Há meses, o Departamento Federal de Investigação (FBI) e o Departamento de Justiça (DOJ) estão trabalhando em segredo para investigar políticos atuais e antigos e funcionários do governo por seus supostos envolvimentos em corrupção e outros crimes.
Enquanto o procurador-geral Jeff Sessions e o vice-procurador-geral Rod Rosenstein permaneceram silenciosos em público, parece que eles estão trabalhando horas extras numa série de casos de importantes.
Algumas dessas investigações do DOJ emergiram nas últimas semanas. Elas vão desde a Fundação Clinton até o chamado acordo Uranium One, bem como alegações de interferência de funcionários da gestão Obama com uma investigação da Administração de Combate às Drogas (DEA) sobre o comércio de drogas do Hezbollah nos Estados Unidos.
Estes casos, no entanto, podem ser apenas a ponta do iceberg.
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Desde outubro do ano passado, mais de nove mil acusações judiciais seladas foram submetidas a distritos nos Estados Unidos. O número de acusações encaminhadas à Justiça em 2017 contrasta fortemente com os anos anteriores. De acordo com um relatório de 2009 do Centro Judiciário Federal, em todo o ano de 2006, houve apenas 1.077 acusações seladas. As acusações seladas são tipicamente usadas para processar indivíduos ou redes criminosas nos casos em que a revelação dos nomes pode levar os indivíduos a fugirem ou a destruírem evidências.
Uma dessas acusações federais foi recém-revelada num tribunal federal em Brooklyn, Nova York, em 9 de janeiro. A acusação de 11 infrações cometidas pela democrata Pamela Harris da Assembleia do Estado de Nova York, incluindo fraudes contra agências governamentais de dezenas de milhares de dólares em fundos públicos. De acordo com o DOJ, Harris tentou encobrir seus alegados esquemas de fraude pressionando “testemunhas para mentirem ao FBI e acobertarem-na”.
Entre as várias investigações atualmente realizadas pelo DOJ, há um inquérito sobre a Fundação Clinton e se Hillary Clinton concedeu favores políticos aos doadores. Os e-mails que datam do mandato de Clinton como secretária de Estado mostram que sua ex-assessora principal, Huma Abedin, recebeu pedidos de favores especiais dos doadores da Fundação Clinton.
Num desses pedidos, o bilionário libanês-nigeriano Gilbert Chagoury solicitou o acesso por meio de Doug Band, ex-membro do conselho da Iniciativa Global Clinton, a uma alta funcionária do Departamento de Estado.
A NBC News informou em 5 de janeiro que a investigação sobre a Fundação Clinton estava aberta há meses.
A mídia The Hill, que primeiro informou sobre o inquérito, escreveu que o DOJ está usando a informação que está reunindo para determinar se isso justifica uma investigação completa.
Um dos motivos da investigação é determinar se alguma das doações isentas de impostos para a Fundação Clinton, que totalizam mais de US$ 2 bilhões desde a sua criação em 1997, foram convertidas para uso pessoal ou político, informou The Hill.
O DOJ também está revendo as evidências obtidas pelo FBI numa investigação sobre o acordo Uranium One, que está conectado à Fundação Clinton.
Sob o acordo, que foi aprovado pela gestão Obama em 2010, o governo russo obteve participação majoritária na empresa de mineração canadense Uranium One, que na época controlava 20% do urânio licenciado para mineração nos Estados Unidos.
Por causa do risco de segurança nacional que o acordo representava, ele teve de ser aprovado pelo Comitê de Investimentos Estrangeiros, que incluiu o Departamento de Estado sob Hillary Clinton.
Enquanto o acordo estava em análise, a Fundação Clinton recebeu milhões em pagamentos relacionados à Uranium One.
O presidente da Uranium One usou a fundação de sua família para fazer quatro doações para a Fundação Clinton, totalizando US$ 2,35 milhões, informou o New York Times numa exposição de 2015.
