Coreia do Norte testa ogivas com antraz para mísseis balísticos, dizem relatórios

25/12/2017 07:34 Atualizado: 25/12/2017 07:34

Reportagens tem circulado sobre a Coreia do Norte ter começado a testar uma ogiva carregada com antraz para seu míssil balístico intercontinental (ICBM) após o jornal japonês Asahi Shimbun citar uma fonte de inteligência anônima em Seul.

O momento da reportagem coincide com a recém-publicada Estratégia de Segurança Nacional da Casa Branca dos Estados Unidos que aponta para preocupações semelhantes.

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A Coreia do Norte negou veementemente as alegações, mas relatórios de inteligência anteriores sobre o isolado regime revelam instalações agrícolas com potencial de utilização para produzir antraz.

Alegações

De acordo com a fonte do Asahi Shimbun, a Coreia do Norte está realizando testes de calor e pressão para simular o que uma ogiva enfrentaria quando reentrasse na Terra durante o estágio final de sua trajetória.

Os testes se destinam a determinar se os germes de antraz podem sobreviver a temperaturas até ou acima de 7 mil graus. Essa é a temperatura que uma ogiva de ICBM pode experimentar quando penetra na atmosfera em sua descida.

Coreia do Norte, antraz, armas químicas e biológicas - O Hwasong-15, um míssil balístico intercontinental norte-coreano, é lançado num local não revelado em 28 de novembro de 2017 (AFP/KCNA via KNS)
O Hwasong-15, um míssil balístico intercontinental norte-coreano, é lançado num local não revelado em 28 de novembro de 2017 (AFP/KCNA via KNS)

Segundo o jornal, um relatório de inteligência não confirmado afirma que a Coreia do Norte já testou com sucesso essa ogiva sob essas condições.

Instalações de dupla utilização

Agências de inteligência sul-coreanas e estadunidenses acreditam que a Coreia do Norte já está desenvolvendo agentes biológicos ou pelo menos a capacidade de produzir esses agentes em grande quantidade.

Num relatório de outubro, o Centro Belfer da Faculdade Kennedy de Harvard resumiu a evidência de que a Coreia do Norte possui um programa de armas biológicas capaz de produzir antraz, varíola e outros agentes biológicos. O regime pode possuir 13 agentes biológicos, desde botulismo e cólera até a peste, afirmou o relatório.

Coreia do Norte, antraz, armas químicas e biológicas - O líder norte-coreano Kim Jong-un visita o Instituto Biotécnico de Pyongyang numa imagem que especialistas dizem revelar equipamentos que poderiam ser usados para produzir antraz (Mídia estatal norte-coreana)
O líder norte-coreano Kim Jong-un visita o Instituto Biotécnico de Pyongyang numa imagem que especialistas dizem revelar equipamentos que poderiam ser usados para produzir antraz (Mídia estatal norte-coreana)

Especialistas dizem que o esforço da Coreia do Norte para criar pesticidas e fertilizantes biológicos pode fornecer as instalações, bem como uma cobertura para um programa de armas biológicas.

Fotos publicitárias do Instituto Biotécnico de Pyongyang publicadas pela mídia estatal norte-coreana em 2015 revelaram que a instituição “poderia produzir quantidades militares [de armas biológicas], especificamente antraz”, diz o relatório do Centro Belfer.

Segurança nacional

A Casa Branca reconhece o risco de tal programa em sua Estratégia de Segurança Nacional, que acaba de ser lançada.

A diretriz avisa que, à medida que o programa de mísseis da Coreia do Norte continua a se desenvolver, isso faz mais do que proporcionar ao regime uma maneira de atingir os Estados Unidos com uma arma nuclear.

“A Coreia do Norte também está buscando armas químicas e biológicas que possam ser usadas por meio de míssil”, diz a estratégia.

Negações da Coreia do Norte

Pyongyang, no entanto, nega que tenha qualquer programa de armas biológicas.

Uma declaração publicada pela agência estatal de notícias, e que foi republicada pela KCNA Watch, afirmou que as alegações eram infundadas.

De acordo com o comunicado emitido por um oficial de assuntos estrangeiros da Coreia do Norte, as alegações de armas biológicas são uma tentativa de “fazer mentiras parecerem verdades, insistindo obstinadamente que o preto é branco”.

Evidência de assassinato

O assassinato em fevereiro de Kim Jong-nam, o meio-irmão mais velho de Kim Jong-un e sucessor credível do regime, revelou que armas biológicas poderiam ser uma ferramenta preferida do regime norte-coreano.

Kim Jong-nam teria sido assassinado por uma mulher vietnamita e uma indonésia numa conspiração com quatro fugitivos norte-coreanos.

Coreia do Norte, antraz, armas químicas e biológicas - O atual líder norte-coreano Kim Jong-un (esq.) e seu meio-irmão Kim Jong-nam (dir.), ambos filhos do ex-líder Kim Jong-il (Ed Jones/Toshifumi Kitamura/AFP/Getty Images)
O atual líder norte-coreano Kim Jong-un (esq.) e seu meio-irmão Kim Jong-nam (dir.), ambos filhos do ex-líder Kim Jong-il (Ed Jones/Toshifumi Kitamura/AFP/Getty Images)

Kim Jong-nam era o herdeiro aparente do regime norte-coreano até que caiu em desgraça em 2001. Alguns acreditam que ele seria o escolhido da China para liderar a Coreia do Norte.

Ele foi assassinado com VX, um agente nervoso e uma arma química proibida. Aparentemente consciente da ameaça, Kim Jong-nam carregava uma dúzia de frascos de antídoto para o letal agente nervoso VX numa bolsa que ele carregava consigo quando foi envenenado.