Em “ato simbólico”, representante da Venezuela recebe sede da embaixada no Brasil de MST e outros grupos radicais

Por agência efe e renato pernambucano
03/01/2023 17:50 Atualizado: 03/01/2023 19:54

O presidente do Parlamento da Venezuela, Jorge Rodríguez, recebeu nesta segunda-feira – de forma simbólica – a sede da embaixada venezuelana no Brasil das mãos de movimentos radicais que a ocuparam para evitar que fosse “tomada” por representantes do líder opositor Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino venezuelano pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, o governo dos EUA, e, durante determinado período, a União Europeia, entre outros.

O reconhecimento a Nicolás Maduro havia cessado por esses entes devido ao entendimento de que as eleições de 2018 na Venezuela, que declararam Maduro reeleito, foram fraudulentas ou ilegítimas. As suspeitas sobre a disputa catalisaram represálias crescentes ligadas ao histórico de direitos humanos do regime socialista do país, à imposição de autoritarismo e às evidências investigadas internacionalmente de laços do Estado ao crime organizado e ao narcotráfico.

O fundador e dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) do Brasil, João Pedro Stédile, liderou o ato, transmitido pelo canal estatal “Venezolana de Televisão” (VTV), no qual disse que esta entrega “simbólica” é uma demonstração da reconstrução das relações entre Venezuela e Brasil.

Por seu lado, Rodríguez, que está no Brasil desde domingo como representante do governo venezuelano para participar na cerimônia de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, lembrou que, em 2019, seguidores de Guaidó tentaram “tomar” esta embaixada e que movimentos radicais brasileiros defenderam as instalações.

“Estou muito orgulhoso de todos vocês e muito grato aos movimentos populares do Brasil que aqui ficaram e são os que permitem hoje, que nos dão esta casa. Nunca a Venezuela esquecerá o gesto, nunca esquecerá a solidariedade”, disse o parlamentar.

Após Lula ser declarado vencedor das eleições presidenciais de 2022, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, expressou a sua “melhor disposição e boa vontade para reforçar juntos os laços de amizade”.

Pela sua parte, Lula, que manteve uma amizade muito estreita com o falecido presidente venezuelano Hugo Chávez e tem laços semelhantes com Maduro, disse que uma vez que tomasse posse, restabeleceria relações com a Venezuela em todos os níveis.

O restabelecimento dos laços foi oficializado no domingo, quando Rodríguez marcou presença na cerimônia de posse, na qual Lula reforçou o seu firme compromisso ao que o petista classifica como “combate a desigualdades”.

Ditadura na Venezuela 

E o ex-chanceler Ernesto Araújo, que cessou o reconhecimento do Brasil ao regime de Nicolás Maduro e vetou a presença de líderes autoritários latino-americanos de Cuba e da Venezuela na posse do agora ex-presidente, Jair Bolsonaro, comentou o retorno dos laços entre Brasília e Caracas em entrevista exclusiva cedida ao Epoch Times e à rede NTD, em dezembro.

Ernesto destacou que: “Um dos meus primeiros atos, uma das primeiras medidas que tomei, antes mesmo de assumir, como ministro nomeado , foi justamente não convidar o “presidente” Maduro, nem o “presidente” de Cuba, Díaz-Canel, para a posse do presidente Bolsonaro; porque a posse é para países que sejam não só amigos do Brasil, mas amigos da liberdade no mundo. Não é para países que estão escravizando seus povos e exportando, há décadas no caso de Cuba, e há anos no caso da Venezuela, a opressão e o narco-socialismo pela região inteira.

Agora nós vemos um ato de, aparentemente, querer convidar o Maduro para a posse de Lula. Então isso é realmente simbólico de duas visões muito diferentes de mundo. Eu acho que o Lula traz essa visão de que, na superfície, há a ‘máscara’ do ‘temos boas relações com todo o mundo’. É a desculpa: ‘São nossos vizinhos… e a integração latino americana’. E aí levantamos o capô do carro e vemos aquele motor da corrupção, do tráfico de drogas, funcionando plenamente.”

O ex-chanceler apresentou um panorama das influências do regime de Maduro e como ele se tornou uma espécie de Disneylândia do crime:

“Na Colômbia, o presidente pró-drogas que assumiu, Petro, uma das primeiras coisas que fez foi reatar com Maduro. Não é simplesmente por amizade, não é simplesmente para jogar biriba no fim de semana, claro que não, é porque eles querem melhorar a coordenação no narcotráfico. Querem melhorar a coordenação no apoio ao terrorismo. E infelizmente, nós vemos o Brasil indo por essa linha. Nada de bom pode vir de uma associação com o regime venezuelano. O regime venezuelano é hoje, digamos assim, a ‘holding’ de várias organizações criminosas. A Venezuela hoje é uma espécie de Disneylândia do crime.

Praticamente todas as organizações criminosas da região e algumas de fora da região estão lá. Lavam dinheiro, traficam – traficam não só drogas, mas traficam pessoas. Isso tudo também está ligado à crise migratória nos Estados Unidos. Está ligado à desestabilização de praticamente todos os países da América do Sul. Então é isso que parece que um governo Lula quer prestigiar. É também um reflexo do que chamamos de nominalismo: “Se é um país vizinho, então temos que ter boas relações”. Não! Temos que entender qual é o conteúdo dessas relações e também, no nosso caso… nada contra a Venezuela. Alguns falam: “Ah, vocês não querem boas relações com a Venezuela?”. Claro que queremos! É uma nação amiga, o povo venezuelano. Mas essa nação, esse povo, está sujeito a uma usurpação, uma opressão por parte de um regime completamente ilegítimo.”

Ernesto Araújo finalizou lamentando o apoio brasileiro ao regime socialista no país vizinho e ressaltou que uma atitude amigável à Venezuela seria, no sentido contrário, opor o autoritarismo que assola o país:

“Então como nós sinalizamos a nossa amizade com a Venezuela enquanto nação, com o povo venezuelano, enquanto povo irmão? Como sinalizamos? Apoiando a volta da democracia à Venezuela, no nosso caso, contra Maduro e em apoio a um governo legítimo de Juan Guaidó. É isso que é. Por que? Porque a Venezuela, além de exportar esse modelo de narco-socialismo, de corrupção e terrorismo, ela oprime seu próprio povo. É um país que praticamente já expulsou mais de 20% da população. Isso praticamente não tem precedentes no mundo, de 30 milhões de habitantes, 7 milhões já saíram da Venezuela. Então, qual é o sinal que estamos passando? O sinal de que o Brasil quer fazer parte de tudo isso. Eu acho lamentável.”

A entrevista completa pode ser conferida aqui.

Marcos Schotgues contribuiu para está notícia.

 

Entre para nosso canal do Telegram

Assista também: