Eslováquia ameaça cortar benefícios para ucranianos devido ao encerramento de gasoduto russo

O corte do fornecimento de gás russo à UE por Kiev representava uma “séria ameaça” à economia da Eslováquia, disse o primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico.

Por Owen Evans
03/01/2025 19:44 Atualizado: 03/01/2025 19:44
Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.

A Eslováquia ameaça adotar medidas de retaliação contra Kiev, como a “redução significativa do apoio aos cidadãos ucranianos”, após o encerramento do fluxo de gás russo através do território ucraniano em direção à Eslováquia.

Em 1º de janeiro, o contrato principal que transportava gás da Rússia via Ucrânia foi encerrado porque a Naftogaz, estatal ucraniana de gás, optou por não renová-lo.

O primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, cujo país sem saída para o mar e historicamente depende do gás russo via gasodutos, classificou a situação como “sabotagem”.

Em uma mensagem em vídeo postada no Facebook em 2 de janeiro, Fico declarou: “A suspensão do trânsito de gás russo pela Ucrânia até a Eslováquia é nada menos que sabotagem”.

“Isso representa uma séria ameaça à nossa economia, com perdas próximas a €500 milhões por ano. Precisamos de soluções—ou a restauração do trânsito ou compensações pelos danos financeiros”, disse ele.

Fico afirmou que autoridades eslovacas levantarão o assunto em discussões em Bruxelas no dia 7 de janeiro.

“Declaro que [meus colegas do partido Smer-SSD] estão prontos para debater e concordar, na coalizão, sobre a interrupção do fornecimento de eletricidade e a redução significativa do apoio aos cidadãos ucranianos na Eslováquia”, disse Fico.

Há cerca de 125.400 refugiados ucranianos na Eslováquia, segundo o Alto Comissariado da ONU para Refugiados.

“A única alternativa para uma Eslováquia soberana é a renovação do trânsito ou a exigência de mecanismos de compensação que substituam a perda de quase 500 milhões de euros nas finanças públicas”, disse Fico.

Ele se encontrou com o presidente russo Vladimir Putin no Kremlin em 22 de dezembro. O país tem um contrato de longo prazo com a Gazprom, da Rússia.

“O presidente russo, V. Putin, confirmou a disposição da [Federação Russa] em continuar fornecendo gás ao Ocidente e à Eslováquia, o que é praticamente impossível após 1º de janeiro de 2025, devido à postura do presidente ucraniano”, afirmou Fico em comunicado sobre a visita.

No entanto, em 28 de dezembro, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy acusou Fico de abrir uma “segunda frente energética” contra a Ucrânia sob ordens da Rússia.

“Parece que Putin deu a Fico a ordem de abrir a segunda frente energética contra a Ucrânia às custas dos interesses do povo eslovaco”, escreveu Zelenskyy no X.

Fico publicou, em 29 de dezembro, uma carta aberta aos líderes da UE pedindo que reavaliem urgentemente a situação.

Ele afirmou que a Eslováquia está em uma “situação econômica complicada”, sendo forçada a tomar medidas dolorosas para restaurar as finanças públicas.

“Considero absolutamente necessário que o impacto econômico de decisões importantes seja analisado e que posições sejam tomadas com um conhecimento aprofundado do assunto”, disse Fico, acrescentando que não sabia se “toda a questão foi avaliada apenas ideologicamente”.

Ele destacou que, embora o volume de gás que transita pela Ucrânia seja apenas cerca de 3,5% do consumo de gás, é uma quantidade que faz diferença no mercado, resultando em uma “situação tensa para atender à demanda”.

A Eslováquia enfrenta perdas de mais de 400 milhões de euros por ano em taxas de trânsito e 1 bilhão de euros em preços de commodities.

A Ucrânia pode perder cerca de 1 bilhão de euros anuais em taxas de trânsito da Rússia, enquanto a Gazprom perderá aproximadamente 5 bilhões de dólares em vendas de gás, de acordo com o site Oilprice, especializado em mercados globais de energia. 

Fim do fornecimento

O gás natural liquefeito (GNL), transportado por mar em navios especializados, tornou-se cada vez mais importante para o fornecimento de energia na Europa.

Principais portos na França, Bélgica e Espanha recebem carregamentos de GNL, que são então regaseificados e distribuídos por todo o continente.

Em 31 de dezembro, a Direção-Geral de Energia da Comissão Europeia, o departamento responsável por elaborar e implementar a política energética da União Europeia, declarou que a infraestrutura do bloco é “flexível para acomodar gás de origem não russa”.

“Ela também foi reforçada com capacidades significativas de importação de GNL desde 2022. Os níveis de armazenamento, atualmente em 72%, estão ligeiramente acima da média [69%] para esta época do ano”, afirmou o órgão.

Samuel Furfari, ex-alto funcionário da Direção-Geral de Energia da UE entre 1982 e 2018, declarou anteriormente ao Epoch Times que o gás natural liquefeito é “o grande transformador energético”.

Ele afirmou que a situação irá “estimular novos países fornecedores, pois, no passado, os gasodutos eram considerados o único meio de transporte”.

“Isso acabou agora”, disse Furfari.

Reuters e Ryan Morgan contribuíram para este artigo.