Ao mesmo tempo em que a revisão de segurança estava sendo realizada, Bill Clinton recebeu uma taxa de palestrante de US$ 500 mil de um banco de investimento vinculado ao Kremlin.
O DOJ também reabriu sua investigação sobre o uso de Hillary Clinton de um servidor privado de e-mail enquanto atuava como secretária de Estado. Apesar de determinar que o servidor inseguro foi usado para armazenar e transmitir material confidencial, o ex-diretor do FBI James Comey sugeriu em julho de 2016 que nenhum processo judicial deveria ser iniciado. Ele fez isso depois que um agente do FBI alterou a conclusão da recomendação da agência, removendo a linguagem que sugeria que um crime havia sido cometido.
A sondagem do DOJ está investigando a quantidade de informações classificadas que foram enviadas pelo servidor, bem como quem foi responsável por mover essa informação para um ambiente não confidencial, informou o Daily Beast em 4 de janeiro.
No mês passado, Sessions também ordenou uma revisão de uma investigação conduzida por funcionários da Administração de Combate às Drogas (DEA) que revelou o tráfico de drogas nos Estados Unidos envolvendo o grupo terrorista do Hezbollah, bem como a lavagem de dinheiro.
No mês passado, a mídia Politico publicou um artigo baseado em entrevistas com dezenas de autoridades da lei sobre a investigação ter sido paralisada e bloqueada por funcionários da gestão Obama. De acordo com o artigo, a conclusão da investigação foi prejudicada para não perturbar o Irã, o principal patrocinador do grupo terrorista, enquanto o presidente Barack Obama negociava um acordo sobre o programa nuclear iraniano.
Investigações eleitorais
Juntamente com as investigações do DOJ, os investigadores do Congresso conduziram suas próprias investigações sobre a potencial má conduta de funcionários dos EUA. Estas incluem a divulgação potencial de informações classificadas, bem como uma conspiração que tentou impedir o presidente Donald Trump de se tornar presidente.
Depois de meses se recusando a fornecer aos investigadores da Câmara os documentos solicitados sobre a Fusion GPS, a empresa que está por trás do infame dossiê Trump-Rússia, e também sobre funcionários atuais e antigos do FBI, o DOJ concordou em 3 de janeiro em fornecer todos os documentos solicitados.
O presidente do Comitê de Inteligência da Câmara, Devin Nunes, investigou o papel que o dossiê Trump desempenhou na decisão do FBI de abrir uma investigação sobre as alegações de colusão entre Trump e a Rússia em julho de 2016.
Nunes também está investigando se essa investigação do FBI foi usada para arranjar mandados judiciais, sob a Lei de Vigilância de Inteligência Estrangeira, para espionar a campanha presidencial de Trump e sua equipe de transição.
A investigação inclui alguns dos principais ex-funcionários de Obama, como a ex-assessora de segurança nacional Susan Rice e a ex-embaixadora dos EUA na ONU, Samantha Power. Ambas foram registradas como tendo feito dúzias, senão centenas, dos chamados “pedidos de desmascaramento” das comunicações dos funcionários de Trump.
O dossiê Trump, que foi pago pela campanha presidencial de Hillary Clinton e pelo Comitê Nacional Democrata, parece ter sido a principal fonte das alegações de que a Rússia estaria em colusão com a campanha de Trump.
A Fusion GPS espalhou ativamente o dossiê entre políticos e a mídia para promover sua narrativa não comprovada de colusão.
Entre os documentos que o Comitê da Câmara requisitou, havia registros bancários detalhando os pagamentos efetuados pela Fusion GPS a jornalistas. Um juiz federal decidiu em 4 de janeiro que esses registros bancários precisavam ser entregues ao Comitê de Inteligência da Câmara, apesar da objeção da Fusion GPS.
