A destituição do presidente Emmanuel Macron foi a principal reivindicação da manifestação organizada neste sábado (21), em Paris, por organizações e partidos de esquerda para protestar contra a formação do novo governo, que deve ocorrer nas próximas horas ou no domingo.
“Macron, destituição” foi o lema replicado nos cartazes e nas palavras de ordem gritadas pelos milhares de manifestantes que realizaram uma passeata entre a Praça da Bastilha e a Place de la Nation, organizada por associações estudantis e feministas.
Algumas das exigências da esquerda também podem ser vistas na campanha para as eleições legislativas antecipadas de 30 de junho e 7 de julho, como o aumento do salário mínimo para 1.600 euros líquidos por mês (atualmente é de 1.400) e a revogação da reforma da Previdência e a redução da idade de aposentadoria para 60 anos.
De um caminhão com sistema de alto-falantes, os manifestantes insistiram nas mensagens contra Macron e contra o novo Executivo que deve ser divulgado em breve pelo primeiro-ministro, o conservador Michel Barnier. Em particular, contra dois nomes de possíveis ministros do partido Os Republicanos (LR, o partido da direita convencional), conhecidos por serem duas personalidades de linha-dura da direita.
São eles: o senador Bruno Retailleau, que, de acordo com vazamentos da imprensa, pode ser o novo ministro do Interior e que defende uma redução drástica da imigração legal e ilegal; e Laurence Garnier, que se opõe ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e que foi cogitado para chefiar a pasta da Família.
Entre os partidos políticos, o mais visível na passeata foi, de longe, A França Insubmissa (LFI), com a presença, entre outros líderes, da presidente do grupo na Assembleia Nacional, Mathilde Panot, enquanto seu líder, Jean-Luc Mélenchon, estava em Marselha.
O Partido Socialista (PS) foi a ausência mais sentida, apesar de manter uma posição comum contra a formação do novo governo que Macron projetou com a coalizão da Nova Frente Popular (NFP), mas não compartilha algumas das formas de protesto da LFI.
Ao todo, 50 manifestações foram organizadas neste sábado contra a nomeação de Barnier e a formação de um governo de direita.
O processo de impeachment contra Macron foi lançado pelo LFI e na terça-feira passou pelo primeiro filtro na mesa da Assembleia Nacional graças, entre outros, ao PS, mas não tem perspectiva de sucesso. Em primeiro lugar, porque os próprios socialistas já avisaram que não votarão a favor, por considerarem que se trata de um instrumento destinado a casos de alta traição que não correspondem à situação atual.
Mas, acima de tudo, porque precisaria de dois terços dos parlamentares para ser aprovada, o que exigiria o apoio do Reagrupamento Nacional (RN) de Marine Le Pen, que já disse que não se prestará a “uma manobra” de distração da “extrema esquerda”.
O LFI justifica como “uma resposta política” ao fato de Macron não ter escolhido a candidata de esquerda ao cargo de premiê, Lucie Castets, e optado pelo conservador Michel Barnier.