substanciais de que funcionários da indústria nuclear russa estavam envolvidos em suborno, propinas, extorsão e lavagem de dinheiro, visando expandir o negócio de energia atômica de Vladimir Putin nos Estados Unidos”, afirmou The Hill com base em documentos do governo e entrevistas em seu artigo de outubro.
A Uranium One controlava 20% do fornecimento de urânio com licença para mineração nos Estados Unidos.
Ao conferir o controle à Rússia de uma parcela significativa dos suprimentos de urânio americano, o acordo criou um potencial risco de segurança nacional.
Apesar das garantias da Comissão Reguladora Nuclear (NRC) ao Congresso de que o urânio extraído pela Uranium One não deixaria os Estados Unidos, isso já ocorreu.
Os memorandos do NRC analisados pelo The Hill mostram que as transferências de urânio para o Canadá e a Europa foram aprovadas pela gestão Obama. De qualquer um destes destinos, o urânio poderia ter chegado a outros países, incluindo até mesmo adversários dos Estados Unidos na busca por armas nucleares.
É possível que a empresa de transporte de Maryland estivesse envolvida nos transportes, mas isso não pôde ser confirmado até o momento.
Investigação do DOJ sobre a Uranium One
No mês passado, tornou-se público que os promotores do Ministério da Justiça solicitaram informações aos agentes do FBI sobre a investigação que realizaram no acordo da Uranium One.
Porque o urânio, quando enriquecido, é um componente-chave para as armas nucleares, o acordo exigiu uma revisão de segurança nacional pelo Comitê de Investimentos Estrangeiros dos Estados Unidos (CFIUS).
O Departamento de Estado faz parte do CFIUS e teria necessariamente de aprovar o acordo. No momento da revisão e da aprovação do Departamento de Estado, Hillary Clinton era a secretária de Estado.
Enquanto o acordo estava em análise, a Fundação Clinton recebeu milhões em pagamentos associados à Uranium One.
O presidente da Uranium One usou uma fundação de sua família para fazer quatro doações à Fundação Clinton, totalizando US$ 2,35 milhões, informou o New York Times numa exposição de 2015.
Ao mesmo tempo em que a revisão de segurança estava sendo realizada, Bill Clinton recebeu uma taxa de palestrante de US$ 500 mil de um banco de investimento vinculado ao Kremlin.
Em 2006, a Fundação Clinton já havia recebido uma doação de US$ 31,3 milhões do bilionário canadense Frank Giustra, proprietário da empresa de mineração UrAsia, que se fundiu com outra empresa de mineração em 2007 para se tornar a Uranium One.
Giustra ainda serve no conselho de diretores da Fundação Clinton.