EUA acusam Pequim de interferir nas eleições com guerra comercial e advertem sobre novas tarifas

Administração Trump acusa a China de roubar segredos tecnológicos e propriedade intelectual de empresas norte-americanas

20/09/2018 16:20 Atualizado: 20/09/2018 16:20

Por Emel Akan, Epoch Times

O presidente Donald Trump advertiu sobre novas retaliações contra a China e acusou Pequim de tentar influenciar as eleições intercalares que ocorrerão em novembro, ao tomar como alvo os fazendeiros e trabalhadores industriais nos Estados Unidos, em uma escalada da guerra comercial.

Em 18 de setembro, Trump publicou dois tuítes responsabilizando a China, já que ambos os lados anunciaram que aplicariam pesadas taxas um contra o outro.

“A China declarou abertamente que está tentando de forma ativa impactar e mudar o resultado de nossas eleições ao atacar nossos camponeses, fazendeiros e trabalhadores industriais por causa de sua lealdade a mim,” escreveu Trump.

“O que a China não compreende é que essas pessoas são grandes patriotas e compreendem inteiramente que a China tem se aproveitado dos Estados Unidos através do comércio por muitos anos. Elas também sabem que eu sou o único que sabe como detê-la”, continuou ele.

“Haverá uma fulminante retaliação econômica contra a China se nossos agricultores, fazendeiros e/ou trabalhadores industriais forem atacados!”

A tensão comercial entre os Estados Unidos e a China aumentou quando Trump anunciou, em 17 de setembro, que sua administração procederia à imposição de tarifas sobre outros 200 bilhões de dólares em produtos chineses. A taxação começou em 24 de setembro com um imposto de 10%, e logo subirá para 25% em 1º de janeiro do próximo ano.

Esta segunda rodada de tarifas soma-se aos 25% sobre 50 bilhões de dólares em produtos chineses que Washington anunciou em junho.

Trump também advertiu que se a China adotar represálias contra os agricultores dos Estados Unidos e outras indústrias, ele imporá tarifas a outros 267 bilhões de dólares em importações chinesas.

Em resposta, Pequim disse em 18 de setembro que planeja retaliar através de tarifas sobre produtos norte-americanos no valor de 60 bilhões de dólares.

As novas tarifas de Trump surpreenderam os líderes chineses, que planejavam enviar uma delegação chefiada pelo vice-primeiro-ministro Liu He a Washington na próxima semana para uma nova rodada de conversações. Como resultado, a China pode rejeitar o convite do secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, e não enviar uma delegação, informou o jornal South China Morning Post em 18 de setembro.

De acordo com Xia Yeliang, estudioso liberal e professor de Economia na Universidade de Pequim, os líderes chineses vão tentar manter as aparências, já que foram pegos de surpresa pelo anúncio de Trump. Os comentários de Trump sobre a interferência eleitoral estão corretos, disse Xia, já que “o regime chinês está tentando tornar as coisas difíceis para Donald Trump com algumas represálias contra os agricultores dos Estados Unidos”.

A China não tem um plano B, a não ser prolongar as negociações, de acordo com Xia.

“Eles não têm muita escolha. Eles têm grandes esperanças de que Trump perca as eleições. Eles esperam conseguir mudar o presidente dos Estados Unidos”, afirmou Xia.

No entanto, ele acredita que a estratégia chinesa não irá funcionar.

As taxas impostas pelos Estados Unidos chegam em um período difícil para a economia chinesa. O crescimento econômico está desacelerando e espera-se que a atual guerra comercial exerça mais pressão sobre esse crescimento. Além disso, a taxa de desemprego na China está aumentando, o que em breve poderá levar a protestos dos trabalhadores e dos veteranos em todo o país, disse Xia.

Os Estados Unidos podem chegar a um acordo a qualquer momento, disse Trump durante uma coletiva de imprensa conjunta com o presidente polonês Andrzej Duda no Salão Oval, em 18 de setembro.

“Estamos fazendo muito progresso com a China. Os chineses querem vir e conversar, e estamos sempre dispostos a falar. Mas temos que fazer alguma coisa. Temos um tremendo desequilíbrio comercial com a China”, disse o presidente.

“Não é só problema de Trump”

Durante meses, a China tem rejeitado as exigências norte-americanas de mudar suas práticas comerciais desleais.

A administração de Trump acusa a China de roubar segredos tecnológicos e propriedade intelectual de empresas norte-americanas utilizando táticas que incluem o roubo físico e virtual, transferências forçadas de tecnologia, evasão de controles de exportação dos Estados Unidos, restrições à exportação de matérias-primas e investimentos em empresas de alta tecnologia.

“Os Estados Unidos tiveram déficits comerciais no valor de 10 trilhões de dólares nos últimos 20 anos. Isso teve um enorme impacto nocivo sobre a criação de empregos neste país”, disse Patrick Mulloy, ex-subsecretário da Administração de Comércio Internacional do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, em uma entrevista para a NTD Televisão, parte do grupo Epoch Media, do qual faz parte o Epoch Times.

De acordo com Mulloy, o representante comercial dos Estados Unidos, Robert Lighthizer, deveria ser o responsável por essas negociações ao invés do secretário Mnuchin, e ele acha que os chineses também começaram a perceber isso.

“É preciso um esforço multilateral para falar com os chineses sobre algumas coisas que eles estão fazendo, e eu acho que é isso o que Lighthizer tem em mente. Mas ele tem que conseguir esse acordo do NAFTA antes de poder dedicar toda sua atenção a esse tema em tempo integral”, disse ele.

Mulloy acha que existe um forte apoio bipartidário para as taxas de Trump sobre a China.

“Este não é um problema só de Trump”, disse ele, acrescentando que democratas chave como o líder da minoria do Senado Chuck Schumer, de Nova Iorque, e o senador Sherrod Brown, de Ohio, são “muito adeptos de uma visão mais firme sobre a China”.

Mesmo se os democratas obtiverem o controle do Congresso em novembro, disse Mullay, os parlamentares não se desviarão da necessidade de abordar o conflito comercial com a China.

“Acredito que ambos os lados estão agora profundamente imersos nessa questão.”