Por Agência EFE
Cubanos residentes em Miami aguardam com esperança, cautela ou pessimismo a nova etapa que irá representar a posse do novo presidente de Cuba, o que para alguns significa “uma oportunidade para a mudança” e para outros “uma verdadeira farsa”.
O ex-congressista democrata Joe García, nascido nos Estados Unidos há 54 anos e recém regressado de Cuba, explica para a Agência EFE que existe o consenso de que “há uma profunda necessidade de mudança” na ilha e que esta mudança não deve ser cosmética, mas “cirúrgica”.
A troca de comando “convida” a uma “chance de mudança”, que deve ser aproveitada tanto pelo governo cubano como pelos cubano-americanos, disse Garcia.
No outro extremo estão as organizações cubanas do exílio e outras como Cuba Decide, que reivindicam “eleições livres” em Cuba e que dizem que a comunidade internacional não reconhece o sucessor de Raúl Castro, porque, segundo proclamado em uma manifestação em Miami, querem uma mudança de sistema, “não uma mudança de tirano”.
Giancarlo Sopo, um dos fundadores da CubaOne, entidade dedicada a conectar os jovens de origem cubana com suas raízes através de viagens para a ilha, afirma que a alteração presidencial representa “principalmente uma mudança simbólica”.
Sopo, cubano-americano, diz que não há nenhuma evidência de que haverá “mudanças práticas reais” em Cuba, depois que Raúl Castro deixar a presidência, mas admite que “é preciso esperar para ver”.
Sobre Miguel Díaz-Canel, sucessor de Raúl Castro, SoPo, com 35 anos de idade, diz ser um homem do aparato do partido que não parece ser “um Gorbachov”, referindo-se ao presidente soviético que sacudiu as fundações da antiga União Soviética com a “perestroika” (reestruturação) e a “glasnost” (transparência).
O ex-analista da CIA Brian Latell, que não é exilado nem cubano-americano, mas é um grande conhecedor da política cubana e já escreveu três livros sobre Fidel Castro, disse à Agência EFE que espera “um alto grau de continuidade na política interna e nas relações internacionais” de Cuba.
Em sua opinião, Díaz-Canel pode tentar “lenta e cautelosamente implementar algumas das reformas econômicas que Castro defendeu publicamente, mas que nunca concretizou”, mas que é “muito improvável” que haja “uma verdadeira abertura política nos próximos anos”.
“Se ele é um reformador, ele toma muito cuidado para não exibir o menor traço disso. O problema é que as tímidas reformas empreendidas por Raúl não deram os frutos esperados. A economia continua afundando”, disse sobre o novo presidente o escritor, jornalista e exilado Carlos Alberto Montaner.
De acordo com Montaner, “no início será um estágio de espera cautelosa. Em seguida, haverá outra de inconformismo”.
Na mesma linha se pronuncia Sopo, que afirma que o novo presidente vai receber “muita pressão para responder às necessidades dos cidadãos e, talvez, isso possa trazer mudanças”.
Montaner acredita que “no início não vai acontecer nada, embora a contraespionagem, que é muito paranoica, aumentará a vigilância e a repressão.”
“A tragédia de Díaz-Canel é que se ele quer que o país prospere, terá que se afastar das superstições socialistas. Se ele tiver a inteligência e a coragem de fazer isso, em dois anos se verão os frutos, mas isso irá destruir o castrismo puro e duro”, acrescentou.
Para o ex-preso político Armando Valladares, que passou 22 anos nas prisões de Cuba, o escolhido na “farsa” de 19 de abril será “um fantoche” dos desejos de Castro, que permanecerá sendo o secretário-geral do Partido Comunista.
Joe García salienta que posturas monolíticas não vão corrigir os problemas de Cuba e que “o que está muito claro é que a possibilidade de mudança se encontra naqueles que governam Cuba e nos cubano-americanos”, que são “aqueles que estão mais interessados em ver mudanças” que tragam prosperidade para a ilha e também para o sul da Flórida.
Ele acrescentou que a maioria dos cubanos que vivem em Miami hoje em dia chegaram há menos de duas décadas e “esse é um fator essencial para o futuro de Cuba”.