A Patrulha de Fronteira dos Estados Unidos (border patrol) enfrenta rotineiramente traficantes de drogas, membros de cartéis e de gangues, traficantes de pessoas e outros criminosos que atravessam ilegalmente a fronteira. Os criminosos jogam pedras, disparam armas, agridem e chutam.
Os agentes são a primeira linha de defesa contra o fluxo ilegal de pessoas e contrabando, que atravessam principalmente a fronteira sudoeste de 3.200 quilômetros de comprimento (2.000 milhas).
Os ataques contra agentes aumentam à medida que a fronteira se fecha e as pessoas ficam ainda mais desesperadas para escapar dos controles.
O aumento foi de 73% no ano fiscal de 2017, dos quais 786 casos foram notificados por agentes da patrulha de fronteira. Em comparação, houve 454 no ano fiscal de 2016.
A região do Vale do Rio Grande, no Texas, é o mais perigoso para os agentes, com 357 ataques registrados no ano fiscal de 2017 até o final de agosto, quase o triplo do ano fiscal de 2016, com 136 ataques.
A Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP, sigla em inglês), da qual a patrulha de fronteira depende, não quis especular sobre o motivo do salto quantitativo. “Não especulamos sobre a causa do aumento”, disse um porta-voz.
No entanto, Chris Cabrera, agente de fronteira do Vale do Rio Grande e porta-voz do Conselho Nacional de Patrulhamento de Fronteiras, disse que vê vários fatores por trás desse aumento.
Falta de recursos humanos
A área compreendida pelo Vale do Rio Grande tem o maior fluxo de travessias ilegais do país. No ano fiscal de 2017, a grande maioria das quase 304 mil pessoas que cruzaram ilegalmente o fizeram nessa região. Muitos foram classificados como menores não acompanhados e unidades familiares (pelo menos um adulto e uma criança), que procuravam a patrulha da fronteira para que pudessem ser classificados como casos de pedido de asilo e assim poder entrar nos Estados Unidos.
“Muitos agentes ficam retidos na estação registrando os menores não acompanhados e as mulheres e crianças que chegam, portanto, não estamos tão presentes no campo como gostaríamos”, disse Cabrera.
Os patrulheiros geralmente trabalham no campo, mas estão em constante comunicação e pedem suporte sempre que necessário.
Os atuais 19.437 agentes estão bem abaixo dos 21.370 postos solicitados pelo Congresso, e o presidente Donald Trump quer 500 agentes extras em 2018. Ele destinou 300 milhões de dólares do orçamento de 2018 para o recrutamento, a seleção e o treinamento de 500 novos agentes da patrulha. O orçamento de 2017 para a patrulha foi de 3,8 milhões.
Embora o número total de imigrações ilegais tenha sido menor neste ano, em grande parte devido ao foco da administração Trump na contenção da imigração ilegal, os números desde maio continuaram subindo até níveis semelhantes aos dos últimos anos.
Cabrera declarou ao Congresso em março de 2015 que “no máximo, detivemos de 35 a 40% dos imigrantes ilegais que tentavam atravessar. O número é ainda menor para traficantes de drogas que são muito mais habilidosos para evitar a captura”.
Sistema judicial
Embora a incorporação de mais pessoal na área seja muito útil, o principal problema para Cabrera é o sistema judicial, que não pune os agressores de agentes.
“Os promotores nos Estados Unidos são bastante gentis com os criminosos que atacam nossos agentes”, disse ele. “Os criminosos então não hesitam em atacá-los porque sabem que não serão presos”.
Os ataques realizados contra agentes da patrulha da fronteira são investigados pelo FBI, que apresenta os casos aos promotores.
Estatísticas do FBI mostram que 476 suspeitos foram identificados em 503 ataques e apresentados a oficiais do Departamento de Segurança Nacional (Homeland Security). Isso inclui a patrulha da fronteira, o serviço secreto e a CBP.
Dos 476, apenas 19 casos apresentam informações disponíveis sobre seu desfecho. Dos 19 suspeitos, sete estão aguardando julgamento, quatro são fugitivos, quatro foram declarados culpados, três reagiram à acusação e um foi declarado inocente. O FBI não respondeu perguntas sobre os 457 suspeitos restantes.
No ano fiscal de 2017, o número de pessoas processadas foi muito maior (184 de 403 acusados), indicam os números da CBP.
No Vale do Rio Grande, onde foram notificados 357 assaltos no ano fiscal de 2017, houve um total de 26 réus no Distrito Sul do Texas, de acordo com um funcionário do departamento de justiça.
De acordo com uma fonte familiarizada com os ataques aos policiais e aos julgamentos, grande parte da discrepância entre o número de ataques e o que é levado a julgamento tem a ver com os casos em que o ataque ocorre e logo em seguida o suspeito foge de volta ao México.
“Se eles nunca são presos, é impossível levá-los a julgamento. Além disso, se eles não tentam retornar, há uma grande chance de que nunca saberemos que eles cometeram um ataque, o que diminui a possibilidade de acusação”, disse a fonte. “Há também situações em que os promotores federais têm muitas acusações contra os réus, mas não a quantidade de provas para atestar o ataque”.
Um funcionário do Departamento de Justiça está procurando maneiras de aumentar a colaboração e a comunicação com a CBP.
