Dois altos funcionários do Departamento Federal e Investigação (FBI) dos Estados Unidos discutiram sobre uma “sociedade secreta” trabalhando contra o presidente norte-americano Donald Trump em mensagens de texto enviadas no dia após ele ganhar as eleições, de acordo com dois congressistas que revisaram as comunicações.
Peter Strzok, um alto funcionário de contrainteligência do FBI, e sua amante Lisa Page, uma advogada sênior do FBI, trocaram dezenas de milhares de mensagens, muitas das quais eram anti-Trump. Depois que os textos foram descobertos, Strzok foi retirado da equipe de inquérito do advogado-especial Robert Mueller sobre interferência nas eleições de 2016.
Strzok também foi o principal agente do FBI que investigou Hillary Clinton sobre o uso de um servidor privado de e-mail. Ele foi responsável por mudar a linguagem-chave na declaração de exoneração do então diretor do FBI, James Comey, sobre Clinton, removendo a terminologia legal que poderia ter implicado Clinton criminalmente.
Os congressistas John Ratcliffe (R-Texas) e Trey Gowdy (R-S.C.), este último também presidente do Comitê de Supervisão da Câmara, estão revisando mais de 9.500 mensagens de texto trocadas entre Strzok e Page que foram obtidas pelo inspetor-geral do Departamento de Justiça (DOJ, na sigla em inglês). O FBI disse que não conseguiu capturar outras 50 mil mensagens.
“Tomamos conhecimento hoje de informações que na sequência imediata da eleição [de Trump], que pode ter havido uma sociedade secreta de pessoas dentro do Departamento de Justiça e do FBI, incluindo Page e Strzok, que estaria trabalhando contra ele [Trump]”, disse Ratcliffe à Fox News na segunda-feira, 23 de janeiro.
“Não estou dizendo que realmente aconteceu, mas quando as pessoas falam nesses termos, elas precisam ser questionadas para explicar o contexto no qual usaram esses termos”, acrescentou Ratcliffe.
Leia também:
• Trump alerta sobre a ‘enfermidade’ nas instituições dos EUA
• A ferramenta secreta do comunismo
• Estado paralelo é revelado em novo relatório
A menção de uma sociedade secreta que opera nos níveis superiores do FBI e DOJ é rara e significativa. Trump fez referências frequentes ao chamado Estado paralelo. Num discurso em Pensacola, Flórida, em 8 de dezembro, Trump fez uma referência às “sementes profundas no interior”.
“Vocês sabem que não existe um país como o nosso. Mas temos muita enfermidade em algumas de nossas instituições. Estamos trabalhando intensamente e conseguimos que muitas delas melhorassem”, disse Trump.
“A única coisa que eles realmente se importam é com proteger o que eles conseguiram fazer, que de fato é controlar o país. E não é para o benefício de vocês.”
Trump é o primeiro presidente desde John F. Kennedy que chamou a atenção para o “Estado paralelo” que opera dentro do governo dos Estados Unidos. Kennedy fez uma advertência num discurso de 27 de abril de 1961 sobre sociedades secretas.
“A própria palavra ‘segredo’ é repugnante numa sociedade aberta e livre, e nós como povo somos intrínseca e historicamente opostos às sociedades secretas, juramentos secretos e procedimentos secretos. Decidimos há muito que os perigos do excessivo e injustificado encobrimento de fatos relevantes é mais grave do que os perigos que são citados para o justificar”, disse Kennedy.
“Porque estamos confrontados em todo o mundo por uma conspiração monolítica e cruel que se apoia principalmente em ações encobertas para expandir a sua esfera de influência, em infiltração em vez de invasão, em subversão em vez de eleições, em intimidação em vez da livre escolha, em guerrilhas durante a noite em vez de exércitos à luz do dia”, continuou Kennedy. “É um sistema que recrutou vastos recursos humanos e materiais para a construção de uma máquina bem engrenada e altamente eficiente que combina operações militares, diplomáticas, de inteligência, econômicas, científicas e políticas.”
“Os seus planos são ocultos, não anunciados. Os seus erros são encobertos e não tornados públicos. Os seus dissidentes são silenciados e não elogiados. Nenhum gasto é questionado, nenhum rumor é publicado, nenhum segredo é revelado.”
Kennedy foi assassinado dois anos depois de proferir esse discurso.
Strzok e Page têm sido criticados desde que seus textos anti-Trump foram revelados. Numa única mensagem, Strzok mencionou uma “apólice de seguro” no caso de Trump vencer as eleições.
“Eu quero acreditar no caminho que você expôs para consideração no escritório de Andy, que não haja como ele ser eleito, mas eu receio que não possamos correr esse risco. Isso é como uma apólice de seguro no evento improvável que você morra antes de completar 40 anos”, escreveu Strzok.
