Desertora norte-coreana revela à ONU como foi forçada a abortar na prisão

14/12/2017 11:25 Atualizado: 14/12/2017 11:25

Uma cidadã norte-coreana que fugiu do país falou sobre como foi forçada a abortar depois de sua repatriação ao voltar da China, durante uma reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre Direitos Humanos na Coreia do Norte.

O evento foi chamado de “A terrível experiência vivida pelas mulheres norte-coreanas repatriadas à força” e foi patrocinado pelos Estados Unidos, França, Japão, Coreia do Sul, Canadá e Reino Unido.

Ji Hyeon-A foi repatriada três vezes para a Coreia do Norte depois de ser presa na China. Finalmente ela escapou para a Coreia do Sul e falou de suas horríveis experiências.

Ela descreveu como as mulheres norte-coreanas que engravidaram na China foram forçadas a abortar após seu retorno.

“As mulheres grávidas foram obrigadas a trabalhar duro o dia todo”, disse ela. “À noite, podia-se ouvir as grávidas gritando e então os bebês morriam sem poder ver suas mães”.

A Coreia do Norte não permite bebês de raça mista, disse ela. Em um centro de detenção, prisioneiros morreram de fome e seus cadáveres foram entregues aos cães de guarda como alimento, descreveu.

Na terceira vez em que Ji Hyeon-A foi presa e enviada de volta à Coreia do Norte, estava grávida de 3 meses. Com lágrimas nos olhos, ela descreveu como foi forçada a abortar sem medicação em uma delegacia de polícia local.

“Meu primeiro filho morreu sem ter visto o mundo”, disse ela, “e sem que eu pudesse me desculpar”.

Depois de tudo, ela conseguiu chegar à Coreia do Sul em 2007, onde se reuniu com sua mãe, irmão e irmã mais nova. Ela ainda não tem notícias de seu pai.

Ji-Hyeon-A mencionou o soldado norte-coreano que recentemente desertou para a Coreia do Sul, dizendo que a fuga dele “representa uma fuga para a liberdade, que é o sonho de 25 milhões de norte-coreanos”.

A embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, Nikki Haley, ouve a história da desertora norte-coreana Ji Hyeon-A (Twitter/@dave_clay)
A embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, Nikki Haley, ouve a história da desertora norte-coreana Ji Hyeon-A (Twitter/@dave_clay)

“A Coreia do Norte é uma prisão aterrorizante”, afirmou, e “Kim-Jong-un está sendo responsável por um grande massacre; só por milagre para sobreviver lá”.

Repatriações vindas da China

Depois de sofrer a repatriação ao sair da China, Ji-Hyeon-A criticou o regime chinês por devolver os norte-coreanos mesmo sabendo o que lhes aconteceria quando regressassem à Coreia.

Ji-Hyeon-A fez um apelo aos líderes mundiais e aos Estados Unidos para que lutem pelos desertores norte-coreanos, e especialmente, pelos repatriados.

Em um dado momento durante suas declarações, ela recitou um poema de sua autoria intitulado “Tem alguém aí?”.

“Estou com medo, tem alguém aí? Estou aqui no inferno, tem alguém aí? Eu grito e grito, mas ninguém abre a porta. Tem alguém aí? Por favor, ouça nossos gemidos e escute nossa dor. Tem alguém aí? As pessoas estão morrendo, meu amigo está morrendo. Eu chamo de novo e de novo, mas por que você não responde? Tem alguém aí?”

O embaixador da Grã-Bretanha nas Nações Unidas, Matthew Rycroft, elogiou Ji-Hyeon-A por falar no evento e disse que os crimes denunciados, como “abortos forçados, execuções sumárias, trabalhos forçados, estupros, equivalem a crimes contra a humanidade”.

Embaixador da Grã-Bretanha nas Nações Unidas, Matthew Rycroft, disse que os crimes denunciados são crimes contra a humanidade (Eduardo Munoz Alvarez/AFP/Getty Images)
Embaixador da Grã-Bretanha nas Nações Unidas, Matthew Rycroft, disse que os crimes denunciados são crimes contra a humanidade (Eduardo Munoz Alvarez/AFP/Getty Images)

No início da manhã, a China tentou impedir a realização da reunião do Conselho de Segurança, convocada pelo Japão, sobre a situação dos direitos humanos na Coreia do Norte. Mas só contou com o apoio da Rússia e da Bolívia, falhando assim em sua tentativa de evitar o evento.

Na reunião do Conselho de Segurança, a embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, Nikki Haley, disse que era preciso contar a história completa do povo norte-coreano.

“O regime norte-coreano está usando seu poder para desenvolver um arsenal desnecessário e para manter grandes forças militares convencionais que representam um sério risco para a paz e a segurança internacionais”, disse ela. “Seu ameaçador avanço em direção às armas nucleares começa com a opressão e a exploração do povo norte-coreano”.

Ela acrescentou que isso também foi possível através da “exportação de trabalhadores para obter moeda forte (…), o regime usa sua própria gente para sustentar seus programas de mísseis nucleares e balísticos”.

E mencionou ainda que o regime de Kim prendeu cerca de 100 mil pessoas.

“O sistema de culpa por associação aplicado pelo regime norte-coreano”, disse ela, “permite que até três gerações de parentes sejam presos junto com o acusado”.

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