Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.
Análise de notícias
O crime organizado turco está expandindo suas operações em toda a Europa, especialmente em países com grandes minorias turcas e curdas, e diversificou o comércio de heroína para o tráfico de cocaína, metanfetamina e drogas sintéticas.
Dois assassinatos — um em Barcelona, na Espanha, e outro na capital da Moldávia, Chisinau — e um tiroteio em Londres, que deixou uma menina de 9 anos gravemente ferida, entre maio e julho, foram todos ligados ao crime organizado turco.
Mahmut Cengiz, professor associado do Centro de Terrorismo, Crime Transnacional e Corrupção da Universidade George Mason, na Virgínia, disse ao Epoch Times: “Os dois assassinatos de alto nível são significativos, pois sugerem uma tendência preocupante de aumento da violência entre os grupos do crime organizado turco em toda a Europa”.
Em 4 de maio, Ilmettin Aytekin, um chefe da máfia turca conhecido como “Tekin Kartal” (Tekin, a Águia), foi morto a tiros em plena luz do dia do lado de fora de um restaurante em Barcelona, após uma reunião com Abdullah Baybaşin.
Baybaşin, chefe de uma notória família do crime, declarou-se culpado de importação de drogas em um tribunal britânico em 2006, mas depois teve sua condenação anulada e foi deportado para a Turquia.
Três semanas depois, uma menina foi gravemente ferida depois que um homem armado em uma motocicleta atirou em Kenan Aydogdu, 44 anos, e Mustafa Kiziltan, 37 anos, do lado de fora de um café turco em Dalston, no leste de Londres.
Acredita-se que os dois homens sejam afiliados a uma gangue de Hackney chamada Bombacilar (Bombers).
Em 10 de julho, Izzet Eren, um dos líderes dos arquirrivais dos Bombers, os Tottenham Turks, foi morto a tiros enquanto estava sentado do lado de fora de um café em Chisinau, onde morava há pelo menos um ano.
Eren foi capturado na Moldávia em 2022 e deveria ser extraditado para o Reino Unido, mas foi liberado sob fiança pelas autoridades da capital Chisinau.
disse Cengiz: “Esse padrão indica que essas gangues podem estar expandindo suas operações e conflitos para além das fronteiras locais, o que pode afetar a segurança pública em várias cidades.
“Se esses incidentes violentos continuarem, isso pode indicar que o crime organizado turco está evoluindo para um problema europeu mais amplo, exigindo uma resposta coordenada das agências de aplicação da lei em vários países.”
Ryan Gingeras, historiador e autor de Heroin, Organized Crime, and the Making of Modern Turkey, disse: “A Turquia está cada vez mais integrada às atividades ilícitas globais, seja em termos de drogas, contrabando de pessoas ou lavagem de dinheiro”.
Ele disse ao Epoch Times: “O comércio de drogas está se diversificando e a Turquia tem sido um estado de referência para esse tipo de diversificação.
“Até a década de 1970, a Turquia era um país de origem da heroína. Desde então, ela se tornou um ponto de trânsito para opiáceos.
“A tendência mais recente parece apontar para o desenvolvimento de um setor nacional de narcóticos sintéticos voltado para os mercados interno e externo.”
Troca de heroína por cocaína
Um criminoso condenado da comunidade turca de Londres disse ao Epoch Times que, há uma década, foi feito um acordo para que gangues mexicanas e turcas trocassem remessas de heroína e cocaína no porto de Roterdã.
Por medo de represálias, ele pediu para ser identificado com o pseudônimo Ümit Ceyhan.
Ele disse: “Nós [turcos] controlamos a heroína, e os carteis mexicanos controlam a cocaína, mas quando eles chegam a Roterdã, é como o mercado de frutas e verduras de Spitalfields, as pessoas estão recebendo pedidos de dois paletes disso ou daquilo.
“Como a heroína é cara nos Estados Unidos e a cocaína é cara na Europa, eles decidiram trocá-las, de modo que agora os carteis podem vender heroína lá e os turcos têm acesso à cocaína na Europa.
“Recentemente, quantidades significativas de cocaína foram importadas da América Latina para a Turquia.
“Grupos transnacionais turcos bem conectados na Europa colaboraram com carteis mexicanos para utilizar a Turquia como uma rota alternativa para suas operações de tráfico de drogas.”
Cengiz ressaltou que os portos de Antuérpia, na Bélgica, e Roterdã, na Holanda, registraram níveis recordes de apreensões anuais de cocaína — 72 toneladas e 36 toneladas, respectivamente.
Ele disse que os grupos mafiosos turcos também traficavam metanfetamina proveniente do Irã e estavam envolvidos no tráfico de pessoas, usando rotas semelhantes através dos Bálcãs.
Conexão Bodrum
Ceyhan disse ao Epoch Times que grande parte da heroína que entra no Reino Unido é controlada a partir do popular resort mediterrâneo de Bodrum, na Turquia, sendo que grande parte do dinheiro retorna à cidade para pagar por novos restaurantes, hoteis e casas noturnas.
Ele disse que Koray Alpergin, o DJ da comunidade turca que foi sequestrado, torturado e assassinado no norte de Londres em outubro de 2022, trazia drogas há anos depois de fazer um acordo com o principal operador da conexão de Bodrum.
No julgamento do assassinato de Koray Alpergin, o promotor Crispin Aylett disse que os turcos de Tottenham eram responsáveis por sua morte, mas dois indivíduos importantes, Cem Orman e Ali Yildirim, haviam fugido para a Turquia, onde se acreditava que estavam escondidos.
