A descoberta de uma “organização” na Itália que roubou dados confidenciais de políticos e instituições levantou sérias preocupações sobre seu tamanho e possíveis vínculos estrangeiros, e vários partidos já estão pedindo um fortalecimento da estrutura nacional de TI e uma lei mais rígida contra a pirataria digital.
Os investigadores advertem em seus documentos, publicados em parte pela imprensa nesta segunda-feira, que a trama foi “perigosa” para a democracia porque, com os dados roubados, “poderia ter deixado cidadãos e instituições em suas garras”.
No sábado (26), o Ministério Público de Milão anunciou a descoberta de uma “organização” que supostamente roubou e vendeu informações confidenciais de bancos de dados estatais “estratégicos” sobre cidadãos, políticos, jornalistas e celebridades.
No centro do caso estão a agência privada Equalize e seus dois proprietários, o presidente da Feira de Milão, Enrico Pazzali, e Carmine Gallo, um policial aposentado que foi colocado em prisão domiciliar, assim como o hacker Samuele Calamucci, também preso, embora 60 pessoas estejam sendo investigadas.
Os réus serão acusados de associação criminosa, acesso ilegal a sistemas de computador, corrupção e divulgação de segredos.
O procurador de Milão, Marcello Viola, explicou que a organização produzia relatórios sobre dados roubados sob encomenda, que eram acessados com a colaboração de funcionários credenciados e, “em alguns casos”, acabavam na imprensa.
Os “clientes” eram escritórios de advocacia e “empresas importantes na Itália e no exterior”, explicou Viola.
Os investigadores temem que os dados roubados possam ter ido parar nas mãos de serviços de inteligência estrangeiros ou máfias e, de fato, o procurador nacional antimáfia, Giovanni Melillo, falou junto com Viola, denunciando a natureza “extremamente alarmante” do caso.
Com base nas interceptações vazadas, supõe-se que o grupo possuía 800 mil relatórios roubados do banco de dados do Ministério do Interior (SDI) por um grupo de hackers supostamente liderados por Calamucci.
Entre os “espionados” estão o presidente do Senado, Ignazio La Russa, o segundo funcionário mais graduado do Estado, e o ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, e há indícios de que, a partir das escutas, interceptaram até um e-mail para o presidente da República, Sergio Mattarella.
Os investigadores dos Carabinieri (polícia militar) também afirmam em um relatório publicado na imprensa que as empresas desse grupo de hackers ganharam 3,1 milhões de euros, principalmente para a Equalize.
Nos últimos meses, vários casos semelhantes vieram à tona na Itália, mais recentemente o de um tenente da Guarda de Finanças (polícia fiscal), Pasquale Striano, acusado de obter muitos dados “sensíveis” entre 2019 e 2020 de celebridades e políticos.
Até mesmo a primeira-ministra, Giorgia Meloni, foi afetada por esses crimes depois de supostamente ter sido espionada por um funcionário do banco Intesa Sanpaolo.
No entanto, o caso atual provocou um abalo na classe política italiana devido às suas dimensões, e o ministro da Defesa, Guido Crosetto, enfatizou sua suspeita de que o que veio à tona até agora “é apenas a ponta do iceberg”.
Por esse motivo, os políticos já estão considerando a possibilidade de endurecer as leis contra esses crimes. O partido ultradireitista Liga, parceiro do governo de coalizão de Meloni, anunciou que proporá um projeto de lei ao Parlamento para “punir mais severamente aqueles que violam a privacidade para extorquir dinheiro”.
Por sua vez, o ministro do Interior, Matteo Piantedosi, responsável pela segurança nacional, ordenou uma investigação sobre esses “buracos” em seu banco de dados e “definir possíveis medidas e processos para a proteção de sua estrutura de TI”.