Por Charles Pensulo, Especial para o Epoch Times
BLANTYRE, Malauí – Centenas de pessoas continuam expostas ao vírus Ebola na República Democrática do Congo (RDC), aumentando os temores de que a doença se espalhe para os países vizinhos e para toda a região.
A equipe da Organização Mundial da Saúde (OMS), na República Democrática do Congo, relatou 70 a 80 casos por semana.
No total, 2.758 casos e 1.819 mortes foram registrados desde agosto de 2018, quando a primeira pandemia eclodiu nas províncias do norte do Kivu do Norte e Ituri.
“A taxa atual de transmissão pode ser descrita como intensa”, disse Margaret Harris, porta-voz da equipe de resposta da OMS na RDC, ao Epoch Times.
Harris disse que o risco de transmissão no país e na região é alto, embora tenha minimizado o risco para o resto do mundo.
Recentemente, um homem morreu em Goma, uma área perto da fronteira com Ruanda, depois de ter sido infectado uma semana antes. Teme-se que sua esposa e um filho também possam ter sido expostos ao vírus. Desde então, Ruanda estabeleceu um posto de triagem em sua fronteira com a RDC.
Desafios da resposta ao surto
O surto atual na RDC – o segundo maior da história após o surto na África Ocidental que matou milhares de pessoas há alguns anos – foi declarado uma emergência internacional de saúde pública pela OMS em julho.
Mas instituições de caridade da área da saúde e funcionários do governo levantaram alarmes sobre os desafios enfrentados pela resposta ao surto, não apenas por causa de uma aguda escassez de financiamento. A instabilidade no país, alimentada pelo conflito entre o governo e a milícia, torna perigoso para as equipes médicas identificarem alguns dos focos da doença.
Os trabalhadores médicos estão constantemente sob ataque.
Harris, no entanto, enfatizou que o conhecimento local do vírus é essencial, citando o exemplo da África Ocidental, onde o vírus se espalhou rapidamente porque “as pessoas não tinham experimentado isso antes”.
“Quanto mais as pessoas locais são treinadas sobre como lidar com isso, mais chances de controlar o vírus”, disse ela.
A RDC tem uma vasta geografia e, enquanto algumas áreas do país com experiência sobre o vírus conseguiram responder rapidamente, o oposto aconteceu em Kivu do Norte.
Como Kivu é uma área com uma cultura diferente, uma longa história de conflito e nenhuma experiência com o Ebola, demorou mais para o vírus ser reconhecido e para a comunidade entendê-lo.
“O maior desafio para a resposta é o medo e o pânico – as pessoas escondem seus sintomas porque têm medo das consequências geradas ao serem identificadas com Ebola”, disse Harris.
Pânico regional
A pandemia trouxe pânico à região, e alguns países vizinhos montaram verificações de seleção em suas fronteiras.
No início de agosto, o governo moçambicano anunciou a criação de pontos de rastreio nas suas fronteiras com o Malawi, citando um caso “suspeito” mas não confirmado no Malaui.
Isto significa que os viajantes de Malaui – que não faz fronteira direta com a RDC – serão monitorizados para evitar que o surto de Ebola na República Democrática do Congo se alastre para Moçambique, disse a repórteres Hidayate Kassim, diretor provincial de saúde da região da Zambézia.
O governo do Malaui, no entanto, negou o suposto caso reiterando sua posição de que não há Ebola no país.
“No entanto, devido aos recentes desenvolvimentos relacionados ao Ebola na República Democrática do Congo (RDC), o Ministério… continua a tomar medidas para preparar, prevenir, detectar e tratar qualquer caso de Ebola no país”, de acordo com uma declaração do Ministério da Saúde e População do Malaui.
Joshua Malango, porta-voz do ministério, disse que não há restrições atuais de viagem entre o Malaui e seus vizinhos, acrescentando que não há necessidade de “alarmes desnecessários”.
Coincidentemente, o Departamento para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido, através da UNICEF, forneceu 478.000 libras (US$ 581.000) para ajudar nos programas de prevenção do Ebola, de acordo com a declaração do ministério.
“Os fundos vão, entre outras coisas, ser usados para treinar 500 profissionais de saúde nos distritos fronteiriços e nos portos de entrada”, diz o comunicado.
George Jobe, diretor executivo da organização local Malawi Health Equity Network, disse que a questão é algo que o Malaui deveria se preocupar.
“A intervenção de Moçambique, embora tenha sido provado que o caso registrado em Malaui não era verídico, pode apenas fornecer uma lição ao país para conduzir a triagem em seus pontos de entrada na fronteira”, disse Jobe em uma resposta por e-mail.
Ele exortou o governo de Malaui a considerar o envio de trabalhadores de saúde com os conhecimentos relevantes para escoltar os soldados de Malaui que operam na RDC.
“O Malaui não deve ficar apenas preocupado com a possibilidade de um soldado trazer o Ebola para o país, mas podemos reforçar a nossa prevenção, fornecendo apoio adicional de proteção para eles também, já que eles são cidadãos deste país prestando um serviço nobre”, acrescentou.
O Malaui, a Tanzânia e a África do Sul são alguns dos países da região da RDC cobertas pelas missões de manutenção da paz da ONU.