Ceyhan disse que Orman, Yildirim e o primo de Izzet Eren, Kemal Eren, que agora era o chefe do Tottenham Turks, devem ter pago pela proteção de políticos na Turquia.
“Na Turquia, nada acontece sem dinheiro, e se Kemal Eren não está sendo extraditado, ele deve estar pagando uma boa taxa todo ano”, disse Ceyhan ao Epoch Times.
Ele disse que a corrupção na Turquia era desenfreada e datava da década de 1980.
Em 2021, Sedat Peker, um ex-chefe da máfia turca, lançou um canal no YouTube e começou a fazer uma série de revelações. Ele agora tem mais de um milhão de assinantes.
Uma de suas maiores revelações foi sobre um ex-ministro do Interior, Mehmet Ağar, que foi acusado de ameaçar um empresário azerbaijano para assumir o controle de uma marina de iates em Bodrum, juntamente com chefes da máfia turca.
Ağar negou qualquer irregularidade.
“Corrupção desenfreada” na Turquia
Cengiz disse: “A corrupção desenfreada dentro do governo turco abriu as portas para as organizações de tráfico de cocaína.
“Desde o início da década de 2010, vários militares, policiais, juízes, promotores, funcionários da alfândega e membros do governo foram implicados no tráfico de drogas.”
A classificação da Turquia no índice de percepção da corrupção da Transparência Internacional caiu de 54 em 2012 para 115 em 2023.
“Tanto os Turcos de Tottenham quanto os Bombacilares de Hackney mostraram sinais de expansão para além do Reino Unido. Ao longo dos anos, houve relatos sugerindo seu envolvimento no tráfico internacional de drogas e em redes de crime organizado”, disse Cengiz ao Epoch Times.
“Eles estabeleceram conexões com outros grupos criminosos turcos na Europa, especialmente em países como a Alemanha e a Holanda, que têm populações turcas significativas.
“As agências de aplicação da lei notaram sua influência no crime organizado turco mais amplo, indicando que eles se tornaram parte de uma rede maior que opera além das fronteiras.”
Cengiz e Ceyhan concordam que a Alemanha e a Holanda são fundamentais para o crime organizado turco.
“Apesar de a Alemanha abrigar a maior população turca fora da Turquia, o crime organizado turco é frequentemente subnotificado”, disse Cengiz.
“Embora grupos importantes do crime organizado operem no país, especialmente aqueles envolvidos no comércio de heroína, suas atividades nem sempre atraem a atenção da mídia devido a uma combinação de fatores culturais e estruturas legais.”
“Subnotificação”
Ceyhan foi mais direto, dizendo: “O governo alemão quer que isso seja pouco divulgado, para que não haja gritos de deportação em massa”.
Estima-se que até 3 milhões de alemães sejam de origem turca ou curda, enquanto a Holanda abriga 430.000 pessoas originárias da Turquia. Cerca de 250.000 vivem no Reino Unido.
Cengiz disse que os grupos do crime organizado turco eram os principais participantes do mercado de heroína, usando a Alemanha como um ponto de trânsito fundamental para o tráfico de heroína do Afeganistão e de outros países para a Europa.
“Esses grupos estabeleceram redes sofisticadas que facilitam o contrabando e a distribuição de heroína, muitas vezes resultando em violência e rivalidade significativas entre facções concorrentes”, disse ele.
Cengiz disse que quando as remessas de drogas do crime organizado são interceptadas pelas autoridades, é quase inevitável que haja derramamento de sangue.
Ceyhan disse acreditar que isso é o que está por trás da morte de Tekin Kartal em Barcelona.
Ele disse que “25 toneladas de cocaína foram enviadas pelos carteis para a Espanha, mas 20 toneladas foram apreendidas”.
“Os carteis disseram: ‘E as 5 toneladas restantes? Baybasin as havia roubado, mas culpou Tekin, que se tornou o bode expiatório. Ele foi convocado para uma reunião, e o homem do gatilho estava à espreita”, disse Ceyhan.
Os tentáculos do crime organizado turco na Europa foram evidenciados em maio, quando 17 indivíduos foram presos na Itália, em conexão com uma série de assassinatos em toda a Europa.
Eles eram supostamente membros da Dalton Gang, liderada por Bariş Boyun. Seis de seus membros foram mortos em um misterioso massacre na cidade de Artemida, na Grécia, em setembro de 2023.
Cengiz disse que as prisões italianas foram importantes por vários motivos.
“Isso ressalta a expansão do alcance do crime organizado turco, especialmente da gangue Dalton”, disse Cengiz.
“Essa operação reflete um esforço coordenado das agências de aplicação da lei em toda a Europa para combater a crescente influência dessas gangues e suas atividades violentas.”
Embora nenhuma prisão tenha sido feita em relação ao assassinato em Barcelona, um homem foi acusado de ligação com os tiroteios em Londres e será julgado no próximo ano.
Na Moldávia, a investigação sobre o assassinato de Izzet Eren levou à prisão de um político de um partido pró-russo proibido e a um pedido de extradição enviado ao Reino Unido para um ex-advogado, Hassan Toper.
Toper foi preso no aeroporto de Stansted, em Londres, em 29 de agosto, por policiais da unidade nacional de extradição do Joint International Crime Centre da National Crime Agency.
Seu mandado foi emitido pelas autoridades moldavas pela morte de Izzet Eren.
Ele deverá se apresentar novamente aos magistrados em Londres no próximo mês.
Ümit Ceyhan não é o nome verdadeiro do entrevistado. O Epoch Times deu a ele um pseudônimo por proteção à sua identidade.
