O Ministério das Relações Exteriores brasileiro (Itamaraty) emitiu comunicado direcionado aos brasileiros – sejam moradores, em viagem agendada ou a caminho da Venezuela – para que fiquem em alerta diante da segurança no país vizinho. Publicado na segunda-feira (29), o motivo do alerta são os protestos da população venezuelana contra a autoproclamada “reeleição” do ditador Nicolás Maduro, que já resultou em mortos e feridos.
Realizado no domingo (28), o processo eleitoral venezuelano foi repudiado e condenado por parte da comunidade internacional, que denunciou haver fraude nas urnas. O pleito foi marcado por irregularidades, como proibições de acesso às atas eleitorais e censura e prisão de eleitores, segundo fiscais e integrantes da oposição.
O anúncio na madrugada de segunda-feira (29) do Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE) – órgão que equivale ao Tribunal Superior Eleitoral brasileiro – comunicando a “vitória” de Maduro foi o estopim para os protestos. Iniciadas em meio à vigília convocada por oposicionistas na noite de domingo, as manifestações continuam e só aumentam no país vizinho.
Confira a nota completa do Itamaraty:
“Em vista dos recentes acontecimentos na Venezuela, o Ministério das Relações Exteriores recomenda que brasileiros e brasileiras residentes, em trânsito ou com viagem marcada no país acompanhem a página e as mídias sociais da Embaixada do Brasil em Caracas, mantenham-se informados sobre a situação de segurança nas áreas onde se encontram e evitem aglomerações.
A Embaixada do Brasil em Caracas permanece atenta à situação das cidadãs e dos cidadãos brasileiros no país e disponibiliza, em caso de emergência envolvendo seus nacionais, o seu plantão consular, +58 414-3723337 (com whatsapp).
O plantão consular geral do Itamaraty pode ser contatado por meio do telefone +55 (61) 98260-0610″.
Brasil aguarda “apuração final” para se manifestar
Embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja aliado histórico de Maduro, o governo brasileiro ainda não reconheceu o resultado da eleição.
O ditador venezuelano convocou embaixadores de outros países para reunião na qual ele proclamaria sua própria vitória no pleito. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, chegou a orientar a embaixadora do Brasil na Venezuela, Glivânia Maria de Oliveira, a não comparecer ao encontro.
A ordem do Itamaraty se estendeu a todos os funcionários da embaixada brasileira em Caracas. A decisão teve como objetivo sinalizar que o Brasil não reconheceu automaticamente a autoproclamada vitória de Maduro.
Após evento no Ministério da Justiça, o chanceler brasileiro se manifestou. “Está complicado. Mas não vou falar nada agora porque ainda estamos… Temos que esperar a apuração final e tão logo a gente se manifesta“, disse Vieira na terça-feira (30) a jornalistas.
González venceu a eleição, defendem oposição e OEA
Com dados mais recentes, a líder antichavista María Corina Machado, apoiadora do candidato oposicionista Edmundo González Urrutia, afirmou poder comprovar a fraude. Ela sustentou que, após ter acesso a cópias de 73,20% das atas eleitorais, González obteve 6.275.180 votos, contra 2.759.256 para Maduro.
“Quero destacar que todas as atas foram inspecionadas, digitalizadas e disponibilizadas em um portal web robusto. Estou emocionada ao anunciar que temos 73,20% das atas e, com esse resultado, nosso presidente eleito é Edmundo González”, declarou Corina a jornalistas, na segunda-feira (29).
Ou seja, mesmo que o ditador tivesse recebido todos os 26,80% dos outros votos, ainda assim não alteraria a vitória da oposição. O candidato oposicionista também se manifestou sobre os dados.
“Temos em nossas mãos as atas que comprovam nossa vitória, de maneira matemática e irreversível. Esta é uma vitória histórica. Conquistamos locais onde as forças democráticas não venciam há 25 anos. Queremos que a vontade dos venezuelanos que votaram ontem seja respeitada”, reivindicou González.
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, defende que Maduro deve aceitar a derrota. “O manual completo de gestão fraudulenta do resultado eleitoral foi aplicado na Venezuela na noite de domingo, em muitos casos de forma muito rudimentar”, avaliou Almagro em comunicado.