MIAMI — Vestindo uma camiseta que dizia “Bahia dos Porcos”, Rafael Torre, 80, era um em meio a multidão de centenas de cubanos que celebraram a morte de Fidel Castro, o ex-ditador comunista de Cuba. Torre estava abismado com o fato de Castro ter mantido o poder por mais tempo do que qualquer outro líder nacional vivo, exceto a rainha Elizabeth II da Inglaterra.
Exilados cubanos, como Torre, tentaram inúmeras estratégias para remover Castro do poder depois que ele tomou o controle de Cuba em 1959. A fracassada invasão da CIA pela “Bahia dos Porcos” em 1961 foi uma dessas tentativas. Agora, como muitos outros, Torre está esperançoso com relação ao futuro da ilha já que o ex-líder cubano faleceu.
“Nós tentamos por mais de 50 anos, mas não conseguimos. Agora ele está morto, e talvez as coisas possam mudar”, disse Torre. “Podem levar três ou quatro anos. Talvez a revolução alcance as ruas em três ou quatro meses.”
Milhares de pessoas saíram às ruas de Miami e cidades próximas no sábado (26) pouco depois do anúncio da morte de Castro aos 90 anos. Celebrações duraram o dia todo com panelaços, buzinadas de carro, aceno das bandeiras cubanas e americanas, música e gritos de alegria. O ponto central das atividades foi na Calle Ocho, como é conhecida a Rua 8 da Little Havana em Miami.
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A polícia bloqueou as ruas que levavam ao Café Versailles, o mais famoso café cubano-americano da cidade. Servir cafés fortes é tão comum quanto escutar dura palavras sobre Castro, o inimigo número um dos exilados. Entretanto, muitos reconhecem que sua morte por si só não significa democracia imediata ou liberdade para a ilha comunista.
“Precisamos que o povo de Cuba tenha a liberdade que temos nos EUA. Não haverá mudança até que as pessoas se revoltem”, disse Juan Cobas, 50, que chegou aos Estados Unidos da América aos 13 anos.
Outros viram a morte de Fidel como um sinal de que uma geração que governou Cuba há décadas está saindo de cena, muitos atentam ao fato de que seu irmão, o atual líder Raúl Castro, já está com 85 anos.
“Estou sentindo que este é o começo do fim”, disse Alex Pineiro, 32. “Fidel foi o arquiteto do que está acontecendo. É uma mistura de emoções, estou feliz por ele estar morto, mas estou comemorando a esperança.”
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Não houve relatos de violência ou qualquer prisão durante as manifestações, disse a porta-voz da polícia de Miami, Kenia Fallat, no sábado. Funcionários do condado de Miami-Dade disseram que não havia planos para ativar o centro de operações de emergência.
“Eles estão comemorando, mas de uma maneira muito pacífica”, disse Fallat sobre os manifestantes.
A Guarda Costeira dos EUA estava realizando patrulhas regulares e não chegou a aumentar a quantidade de pessoal ou tomar outras medidas de emergência, disse o major Jonathan Lally.
A Guarda Costeira tem observado recentemente um aumento de cubanos que tentam chegar à Flórida pelo mar, tendo tido pelo menos 7.411 cubanos tentando migrar pelo Estreito da Flórida no ano fiscal que terminou em 30 de setembro, comparados com 4.473 no mesmo período em 2015.
Depois que Castro tomou o poder, os cubanos fugiram da ilha para Miami, Tampa, Nova Jersey e outras regiões. Alguns eram leais à Fulgencio Batista, o presidente anterior a Castro, enquanto outros partiram com a esperança de que pudessem retornar em breve, depois que Castro fosse derrubado. Mas ele nunca sucumbiu.
Muitos outros exilados acreditavam que nunca seriam livres sob o regime castro-comunista. Milhares deixaram para trás seus pertences, entes queridos, educação e negócios, viajando para os EUA através de avião, barco ou jangada. Muitos cubanos morreram na viagem oceânica ao sul da Flórida.
Os que chegaram a Miami assumiram uma postura ampla e veementemente anti-castrista.
“Ele não deve ser reverenciado. Ele deve ser insultado”, disse Ileana Ros-Lehtinen, residente dos Estados Unidos, nascida em Cuba.
Alguns acreditam que a eleição de Donald Trump como presidente poderia conduzir a uma posição mais resistente ao governo de Havana apressando a mudança para uma democracia.
“Espero que Trump tome uma linha dura contra o regime de Castro”, disse Henry Marinello, 60, que deixou Cuba como uma criança em 1961.
A notícia da morte de Castro foi muito esperada e tinha sido objeto de inúmeros rumores ao longo de décadas, de modo que se tornou algo como brincadeira. Desta vez, porém, foi real.
“Estamos todos comemorando, isso é como um carnaval”, disse Jay Fernandez, 72, que chegou a Miami com 18 anos em 1961, depois de ter sido preso duas vezes pelo governo cubano. Ele, sua esposa e outra mulher levantaram um cartaz bilíngüe que ele havia feito há quatro anos, quando Castro ficou doente pela primeira vez dizendo: “Satanás, Fidel é agora seu. Dê a ele o que ele merece. Não o deixe descansar em paz “.