O delator por trás do vazamento de dados da Mossack Fonseca pronunciou-se pela primeira vez em 6 de Maio, desde a revelação do dossiê no mês passado.
A fonte enviou um manifesto ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung – a mídia de notícias para qual o delator divulgou os documentos há um ano atrás.
O dossiê revelado compartilhou 11,5 milhões de registros do escritório de advocacia do Panamá, o Mossack Fonseca, com o International Consortium of Investigative Journalists (ICIJ) e outras mídias. Os dados envolveram 12 líderes mundiais e 140 outros políticos que tinham conexão com as empresas offshore em 21 paraísos fiscais. Os nomes incluiram Vladimir Putin, o presidente da Argentina Mauricio Macri, o astro do futebol Lionel Messi, e o primeiro-ministro da Islândia.
Por que o dossiê Panama Paper foi liberado?
A fonte, identificada apenas como “John Doe” escreveu o “Manifesto de John Doe”, que explica as razões pelas quais os documentos foram divulgados.
“A desigualdade de renda é uma das questões determinantes do nosso tempo. Ela afeta todos nós, em todo o mundo”, disse o delator.
A fonte afirmou que o Panama Papers proveu uma resposta conclusiva sobre a persistente desigualdade de renda, elucidando que o vazamento de dados revela uma “corrupção maciça e generalizada”.
O delator disse que as empresas de fachada estão muitas vezes ligadas ao crime de evasão fiscal, mas que há muito mais a ser revelado.
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“Elas são usadas para abrigarem um vasto leque de crimes graves que vão muito além da evasão de impostos”, disse a fonte.
O delator decidiu liberar os dados para que os “fundadores, funcionários e clientes da Mossack Fonseca respondam por seus papéis nestes crimes”.
A fonte disse que apenas algumas das irregularidades vieram à tona, e que “levarão anos, ou possivelmente décadas, para que toda a extensão dos atos sórdidos cometidos pela empresa tornem-se conhecidos”.
No manifesto, a fonte disse que a firma de advocacia Mossack Fonseca, seus fundadores e empregados – embora tentem a todo custo justificarem-se publicamente como ignorantes – violaram conscientemente uma miríade de leis internacionais em todo o mundo inúmeras vezes.
A fonte negou ser espiã, e se aproximou de outros canais de notícias
“Para registro: eu não trabalho para qualquer agência do governo ou inteligência, diretamente ou como contratado, e eu nunca trabalhei. O meu ponto de vista é inteiramente meu”, disse o delator.
A fonte disse que o jornal alemão não foi único meio de comunicação que foi contactado para divulgar o dossiê. O denunciante disse que os documentos foram oferecidos a “vários grandes meios de comunicação”.
Editores revisaram os dados, mas, em última análise, “escolheram não publicá-los”, afirmou a fonte. Não está claro quais organizações midiáticas recusaram publicar o dossiê Panama Papers .
A fonte também contactou o Wikileaks, sem sucesso.
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“Mesmo o WikiLeaks não respondeu várias vezes”, disse a fonte, “A mídia falhou”.
No Manifesto de John Doe a fonte diz que o ICIJ tinha “adequadamente” recusado-se a ajudar os governos e os órgãos jurisdicionais que procuraram ter acesso aos arquivos.
“Eu, porém, estaria disposto a cooperar com os órgãos jurisdicionais da forma que eu puder”, disse o denunciante.
Tratamento “cruel” para delatores
A fonte também criticou os governos, especialmente sobre a sua dura abordagem com relação a delatores.
“Eu tenho visto inúmeros denunciantes e ativistas nos Estados Unidos e na Europa terem suas vidas destruídas, devido às circunstâncias em que se encontram após exporem delitos óbvios”, disse a fonte.
“John Doe” citou como exemplo o denunciante da NSA, Edward Snowden, que foi acusado de espionagem pelo governo Obama.
“Por suas revelações sobre a NSA, ele merecia uma recepção de herói e um prêmio substancial, não punição”, disse a fonte.
“Eu convoco a Comissão Europeia, o Parlamento Britânico, o Congresso dos Estados Unidos, e todas as nações para agirem rapidamente – não apenas para protegerem os denunciantes, mas para também colocarem fim ao abuso mundial de registros corporativos”, disse a fonte.
No manifesto, o denunciante também enviou uma mensagem direta ao Congresso dos EUA: “Os Estados Unidos não podem mais confiar claramente em seus cinquenta estados para tomarem decisões sobre os seus próprios dados corporativos. Muito tempo se passou para que o Congresso intervenha e imponha transparência, estabelecendo padrões para a divulgação e o acesso do público”.
Enquanto isso a administração de Obama anunciou em 5 de Maio um conjunto de regulamentos financeiros que obrigam as empresas a divulgarem mais informações sobre seus proprietários, em um esforço para repressão à evasão fiscal e à lavagem de dinheiro.
A fonte concluiu o manifesto com uma nota positiva: “Vivemos em um tempo de armazenamento digital ilimitado, barato, e com conexões de internet rápida que transcendem as fronteiras nacionais. Não é preciso muito para ligar os pontos: do início ao fim, estabelecendo a distribuição da mídia global, a próxima revolução será digitalizada “, disse a fonte.
“Ou talvez já tenha começado.”