Membros do regime da Nicarágua expropriaram as casas da poetisa e romancista Gioconda Belli, de seu filho Camilo de Castro e dos ex-chanceleres Francisco Aguirre Sacasa e Norman Caldera, conforme eles mesmos denunciaram nesta terça-feira (12).
Também foram expropriadas as casas do ex-membro da junta de governo Moises Hassan, do defensor dos direitos humanos Gonzalo Carrión e da ativista Haydée Castillo, todos privados de sua nacionalidade pelas autoridades.
“Ontem, a ditadura de Ortega Murillo consumou o confisco de minha casa em Manágua, enviando a polícia para ocupá-la. É uma casa que conterá para sempre a memória de minha energia criativa, a marca de meus livros e a paisagem que eu mais amava. O que eu era permanece em mim”, denunciou Gioconda Belli, de 74 anos, ganhadora do Prêmio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana, em sua conta na rede social X (ex-Twitter).
“Os tiranos acreditam que podem subjugar as pessoas despojando-as do que lhes pertence. Perdi minha casa ocupada ontem pela polícia, mas eles, imersos em paranoia e mentiras, perderam seus valores, sua história, transformaram-se em tiranos doentios, dignos de repúdio”, acrescentou.
Belli disse que a poesia a abraçou “nesta tarde em que se consuma o roubo de minha casa pela ditadura”.
O cineasta, ativista e ambientalista Camilo de Castro, filho da escritora, também denunciou a ocupação de sua casa.
“A ditadura de Ortega Murillo, por meio da PGR (Procuradoria Geral da República) e da polícia, consumou o roubo de minha casa na Nicarágua. Recebemos a notícia com indignação e tristeza, mas estamos determinados a continuar denunciando a ditadura e lutando por um país diferente. Eles nunca vão nos dobrar ou nos silenciar!”, escreveu ele na rede social X.
No caso de Aguirre Sacasa, que foi ministro das Relações Exteriores durante o governo de Arnoldo Alemán (1997-2002), foram expropriadas uma casa e uma fazenda localizadas nos arredores de Manágua. No de Caldera, chanceler no governo de Enrique Bolaños (2002-2007), uma casa.
“País sem lei”
Hassan, que foi membro da junta governamental após a derrubada da ditadura de Anastasio Somoza Debayle em 1979, confirmou ao jornal La Prensa que policiais chegaram no domingo para tomar sua casa em Manágua, avaliada em US$ 300 mil.
Ele declarou-se ofendido, agredido e afirmou que “a Nicarágua é um país sem lei, onde os direitos da população não são respeitados”.
O defensor dos direitos humanos e fundador do Coletivo de Direitos Humanos, Nicarágua Nunca Más, Gonzalo Carrión, foi o primeiro a denunciar a expropriação de sua casa, que, segundo ele, está avaliada em US$ 70 mil e acabou de ter financiamento quitado junto a um banco ligado ao Exército nicaraguense.
“Aqueles que ordenam e executam as ações são criminosos contra a humanidade e ladrões. Como defensor dos direitos humanos, eles não conseguirão atingir o objetivo de nos silenciar. O confisco é uma ação maligna”, disse ele.
Confisco de pessoas com nacionalidade cassada
As autoridades do regime cassaram a nacionalidade de 94 nicaraguenses em 15 de fevereiro, elevando o total de pessoas afetadas por essa medida para 317, incluindo o bispo Rolando Álvarez, que foi condenado a mais de 26 anos de prisão depois de se recusar a ser banido pela ditadura de Daniel Ortega para os Estados Unidos.
O Tribunal de Apelações de Manágua ordenou então “a imobilização e o confisco em favor do Estado da Nicarágua de todos os imóveis e empresas que os réus registraram em seu favor, seja pessoalmente ou como pessoas jurídicas ou empresas das quais participam como sócios, para responder pelos crimes cometidos”.
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