A discussão do casal sobre uma sociedade secreta que trabalha contra Trump levanta questões mais alarmantes, de acordo com o congressista Gowdy.
“Há uma troca de texto entre esses dois agentes do FBI, esses que deveriam supostamente ser dois agentes objetivos do FBI centrados nos fatos, dizendo que talvez este seja o primeiro encontro da ‘sociedade secreta’”, disse Gowdy à Fox News.
“Então, claro, eu vou querer saber de que sociedade secreta você está falando, porque você deve investigar objetivamente a pessoa que acabou de ganhar o Colégio Eleitoral; então, sim, eu vou querer saber”, acrescentou Gowdy.
A notícia da discussão de Strzok-Page sobre uma sociedade secreta surge após o anúncio do FBI de que não conseguiram preservar cinco meses de comunicação entre o casal.
Trump se referiu a esse anúncio como “uma das maiores histórias em um longo período de tempo”, numa mensagem de Twitter na terça-feira de manhã.
“O FBI agora diz que estão faltando cinco meses de textos entre os amantes Strzok-Page, talvez 50 mil, e tudo isso em horário nobre”, escreveu Trump. “Uau!”
Por “horário nobre”, o presidente Trump provavelmente se refere ao fato de que todas as mensagens perdidas ocorreram num momento crucial entre a transição presidencial e o início do inquérito de Mueller.
O procurador-geral Jeff Sessions disse que o DOJ “não deixará pedra sobre pedra” para recuperar as mensagens de texto faltantes.
“Não deixaremos pedra sobre pedra para confirmar com certeza por que essas mensagens de texto não estão disponíveis para serem apresentadas e usaremos todas as tecnologias disponíveis para determinar se as mensagens perdidas são recuperáveis de outra fonte”, disse Sessions numa declaração.
O fato de que funcionários do governo estavam trabalhando contra Trump pouco depois de ele ser eleito tornou-se rapidamente aparente quando o presidente foi inundado com vazamentos seletivos numa base quase diária por cinco meses. Os vazamentos chegaram até o topo do FBI quando o diretor James Comey admitiu ter vazado suas anotações para um amigo com a intenção de fazê-las chegar à mídia.
A menção de uma sociedade secreta também ocorre poucos dias depois que 65 deputados assinaram uma carta instando a publicação de um memorando da Câmara potencialmente devastador sobre os abusos de vigilância do governo. Os legisladores referiram-se ao conteúdo do memorando como “pior do que o caso Watergate”, um “golpe palaciano” e compararam-no a KGB (a inteligência soviética).
Trump acusou o ex-presidente Barack Obama de grampear as comunicações do edifício Trump Tower durante as eleições e mencionou o Estado paralelo em relação às alegações.
“A Câmara dos Representantes busca citações de desobediência/desrespeito contra o Departamento de Justiça e o FBI por reter documentos fundamentais e uma testemunha do FBI que poderia lançar luz sobre a vigilância de associados de Donald Trump”, escreveu o presidente Trump no Twitter em 29 de novembro. “Isso é grande. Estado paralelo. Entregue esta informação AGORA!”
O fato de que altos funcionários do governo estão envolvidos em sociedades secretas não é em si um segredo. O ex-presidente George W. Bush e ex-secretário de Estado John Kerry admitiram ser membros da Skull and Bones, uma sociedade secreta fundada na Universidade de Yale.
Os pesquisadores sobre sociedades secretas sugeriram há muito tempo uma afinidade comum que relaciona grupos como os Illuminati (Iluminados), Freemasons (Maçonaria) e Skull and Bones (Crânio e Ossos), todos os quais praticam rituais ocultos.
Uma filmagem gravada fora do edifício da Skull and Bones em Yale mostra uma cerimônia que inclui atores realizando a encenação de um assassinato enquanto gritos histéricos preenchem o ambiente privado e mal iluminado.
Embora não exista prova de que a Skull and Bones esteja conectada aos Illuminati, ambos têm um fascínio único pela morte.
Os textos escritos por autores proeminentes sobre os Illuminati mostram que a sociedade venera Satanás, de acordo com numerosas citações em “Illuminati Facts and Fiction“, um livro de Mark Dice, um especialista em sociedades secretas que dedicou mais de uma década pesquisando esses grupos.
Leia também:
• EUA: memorando do Congresso revela tentativa de golpe contra Trump
• Fusion GPS e a ‘política de seguro’ para prevenir Trump de se tornar presidente
• Opinião: A última tentativa de ataque contra Trump e por que irá falhar
• Departamento de Justiça sinaliza campanha anticorrupção no governo dos EUA
• Colunista conhecido por fofocas maliciosas ataca Trump em novo livro
• Professora de Yale que ‘analisou’ Trump não é licenciada e violou regras éticas
• Dossiê Trump foi usado para obter autorização de vigilância contra equipe de Trump, diz reportagem