Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.
É improvável que Moscou forneça assistência a Pequim no caso de uma guerra prolongada entre a China e uma coligação liderada pelos EUA no Indo-Pacífico, de acordo com o especialista em história militar russo David Stone.
“Acho que, a curto prazo, é extremamente improvável que a Rússia participe, e parte disso simplesmente tem a ver com os compromissos que a Rússia tem com a guerra na Ucrânia; simplesmente não sobram muitos recursos para disponibilizar”, disse Stone, atualmente professor William E. Odom de Estudos Russos no Departamento de Estratégia e Política do U.S. Naval War College, durante um podcast realizado em 6 de janeiro pelo China Landpower Studies Center da instituição.
Stone apontou para a recente queda do regime de Bashar al-Assad na Síria, onde a Rússia tem uma base aérea na província oriental de Latakia e uma base naval perto da cidade costeira de Tartus. Embora a Rússia “tenha muitos interesses concretos em jogo” na Síria, disse Stone, Moscou “parecia não ter recursos disponíveis para tentar apoiar o regime de Assad”.
“Se os russos não estão em posição de fornecer apoio cinético a um aliado direto em defesa de seus próprios interesses, pelo menos no curto prazo, é impossível imaginar que eles teriam muito a oferecer aos chineses no caso de uma guerra prolongada no Pacífico agora”, disse Stone.
Moscou concedeu asilo a Assad e à sua família, de acordo com a mídia estatal russa.
O líder do Partido Comunista Chinês (PCCh), Xi Jinping, e o governante russo, Vladimir Putin, estreitaram os seus laços a uma parceria “sem limites” em fevereiro de 2021, poucas semanas antes de a Rússia invadir a Ucrânia. Em 2023, o comércio bilateral entre os dois países atingiu um novo recorde de US$ 240,1 bilhões, um aumento de 25% em relação ao ano anterior, de acordo com dados alfandegários oficiais da China.
A China tem fornecido apoio indireto à guerra da Rússia. Falando em Paris no dia 8 de janeiro, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou que a China está apoiando as bases industriais da Rússia com itens como máquinas-ferramenta e microeletrônicos, permitindo que Moscou continue fabricando armas e munições para sua agressão contínua na Ucrânia.
A postura da Rússia em ajudar a China pode mudar após o fim da guerra na Ucrânia, acrescentou Stone, mas a probabilidade de a Rússia ajudar em uma guerra envolvendo a China ainda seria baixa.
“Não vejo isso como particularmente provável, mesmo a longo prazo, mas trata-se de um conjunto diferente de restrições e de razões diferentes”, disse Stone.
Restrições
Quando a guerra na Ucrânia terminar, Stone disse que a Rússia desejará reconstruir seus estoques de armas, mas poderá enfrentar dificuldades para fazê-lo.
“A economia russa está sob grande pressão. As taxas de juros estão altas. A inflação está alta. A Rússia enfrenta uma grande escassez de mão de obra. Eles estão se esforçando muito para manter o nível atual de produção de equipamentos militares”, explicou Stone.
“E não está claro que, após o fim da guerra, isso será sustentável. Portanto, não se pode simplesmente assumir que o que a Rússia está produzindo agora continuará sendo o caso daqui a cinco ou dez anos”.
De acordo com o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, a Rússia lançou um total de 11.466 mísseis contra alvos na Ucrânia entre 28 de setembro de 2022 e 1º de setembro de 2024.
Stone acrescentou que a decisão de Moscou em apoiar a China também seria influenciada pela localização do conflito. Uma guerra na península coreana seria mais importante para a Rússia do que uma no Mar do Sul da China, disse ele.
As guerras nessas regiões seriam lutadas de maneiras diferentes, explicou Stone. Um conflito na península coreana exigiria mais sistemas militares terrestres. Por outro lado, uma guerra envolvendo as Ilhas Senkaku no Mar da China Oriental ou Taiwan daria prioridade a sistemas aéreos e navais, disse ele.
“Há um limite para o quanto a Rússia pode transferir para os chineses, dada sua limitação na velocidade de produção”, disse Stone, acrescentando que Moscou produz sistemas avançados de ar e mar “muito lentamente”, mas aumentou sua capacidade de fabricar mísseis guiados e de cruzeiro devido à guerra na Ucrânia.
Stone destacou que a Rússia atualmente precisa de produtos chineses para sustentar sua base industrial. Parece improvável que a China continue enviando esses tipos de bens para a Rússia se uma guerra contra a coalizão liderada pelos EUA não correr bem, o que restringiria a capacidade da Rússia de produzir armas e enviá-las à China, acrescentou Stone.
Outro fator é o tempo que levaria para uma possível guerra da China ocorrer após o término da guerra na Ucrânia, disse Stone.
“Essas são as variáveis que acho que precisamos considerar”, disse Stone. “E todas essas ainda estão, creio eu, no ar”.
A China reivindica Taiwan como parte de seu território e ameaça tomar a ilha usando força militar. Em outubro de 2023, uma declaração de Putin classificando Taiwan como parte da China gerou críticas do Ministério das Relações Exteriores de Taiwan.
“China e Rússia estão conspirando para promover o expansionismo autoritário e representam uma ameaça aos valores fundamentais de democracia, liberdade, estado de direito e direitos humanos”, disse o ministério taiwanês em uma declaração na época.
Relação
Xi e Putin se reuniram várias vezes nos últimos anos, a mais recente em Kazan, na Rússia, durante a 16ª cúpula do BRICS, que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
De acordo com um comunicado da imprensa chinesa sobre o encontro, Putin disse a Xi que a Rússia “espera aprofundar ainda mais a cooperação com a China”.
Em dezembro, a agência estatal russa RIA News informou que Xi visitará a Rússia este ano, citando o embaixador russo na China.
Stone afirmou que não vê nada abalar o relacionamento sino-russo no curto prazo, já que os dois vizinhos “enxergam um grande interesse comum em tentar enfraquecer uma espécie de ordem mundial ocidental”.
“A longo prazo, acredito que há várias tendências que irão afastá-los”, disse Stone.
Ele mencionou os exercícios militares Vostok da Rússia em 2010 e 2014, afirmando que essas manobras foram projetadas para considerar a China como um inimigo potencial. “2014 não foi há tanto tempo. Então, acho que há alguma preocupação russa sobre as perspectivas de longo prazo do relacionamento Rússia-China”, disse Stone.
De acordo com Stone, o Extremo Oriente da Rússia, a Ásia Central e o Ártico são três áreas potenciais que podem afastar os dois vizinhos.
A Ásia Central é frequentemente chamada de quintal da Rússia devido aos laços políticos, econômicos e de segurança com Moscou. Nos últimos anos, a China aumentou sua influência na região, particularmente por meio de sua Iniciativa do Cinturão e Rota (Belt and Road Initiative, ou BRI), também conhecida como Um Cinturão, Uma Rota (One Belt, One Road, OBOR).
Em relação ao Ártico, Stone acredita que as duas nações podem eventualmente ter visões divergentes sobre como a região deve ser governada e como seus recursos devem ser utilizados.
Em julho do ano passado, o Pentágono emitiu um novo plano para o Ártico, com o objetivo de combater a cooperação entre Rússia e China na região.
“Uma grande parte desses laços bilaterais dependerá de quanto tempo Vladimir Putin permanecerá no poder e quanto tempo Xi Jinping continuará no comando. E não há como saber a resposta para essas perguntas”, disse Stone.
A Reuters contribuiu para este artigo.