Em abril, durante uma visita a Nogales, no Arizona, o procurador-geral Jeff Sessions disse aos funcionários da CBP que a administração [dos Estados Unidos] os apoia.
“Finalmente, e talvez o mais importante, eu dei instruções a todos os 94 escritórios de procuradores dos Estados Unidos para que dêm a máxima prioridade em processar todos os ataques contra agentes da lei, que são todos vocês”, disse Sessions em 11 de abril. “Se alguém se atreve a atacar um dos nossos enquanto no cumprimento do dever, eles passarão um tempo na prisão por isso”.
A pena máxima é de oito anos em prisões federais e uma multa de 250 mil dólares.
No entanto, Cabrera disse que a mensagem transmitida por Sessions ainda não chegou ao Vale do Rio Grande.
“Ele mandou a mensagem. Aparentemente, por algum motivo, ela não está sendo aplicada. Isso está sendo feito pouco a pouco, mas ainda está longe do que deveria ser”.
“Quem complica as coisas são eles [procuradores]. Não querem pegar o caso porque não há sangue suficiente ou não há danos suficientes para o agente. Não é necessário que haja uma quantidade determinada de sangue ou de fraturas ou de dentes quebrados para que sejam processados”.
Ele diz que levar aqueles que atacam os agentes ao tribunal serve como dissuasão.
“Se você sabe que vai passar um ano trancado na prisão por colocar as mãos em um agente de patrulha da fronteira, ou qualquer outro agente, você pensará duas vezes antes de fazê-lo”, disse ele.
O uso da força
Embora os ataques à patrulha de fronteira estejam aumentando, os agentes estão utilizando menos força do que em anos anteriores.
O número de incidentes com agentes de patrulha da fronteira em que a força foi utilizada, incluindo armas de fogo ou formas menos letais, como spray de pimenta, caiu de 519 incidentes em 2016 para 398 em 2017. Os agentes usaram armas de fogo 17 vezes em 2017, muito menos do que os 55 disparos realizados no ano de 2012.
A região do Vale do Rio Grande e de Tucson no Arizona são as áreas mais perigosas.
No crumprimento do dever
“Fica uma sensação de medo quando um dos colegas é morto”, disse o agente Chris Cabrera. “Não é algo que alguém queira passar, especialmente por causa da família e com o final do ano chegando. Mas … nós fazemos o nosso melhor para garantir que todos voltem para casa com segurança no fim da noite”.
Assassinato
O agente Rogelio Martínez foi assassinado e seu parceiro gravemente ferido em atividade, no setor chamado Big Bend, em 18 de novembro. Ambos tiveram traumatismo craniano, juntamente com várias outras lesões. Martínez morreu cedo na manhã seguinte, em 19 de novembro.
O FBI está investigando o incidente. Um mandado de busca sugere que os dois agentes foram atacados a pedradas por imigrantes ilegais.
Ataque no Arizona
No dia de Ação de Graças, um agente da região de Casa Grande foi atacado por um jovem de 17 anos, de nacionalidade mexicana, perto de Vamori no Arizona.
De acordo com uma declaração dada à imprensa, o agente estava trabalhando sozinho quando se encontrou naquela noite com três mexicanos ao sul de Sells, no Arizona. Ao tentar deter o grupo, os adolescentes o confrontaram, obrigando-o a usar gás pimenta para dominá-los.
Ataque no Texas
Em 27 de outubro, Miguel Cabrera-Rangel foi condenado à prisão por atacar um agente federal no Vale do Rio Grande.
Enquanto um agente de patrulha de fronteira investigava a notícia de potenciais imigrantes ilegais em uma fazenda perto de Hebbronville, encontrou um grupo de imigrantes e tentou prendê-los. Cabrera-Rangel era um deles e começou a lutar com o agente, apoderando-se de sua lanterna. Cabrera-Rangel lhe deu um soco e o golpeou com a lanterna, causando uma fratura bilateral do nariz e lacerações e contusões.
Cabrera-Rangel será deportado assim que cumprir sua sentença.
Arma mortal
Em 19 de outubro, um residente de Benavides, no Texas, foi condenado a sete anos de prisão, seguidos de três anos de liberdade supervisionada, por atacar um agente da Patrulha da Fronteira com o uso de uma arma letal ou perigosa.
Oscar David Gonzales II, de 24 anos, usou o carro que estava dirigindo, chocando-se intencionalmente com um carro da Patrulha da Fronteira na tentativa de escapar da prisão.
Um ataque que acabou em cirurgia
Em 23 de outubro, o imigrante ilegal Roman Sanchez-Rivera, de 27 anos, foi condenado a quatro anos e três meses de prisão por atacar e ferir um agente de patrulha da fronteira. Também foi condenado a pagar 21.610,14 dólares em restituição ao Departamento do Trabalho.
Os agentes encontraram Sanchez-Rivera e outros imigrantes ilegais escondidos em um matagal perto de Encinal, no Texas. Os imigrantes correram mas logo foram pegos. Durante a prisão, Sanchez-Rivera desferiu um soco no agente, ferindo-o. Ele também travou uma luta intensa que resultou em lesões no joelho de um dos agentes, que precisou passar por uma cirurgia.
Sanchez-Rivera será deportado depois de cumprir sua sentença.
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