Por Voz da América
A Espanha assumiu papel fundamental ao pressionar o ditador venezuelano Nicolás Maduro para que altere o curso de seu “regime”, segundo diplomatas espanhóis que falaram com a rádio Voz da América sob condição de anonimato.
Na semana passada, a crise na Venezuela atingiu dimensões importantes, quando houve um êxodo de centenas de milhares de venezuelanos para os países vizinhos, fugidos da hiperinflação, da escassez de alimentos e da violência desenfreada que prevalece sobre aquele que costumava ser o maior produtor de petróleo da América do Sul.
A Espanha adotou abertamente as sanções da União Europeia que visam Maduro e seus principais funcionários.
A mídia estatal venezuelana informou que as medidas que restringem viagens e negócios na Europa por parte de sete altos membros do governo venezuelano surgiram das conversas que Rajoy manteve com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em setembro passado.
Em janeiro, quando as sanções da União Europeia foram aprovadas, o ministro espanhol das Relações Exteriores, Alfonso Dastis, disse que eram um “incentivo para ajudar as negociações” entre Maduro e o partido da oposição, mediadas pelo ex-primeiro-ministro socialista espanhol Rodríguez Zapatero.
Os esforços de Zapatero para fechar um acordo foram criticados pelos opositores de Maduro, que disseram terem sido pressionados a participar das eleições presidenciais de abril.
“Zapatero deixou de ser um árbitro imparcial para atuar como advogado do regime”, disse o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, que escapou de sua prisão domiciliar para a Espanha em dezembro passado.
Laços profundos
Os laços da Espanha com a Venezuela são profundos. Os espanhóis constituem uma das maiores comunidades de expatriados do país, chegando a cerca de 300 mil. A companhia petroleira espanhola Repsol investiu mais de 2 bilhões de dólares na Venezuela e continua operando campos de petróleo e gás no país.
Mas existem influências de ambos os lados. A Venezuela parece ter alguma influência política sobre o PSOE, principal partido socialista espanhol, cujos porta-vozes criticaram os meios de comunicação por darem “exagerada” cobertura aos protestos da oposição no momento em que Zapatero assumiu seu papel de mediador.
A Venezuela também contribuiu com dinheiro para o grupo de extrema esquerda — Podemos — que é considerado a terceira maior força política da Espanha e que derrubou uma resolução do Congresso que condenava a “mão de ferro” de Maduro no poder.
Podemos se uniu ao movimento de oposição do partido Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), um dos principais grupos pró-independência da Catalunha que pode liderar o próximo governo regional.
Em um aparente olho por olho, Maduro exigiu a libertação do vice-presidente do governo catalão, Oriol Junqueras, e condenou a Espanha por bloquear o referendo de 1° de outubro sobre a independência da Catalunha.
Ciberofensiva
Canais estatais venezuelanos se uniram a uma ciberonfesiva russa promovendo o separatismo catalão através das redes sociais.
De acordo com a Ministra da Defesa da Espanha, María Dolores de Cospedal, 32% dos perfis-robô existentes nas redes sociais, utilizados para amplificar o movimento separatista, tinham como base a Venezuela e estavam relacionadas ao PSUV de Maduro.
A líder do partido separatista radical Candidatura de Unidade Popular (CUP), Ana Gabriel, que comparecerá ao tribunal na próxima semana para responder à acusação de rebelião, esteve na Venezuela fazendo campanha para Maduro.
O governo espanhol está investigando a respeito de fundos vinculados a membros do governo venezuelano que foram depositados em Andorra, uma arquidiocese independente que faz fronteira com o norte da Espanha.
No entanto, analistas não esperam que as relações entre Madri e Caracas sejam radicalmente alteradas pelo aumento das tensões.
“Sabemos que Maduro está levando a Venezuela a se tornar outra Cuba e ele está muito perto de alcançar isso”, disse um analista diplomático espanhol. “No entanto, vamos continuar conversando com Maduro da mesma maneira que continuamos conversando com Putin”.
Ledezma disse que pediu a Rajoy que use sua influência com a Venezuela para abrir um corredor de ajuda humanitária proposto pelos países vizinhos.