Há um senso de cinismo que cresceu entre grande parte da diáspora iraniana sobre a probabilidade de mudança de regime no Irã.
Não é algo novo, nem isso ocorreu de forma simples. E tem sido fomentado silenciosamente ano após ano pelos últimos 40 anos do regime islâmico no Irã.
Os iranianos em todo o mundo dão as boas-vindas à perspectiva de mudança, mas desenvolveram um forte senso de sua probabilidade extremamente improvável.
As fontes de notícias fornecem relatos atualizados e pontos de dados. Eles trazem figuras de destaque de grupos de reflexão (think-tanks) para conversações que fornecem contexto histórico, mas seus argumentos são, esmagadoramente, cautelosos contra mudanças significativas.
Ao assistir e ouvir esses relatos, alguns iranianos dão um aceno mental suave de afirmação. Alguns iranianos discordam veementemente. Alguns apontam para a televisão enquanto olham para a esquerda e a direita, para amigos e familiares, perguntando: “Quem é esse?”, e desafiam a teoria magnamente apresentada que vai contra suas próprias experiências de toda uma vida.
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No entanto, o cinismo ainda nubla seu quadro de pensamento, e a maioria dos diálogos sobre o assunto, esquentados ou não, acabam com a cordialidade de um sorriso suave ou afetado e o pensamento de que nada mudará.
E quem pode culpá-los?
Nossas mentes são treinadas para serem restritas a possibilidades binárias.
O livro de Malcolm Gladwell, “David e Goliath: Underdogs, Misfits e Art of Battling Giants“, ajuda na compreensão dos erros sobre pressupostos baseados em tamanho, legado e história passada, ou as percepções disso.
Nós somos ensinados que os maiores e os melhores vencem, e que os menores e mais fracos são derrotados. E se você viu o regime ganhar uma e outra vez, há poucas razões para acreditar que qualquer coisa em contrário possa ocorrer. Não só nos ensinaram isso repetidamente, mas experimentamos isso repetidamente.
Gladwell e outros ajudaram a apresentar as falhas nesses pressupostos.
Infelizmente, alguns desses pressupostos defeituosos parecem estar em curso nos protestos recentes no Irã.
Nós ouvimos sobre o poder do líder teocrático Ali Khamenei e seu domínio sobre o povo iraniano por meio da Guarda Revolucionária. Nós ouvimos sobre o longo reinado do regime islâmico desde 1979. Nós ouvimos sobre o aumento do número de mortos e as mais de mil prisões até recentemente. Nós ouvimos sobre o bloqueio das plataformas de redes sociais, incluindo Twitter, Telegram e outros.
Todos esses elementos fizeram parte dos protestos anteriores, incluindo o maior até o momento, os tumultos pós-eleições de 2009.
E todos foram reprimidos com sucesso pelo regime, resultando em seu contínuo poder tirânico.
No entanto, outros fatores também são destacados sobre os conflitos e protestos recentes que começaram em Mashhad em 28 de dezembro e se espalharam para mais de 80 cidades no Irã.
Eles começaram de forma orgânica sem qualquer líder centralizado.
Os smartphones com plataformas de redes sociais estão em mãos de quase todos os iranianos hoje, algo que não foi o caso em 2009.
A tecnologia VPN para romper o firewall ou bloqueio da internet do regime, que previne o acesso dos iranianos para compartilharem e distribuírem informações, é conhecida e avidamente utilizada pelos cidadãos.
O “líder eleito”, o presidente Hassan Rouhani, é esmagadoramente acreditado pelo povo iraniano como unido simbioticamente a Khamenei e ao próprio regime.
No entanto, vamos deixar tudo isso de lado.
Quando olhamos para o contexto histórico das mudanças de regime, ou as grandes mudanças que levam a elas, vemos que elas nem sempre se desenrolam como resultado de uma série lógica e coreografada de eventos impulsionados por forças internas ou externas. Às vezes, elas simplesmente acontecem, porque o tempo julga necessário, porque o momento é chegado.
Consideremos a queda do Muro de Berlim.
Uma coletiva de imprensa de um membro do Politburo, Günter Schabowski, em que a informação sobre mudanças menores na política de fronteiriça foi mal representada e também mal interpretada, levaram a uma massa de alemães orientais a convergirem em direção ao Muro de Berlim.
Um funcionário sênior da Stasi [o Ministério para a Segurança do Estado da Alemanha Oriental] em serviço, buscando instruções, fez chamadas telefônicas em busca da aprovação de funcionários de alto escalão à medida que a pressão aumentava.
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E ele tomou uma decisão rápida para permitir a passagem de algumas pessoas. Esta “rachadura” no muro conduziu essencialmente a uma abertura, e logo todos foram permitidos passarem para o lado da Berlim Ocidental.
Claro, esses detalhes são bastante resumidos, mas vemos que um muro pode entrar em colapso como resultado da falta de comunicação quando a pressão se amontoa.
Talvez um regime tirânico, liderado por sua paranoia extrema, também possa causar o próprio colapso.
Várias fontes já informaram que o ex-presidente Mahmoud Ahmadinejad, uma figura linha-dura cuja eleição “arrebatadora” em 2009 levou aos protestos pós-eleições presidenciais, foi detido por “incitar a violência”.
São esses os créditos finais não intencionais ou não coreografados do regime e de seus líderes?
Parece que sim.
Devido às potenciais ameaças contra o autor pelo regime islâmico, um pseudônimo foi usado.
As opiniões expressas neste artigo são as opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times.