O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, criticou o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante entrevista com o apresentador Luciano Huck divulgada na quarta-feira (28). Dentre outras críticas, Zelensky questionou o porquê de o governo brasileiro “estar junto” da Rússia, China, Irã e Coreia do Norte.
“Tive uma reunião com o presidente Lula e vi que ele me entendeu. Porque tivemos um diálogo muito bom, realmente bom. Estou agradecido por isso, mas ele vive as narrativas da União Soviética. É uma pena. Ele pensa na Rússia como se hoje ainda existisse a União Soviética”, observou Zelensky.
O líder ucraniano foi além: “A China é um país democrático? Não. E o que dizer sobre o Irã? É um país democrático? Não. E o que dizer da Coreia do Norte? Eles não são países democráticos. Então, o que o Brasil, um grande país democrático, faz nessa companhia?”, provocou.
Segundo o mandatário da Ucrânia, “é normal quando você tem relações econômicas, mas estamos falando sobre uma guerra, não é sobre relações econômicas. É sobre geopolítica, é sobre valores, é sobre pessoas. É sobre democracia, propósito e liberdade”.
Neste sentido, o ucraniano questionou: “O que um país democrático e livre como o Brasil está fazendo junto com países que não respeitam estes valores? Quem vai ganhar essa queda de braço? O Brasil vai engolir esses quatro aliados ou esses quatro aliados vão engolir o Brasil?”.
Quando perguntado por Huck sobre o que pensa a respeito da postura de neutralidade do Brasil na guerra entre Rússia e Ucrânia, Zelensky foi incisivo.
“Isso é apenas retórica política. Não é uma fala honesta. Não é honesta nem conosco nem com o povo brasileiro. Porque todo mundo sabe quem iniciou essa guerra. A equipe dele trouxe uma resolução para nós, antes do ‘encontro pela paz’ que organizamos, mas o Brasil não quis vir, o presidente Lula não quis vir”, reclamou o europeu.
Sobre a possibilidade do fim da guerra entre Rússia e Ucrânia, o presidente ucraniano alega que tem um plano de paz e pretende apresentá-lo até novembro, mas disse não saber se os russos concordarão.
Huck disse que foi à Ucrânia para ouvir o presidente ucraniano e, nas suas palavras, “ver de perto o que está acontecendo na terra de 3 dos meus 4 avós, onde estão minhas raízes familiares”.
Antes da entrevista, Huck deixou hotel às pressas
O apresentador teve que deixar o hotel onde estava, na Ucrânia, às pressas antes de entrevistar Zelensky. O brasileiro foi encaminhado a um abrigo após um ataque aéreo russo. Huck relatou que não conseguiu dormir na primeira madrugada que passou em Kiev, capital ucraniana.
“Os alarmes agudos soaram a partir das 3h. Sirenes nas ruas, alertas no celular, chamados nos alto-falantes do hotel, o alerta veio de todos os lados. Parecia um filme, mas era vida real. Hóspedes e funcionários foram prontamente encaminhados ao abrigo antiaéreo, no subsolo”, relatou o apresentador.
“Minha primeira madrugada em Kiev, capital da Ucrânia, foi em claro, à mercê de um dos mais amplos e intensos ataques aéreos que a Rússia lançou desde o começo da guerra. Foram 127 mísseis e 109 drones, a maioria deles tendo como alvo instalações de infraestrutura”, acrescentou Huck.