Por Anastasia Gubin, Epoch Times
Depois de mais de um ano de investigação, aproximadamente 389kg de cocaína foram descobertos pelo embaixador russo Viktor Koronelli na Argentina. Diplomatas de ambos os países foram detidos, sendo que um deles possui mandado de prisão internacional.
“A cooperação internacional é o elemento central em nossa administração e, em muitos casos, representa a chave para neutralizar o avanço do narcotráfico e do crime organizado”, disse Patricia Bullrich, ao publicar em 22 de fevereiro uma cronologia dos acontecimentos através do Ministério da Segurança.
De acordo com o relatório, em 13 de dezembro de 2016, a ministra Bullrich recebeu um telefonema do embaixador da Federação Russa, Viktor Koronelli, sobre a suposta existência de drogas na escola que funciona no anexo da Embaixada de Buenos Aires.
A las 13hs presentamos una operación internacional de alta jerarquía con funcionarios envueltos en el tráfico de 385kg de cocaína entre BsAs y Moscú. Trabajo en equipo con los jueces Taiano, Ercolini e Iglesias, los Minseg de Rusia y Arg, la Gendarmería y la Policia Nac. de Rusia pic.twitter.com/0IGnWFkDI2
— Patricia Bullrich (@PatoBullrich) February 22, 2018
Ambos imediatamente se reuniram com três membros do serviço federal russo, o comandante geral da Gendarmería, Gerardo Otero, e seu chefe de inteligência, Jorge Domínguez.
Às 23:00 daquele dia e com a presença do juiz portenho Julián Ercolini, eles entraram por uma porta lateral da antiga embaixada russa localizada na Rua Bolívar e fizeram uma análise química de uma substância encontrada em 12 malas que estavam em uma sala da escola.
Três horas depois, as equipes de segurança de ambos os países receberam a confirmação de que se tratava de cocaína de máxima pureza, de modo que uma equipe da Gendarmería comprou 400kg de farinha no Mercado Central e a trocou pelos pacotes encontrados dentro das malas, apreendendo a droga.
Além disso, em cada uma das malas foram instaladas câmeras e unidades de GPS para que se pudesse fazer o acompanhamento a partir de um centro de monitoramento montado em conjunto. Toda a operação foi realizada na mesma noite, antes das 6 horas da manhã, hora em que a equipe da embaixada retorna.
Durante um ano, mantiveram contato entre si o Ministério da Segurança, a Gendarmería Nacional e a Federação Russa, através do Ministério do Interior desse país e do Serviço Federal de Segurança da Rússia.
Ao longo de todo esse tempo, as 12 malas permaneceram na escola, “onde 6 pessoas, entre elas diplomatas, empresários e adidos da embaixada, supunham que estavam de posse de uma carga milionária avaliada em mais de 50 milhões de euros”.
O ministério salienta que a pessoa responsável pelas 12 malas com drogas na escola era funcionário da embaixada russa na Argentina, Ali Abyanov, que precisou retornar ao país e não soube como levar a carga.
Abyanov estava na Europa planejando como retirar e remover a droga com a ajuda de um empresário, apelidado de Sr. K pela polícia, único membro da quadrilha que ainda não foi preso, mas que possui um mandado de prisão internacional emitido pela Rússia.
“O Sr. K facilitava o envio e distribuição da droga da Argentina para a Europa e de lá para o resto do Velho Continente”.
Durante a investigação descobriu-se que, entre 2012 e 2015, um funcionário russo cruzou a fronteira para o Uruguai, embarcando em um voo com uma mala que declarou conter garrafas de vinho. “Ele conseguiu entrar com sucesso na Rússia, e repetiu o procedimento várias vezes, primeiro com 4 malas e depois com 6”.
Isso indica que a rede de tráfico de drogas vem operando há anos.
O Sr. K tem um “contato” na Argentina. “O nome dele é Iván Blizniouk, sub inspector da polícia de Buenos Aires, adido na embaixada da Rússia em Buenos Aires, poliglota e naturalizado argentino aos 18 anos (quando decidiu deixar a Rússia para encontrar novos rumos). Blizniouk é encarregado de trasladar as malas (que ele acredita terem cocaína) para o outro lado do mundo, com seu companheiro de vida e amigo, Alexander Chikalo”.
Blizniouk obteve um diploma de Técnico Universitário em Segurança Marítima na Prefeitura Naval Argentina. Na Rússia, formou-se como técnico superior em Linguística e Literatura Russa e especialista em Patrulha e Segurança Pública na Universidade de Moscou, segundo o jornal Sputnik.
Em São Petersburgo, se especializou em criminalidade e terrorismo na Universidade do Ministério do Interior. Em 2013, ingressou na Polícia Metropolitana da Cidade de Buenos Aires e serviu como assistente na Direção da Inteligência Criminal.
De acordo com o jornal Clarín, o Ministério da Justiça e Segurança de Buenos Aires disse que Ivan Blizniouk é membro do Instituto Superior de Segurança Pública (ISSP) desde o ano passado. “Devido à sua facilidade com o idioma, ele serviu como elo de ligação com o Ministério do Interior da Rússia com o qual a Polícia da Cidade tem um acordo: vários agentes da Cidade foram a diferentes institutos daquele país para capacitar-se e realizar cursos”.
Blizniouk e Chikalo “fizeram três tentativas ao longo de 2017 de embarcar a droga, até que finalmente o próprio governo russo providenciou um avião, aproveitando uma viagem oficial à Argentina”. Todo o processo foi feito sob a vigilância de ambos os países.
As malas foram embarcadas no avião em 9 de dezembro. “Em Moscou, no dia 12 de dezembro, três agentes da Gendarmería Nacional Argentina esperavam ‘ansiosos’ pelas pessoas que iriam retirar as malas para prendê-las de forma imediata”.
A tensão durou 48 horas, até que Vladimir Kalmykov e Ishtimir Khudzamov se aproximaram do balcão para reivindicar a bagagem. Ambos foram detidos imediatamente.
Ao mesmo tempo detiveram Abyanov, funcionário que viajou da Argentina para a Rússia sem poder levar suas malas na primeira oportunidade. Em Buenos Aires, esta semana, a Gendarmería Nacional também prendeu Blizniouk e Chikalo.
“Mais de um ano de investigação em equipe, com a Justiça de ambos os países e governos, foi essencial para desbaratar a quadrilha”, disse a ministra Patricia Bullrich.