EUA competem com iniciativa “Um Cinturão, Uma Rota” da China

Sob a administração de Trump, a reação dos EUA ao projeto OBOR da China é mais coerente e abrangente do que no passado, diz especialista

27/12/2018 11:58 Atualizado: 27/12/2018 11:58

Por Emel Akan, Epoch Times

A iniciativa chinesa chamada “Um Cinturão, Uma Rota” é um dos programas de desenvolvimento mais ambiciosos e controversos do mundo. Com a administração Trump, os Estados Unidos estão lançando novos projetos de infraestrutura e outras iniciativas na região Ásia-Pacífico, em um esforço para conter a crescente presença da China na região.

O Partido Comunista Chinês (PCC) tornou a iniciativa “Um Cinturão, Uma Rota” (OBOR, na sigla em inglês) a pedra fundamental de seu plano para expandir sua influência geopolítica. O objetivo da iniciativa é oferecer bilhões de dólares de investimento em infraestrutura para conectar Ásia, Europa e África. O plano abrange quase 70 países e cobre mais de dois terços da população mundial.

No entanto, nos últimos anos, o projeto OBOR tem sido questionado, uma vez que a maioria dos programas é financiada por credores controlados pelo Estado chinês, o que deixa as nações endividadas e preocupadas com o enorme peso da dívida.

Embora o projeto OBOR esteja em andamento já há cinco anos, a reação dos Estados Unidos ao plano ambicioso da China é muito mais recente, de acordo com Daniel Kliman, investigador principal do programa de segurança da região Ásia-Pacífico no Centro para uma Nova Segurança Americana, um centro de estudos sobre segurança nacional sediado em Washington.

“Isso reflete falta de imaginação”, disse ele em um painel organizado pela Heritage Foundation em 17 de dezembro.

“Semelhante ao que vimos no caso da recuperação de terras pela China no Mar da China Meridional, acho que os políticos norte-americanos inicialmente não reconheceram plenamente o alcance e a velocidade do ‘OBOR’ e como serviria para impulsionar os interesses chineses no mundo”.

O atual governo dos Estados Unidos, no entanto, adotou uma visão estratégica sobre o projeto OBOR e o identificou como parte das ambições da China de se tornar uma superpotência mundial e, assim, desafiar a posição de liderança norte-americana.

Sob o governo de Trump, a reação dos Estados Unidos ao projeto OBOR está sendo “mais coerente e completa do que certamente vimos no passado e está caminhando para uma direção positiva”, argumentou Kliman, acrescentando que há muitas oportunidades para os Estados Unidos competirem, pois os países emergentes estão cada vez mais preocupados com as implicações negativas do investimento chinês.

Reação dos Estados Unidos

Nos últimos meses, o governo Trump adotou uma postura muito mais dura contra a China e sua crescente influência. Na cúpula de diretores executivos da APEC, realizada em Papua Nova Guiné em 16 de novembro, o vice-presidente Mike Pence criticou o projeto OBOR e disse que os Estados Unidos “oferecem uma opção melhor”.

“Nós não afogamos nossos parceiros em um mar de dívidas. Nós não coagimos ou afetamos sua independência “, acrescentou. “Os Estados Unidos fazem acordos de forma aberta e justa. Não oferecemos cinturões restritivos ou rotas de sentido único.”

O conselheiro de segurança nacional John Bolton expressou as mesmas preocupações sobre o projeto OBOR. Falando em um evento realizado este mês, Bolton condenou o uso estratégico da dívida por parte da China para manter os países africanos cativos às suas demandas.

Ele chamou o projeto OBOR de “um plano para desenvolver uma série de rotas comerciais de e para a China, com o objetivo final de impulsionar o domínio global chinês”.

Além da escalada da retórica, o governo norte-americano promulgou uma série de políticas para enfrentar o projeto OBOR. Por exemplo, em outubro, o Congresso aprovou, com apoio bipartidário, a Lei de Melhor Uso do Investimento que Conduz ao Desenvolvimento, ou Lei do Desenvolvimento, que foi recentemente assinada por Trump.

Essa lei estabelece a Corporação Financeira de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (IDFC, na sigla em inglês) e dobra a capacidade de financiamento para o desenvolvimento para 60 bilhões de dólares. A IDFC facilitará o investimento do setor privado dos Estados Unidos em mercados emergentes “a fim de complementar a assistência norte-americana e os objetivos da política externa”.

Segundo Kliman, a lei representa “uma potencial mudança nas regras do jogo em termos de recursos dos Estados Unidos”.

Além disso, a Câmara e o Senado aprovaram este mês a bipartidária Lei de Iniciativa de Apoio à Ásia, ou ARIA, que autoriza 1,5 bilhão de dólares anualmente por cinco anos em gastos com defesa nacional para conter a influência chinesa no Indo-Pacífico.

Cooperação em resposta

Os Estados Unidos também lançaram uma resposta coordenada aos investimentos apoiados pela China, cooperando com aliados na região do Pacífico, como Japão, Austrália e Nova Zelândia. Por exemplo, os Estados Unidos e seus aliados do Pacífico anunciaram no mês passado que construirão uma rede elétrica de 1,7 bilhão de dólares na Papua Nova Guiné.

A União Europeia também revelou recentemente uma nova estratégia para conectar a Europa e a Ásia. Embora Bruxelas diga que não está concorrendo com o projeto OBOR, é praticamente uma alternativa, afirmou Kliman.

“Portanto, hoje há oportunidades para os Estados Unidos se envolverem com a Europa em projetos conjuntos de infraestrutura”.

Segundo Kliman, também estão sendo feitos esforços para limitar o investimento chinês nos países em desenvolvimento.

“Por exemplo, neste verão os Estados Unidos revelaram um novo fundo de consultoria para transações. Essencialmente, ele ajudará os países a avaliar possíveis acordos chineses e não serem abusados da maneira como aconteceu com o Sri Lanka”, disse ele.

O Sri Lanka, incapaz de pagar sua crescente dívida com a China, teve que ceder seu porto de Hambantota a Pequim no ano passado, em um controverso contrato de arrendamento, por 99 anos.

Kliman também disse que os Estados Unidos apoiarão jornalistas investigativos nos países em que a China investiu, o que tornará mais difícil para Pequim firmar acordos secretos que deixem as nações sobrecarregadas de dívidas e coloquem sua soberania em risco.

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