Por Joshua Philipp, Epoch Times
As forças da coalizão recentemente capturaram e destruíram um esconderijo de drogas do Estado Islâmico no sul da Síria, que foi avaliado em US$ 1,4 milhão e incluía mais de 300 mil pílulas da droga “captagon”.
A descoberta chamou a atenção para um novo desenvolvimento nas operações do grupo terrorista do Estado Islâmico. Com a perda do seu chamado “califado”, e a perda de dinheiro com impostos e petróleo, o grupo está se voltando para o tráfico de drogas.
Esta nova linha de negócios para a rede terrorista levanta algumas questões sérias. Em primeiro lugar, o consumo de drogas e álcool é proibido pelo Islã, então por que os combatentes do Estado Islâmico tem passe livre par lidar com essas substâncias? As drogas, enquanto isso, muito provavelmente não são produzidas inteiramente pelo Estado Islâmico, então surge outra questão sobre quem está fornecendo as drogas ou os ingredientes para sua confecção?
Para responder a essas perguntas, entrei em contato com Robert J. Bunker, professor-adjunto de pesquisa do Instituto de Estudos Estratégicos da Escola de Guerra do Exército dos EUA. O que se segue é uma série de perguntas e respostas desta discussão via e-mail.
Joshua Philipp: Um relatório da Iniciativa Global Contra o Crime Organizado Transnacional afirma que “o captagon emergiu como uma droga de conflito ajudando a sustentar a guerra”. Você concordaria com essa afirmação? Eu acho que é obviamente uma fonte de financiamento para o Estado Islâmico, mas você acha que eles têm outras opções para financiar suas operações além das drogas?
Robert J. Bunker: Agora que o Estado Islâmico perdeu a maior parte do seu controle territorial, ele foi forçado a voltar a uma forma organizacional da insurgência e a desenvolver cada vez mais tipos ilícitos de financiamento, como o tráfico de drogas.
O captagon é um gerador de dinheiro comprovado na região e faz sentido que o Estado Islâmico não apenas faça o tráfego disso, mas também comece a produzir a droga em seus próprios laboratórios improvisados para obter lucro adicional. Não vejo outras opções de financiamento (extorsão de negócios, sequestros para resgate ou roubo de petróleo em pequena escala) que traga dinheiro fácil para eles.
O tráfico do captagon tem a vantagem adicional de permitir que Estado Islâmico estoque grandes quantidades dessas pílulas para suprir o que restou da sua força de combate. A droga é bem conhecida por seu uso pelas forças radicais islâmicas antes de lutar para estimulá-las e mantê-las acordadas por longos períodos de tempo no campo de batalha.
Philipp: O tipo de droga é muito interessante para mim, já que a maioria das drogas sintéticas vem da China. Houve uma reportagem recente no Military Times que dizia que 122 armas de fogo feitas na China foram encontradas num esconderijo do Estado Islâmico no Iraque, e que, em cada rifle, havia de uma a três bolsas cheias de uma droga similar.
Além disso, pelo que entendi, as drogas sintéticas não são como os mercados de ópio que os terroristas podem produzir localmente. Isso me diz que o Estado Islâmico é o intermediário para esse mercado, e não um produtor. Isso levanta a questão de onde a droga se origina. Estou curioso para saber se você tem alguma ideia sobre a origem da droga, como ela pode ser fornecida e qual é a significância da via do tráfego.
Bunker: Além de ser uma droga de combatentes jihadistas, ela também é usada para fins recreativos em toda a região por pessoas mais jovens. Atualmente, isso representa uma indústria multibilionária. A produção do captagon para distribuição no Oriente Médio era inicialmente centralizada na Bulgária, depois foi transferida para a Turquia, e agora está mais focada no Líbano e na Síria. As melhores estimativas agora são que os precursores e pré-precursores para a produção do captagon no Líbano e na Síria estão sendo enviados por meio de contêineres não registrados provenientes da China e da Índia.
Sabe-se que algumas dos equipamentos para produzir o captagon nos laboratórios do Oriente Médio são da China. Embora eu não ignore a possibilidade de algumas das companhias farmacêuticas chinesas mais empreendedoras produzirem produtos “depois do expediente” e tentarem comercializá-los no Oriente Médio para quem quer que os compre.
O esconderijo de “armas de fogo feitas na China junto com drogas” que você mencionou poderia ter sido apreendido das forças do governo local sírio ou das milícias aliadas ou especificamente comercializado para o Estado Islâmico por meio das rotas do mercado negro. A China tem interações comerciais diretas com o regime sírio, o Irã e o Hezbollah, mas não com o Estado Islâmico.
Deve-se notar que o regime sírio e as forças aliadas — como os combatentes do Hezbollah — também usarão pílulas de captagon para fins de desempenho no campo de batalha.
Philipp: Eu sei que o seu livro “Sacrifícios de sangue” (“Blood Sacrifices“) fala sobre o uso de drogas por grupos terroristas. Eu queria saber se você poderia comentar como essa droga se relaciona à cultura e ao sistema de crenças que está sendo formado pelo Estado Islâmico. Eu entendo que eles podem usar o captagon para entorpecer emoções ao cometer atrocidades, mas há algo mais nisso? Eu entendo que a metanfetamina, por exemplo, pode fazer com que os usuários desenvolvam paranoia severa e tendências violentas.
Bunker: O Estado Islâmico se contradiz e mente regularmente em suas afirmações e posturas; isso é o resultado da mistura do islamismo da velha escola, da religião de culto, da criminalidade e da brutalidade que definem o grupo. Por um lado, o fumo, o álcool e o uso de drogas são oficialmente proibidos pelo Estado Islâmico e, por outro, eles emitiram um edito religioso (“fatwa”) para seus combatentes utilizarem o captagon como uma droga de desempenho no campo de batalha. O uso sancionado do captagon é racionalizado porque quando um combatente é “martirizado” em batalha [acreditam eles], todos os pecados passados são apagados mesmo que essa “ajuda [ilícita] no campo de batalha” seja empregada.
O captagon pertence à família das anfetaminas, é altamente viciante e seu abuso leva a extrema depressão e privação do sono, além de outros efeitos colaterais. A privação do sono em longo prazo, claro, leva à alucinação. Então, em certo sentido, estamos em guerra com um bando de combatentes cultistas do Estado Islâmico correndo com rifles de assalto e lançadores de granadas que estão deprimidos, ativamente alucinando e em busca do martírio.