O comitê da Câmara também está investigando o papel do senador John McCain (R-Ariz.) em relação ao dossiê Trump. McCain havia enviado um associado ao Reino Unido para obter uma cópia do dossiê de um antigo agente da inteligência militar britânica (MI6), Christopher Steele, que foi contratado pela Fusion GPS para escrever o dossiê.
McCain admitiu em janeiro do ano passado que forneceu a Comey uma cópia do dossiê.
No mês passado, Nunes emitiu uma intimação para David Kramer, o associado de McCain que viajou para Londres para obter uma cópia do dossiê.
Outro funcionário atualmente investigado pelo Comitê de Inteligência da Câmara em conexão com o dossiê Trump é Bruce Ohr.
Bruce Ohr, um ex-vice-procurador-geral, foi demitido pelo DOJ depois que foi revelado que ele se encontrou secretamente com funcionários da Fusion GPS.
Posteriormente, foi revelado que Nellie Ohr, a esposa de Bruce Ohr, trabalhou para a Fusion GPS durante a campanha eleitoral contra o então candidato Trump.
O comitê também planeja entrevistar um agente do FBI, Peter Strzok, e sua colega do FBI, Lisa Web. Strzok trabalhou tanto na investigação do servidor privado de e-mail de Hillary Clinton quanto na investigação do FBI sobre as alegações de colusão com a Rússia. Strzok foi removido da equipe do conselheiro especial Robert Mueller depois que seu viés anti-Trump foi revelado.
Strzok e Page alegadamente teriam um caso extraconjugal e as mensagens de texto entre eles, que foram obtidas pelo DOJ, mostram uma forte tendência contra Trump e o apoio a Hillary Clinton.
Num desses textos, Strzok discute com Page sobre uma reunião que eles tiveram no escritório do então vice-diretor do FBI, Andrew McCabe, durante a qual eles discutiram uma “apólice de seguro” no caso de Trump ganhar a presidência.
McCabe anunciou que se aposentaria no início de 2018.
Como parte do acordo entre Nunes e o DOJ, o comitê da Câmara obteve acesso a cerca de 9.500 mensagens de texto enviadas entre Strzok e Page.
Em reação a “inconsistências significativas” nas declarações que Steele, o autor do dossiê Trump, fez aos investigadores do Congresso, dois senadores o encaminharam ao DOJ para investigação criminal.
O encaminhamento foi feito pelo presidente do Comitê do Judiciário do Senado, o senador Chuck Grassley (R-Iowa), e o presidente do Subcomitê do Judiciário sobre Crime e Terrorismo, o senador Lindsey Graham (R-S.C.).
Inspetor-geral da investigação
Simultaneamente com as investigações no Congresso, o inspetor-geral do Departamento de Justiça vem conduzindo sua própria investigação. Incluído em sua investigação está como o ex-diretor do FBI James Comey tratou a investigação sobre o servidor de e-mail de Clinton.
Comey deu um passo incomum em julho de 2016 ao anunciar os resultados da investigação do FBI sobre Clinton e recomendar publicamente que as acusações não fossem submetidas à Justiça, apesar de isso normalmente cair no âmbito do DOJ. O FBI investiga crimes, enquanto compete ao procurador-geral tomar decisões sobre indiciamentos.
Comey mais tarde testemunhou sob juramento em 8 de junho de 2017 que a procuradora-geral Loretta Lynch pediu-lhe que descrevesse a investigação como um “assunto” ao invés de uma “investigação”.
Comey também admitiu ter vazado memorandos que ele escreveu sobre reuniões que teve com Trump e entregá-los a um amigo para vazá-los para o New York Times.
Grassley, que analisou os sete memorandos, disse que quatro foram marcados como classificados. Como Comey compartilhou quatro dos memorandos com seu amigo, Grassley concluiu que pelo menos um dos memorandos continha informações confidenciais. Se sua suposição é verdadeira, Comey poderia enfrentar processo criminal.
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