Reportagens tem circulado sobre a Coreia do Norte ter começado a testar uma ogiva carregada com antraz para seu míssil balístico intercontinental (ICBM) após o jornal japonês Asahi Shimbun citar uma fonte de inteligência anônima em Seul.
O momento da reportagem coincide com a recém-publicada Estratégia de Segurança Nacional da Casa Branca dos Estados Unidos que aponta para preocupações semelhantes.
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A Coreia do Norte negou veementemente as alegações, mas relatórios de inteligência anteriores sobre o isolado regime revelam instalações agrícolas com potencial de utilização para produzir antraz.
Alegações
De acordo com a fonte do Asahi Shimbun, a Coreia do Norte está realizando testes de calor e pressão para simular o que uma ogiva enfrentaria quando reentrasse na Terra durante o estágio final de sua trajetória.
Os testes se destinam a determinar se os germes de antraz podem sobreviver a temperaturas até ou acima de 7 mil graus. Essa é a temperatura que uma ogiva de ICBM pode experimentar quando penetra na atmosfera em sua descida.
Segundo o jornal, um relatório de inteligência não confirmado afirma que a Coreia do Norte já testou com sucesso essa ogiva sob essas condições.
Instalações de dupla utilização
Agências de inteligência sul-coreanas e estadunidenses acreditam que a Coreia do Norte já está desenvolvendo agentes biológicos ou pelo menos a capacidade de produzir esses agentes em grande quantidade.
Num relatório de outubro, o Centro Belfer da Faculdade Kennedy de Harvard resumiu a evidência de que a Coreia do Norte possui um programa de armas biológicas capaz de produzir antraz, varíola e outros agentes biológicos. O regime pode possuir 13 agentes biológicos, desde botulismo e cólera até a peste, afirmou o relatório.
Especialistas dizem que o esforço da Coreia do Norte para criar pesticidas e fertilizantes biológicos pode fornecer as instalações, bem como uma cobertura para um programa de armas biológicas.
Fotos publicitárias do Instituto Biotécnico de Pyongyang publicadas pela mídia estatal norte-coreana em 2015 revelaram que a instituição “poderia produzir quantidades militares [de armas biológicas], especificamente antraz”, diz o relatório do Centro Belfer.
Segurança nacional
A Casa Branca reconhece o risco de tal programa em sua Estratégia de Segurança Nacional, que acaba de ser lançada.
A diretriz avisa que, à medida que o programa de mísseis da Coreia do Norte continua a se desenvolver, isso faz mais do que proporcionar ao regime uma maneira de atingir os Estados Unidos com uma arma nuclear.
“A Coreia do Norte também está buscando armas químicas e biológicas que possam ser usadas por meio de míssil”, diz a estratégia.
Negações da Coreia do Norte
Pyongyang, no entanto, nega que tenha qualquer programa de armas biológicas.
Uma declaração publicada pela agência estatal de notícias, e que foi republicada pela KCNA Watch, afirmou que as alegações eram infundadas.
De acordo com o comunicado emitido por um oficial de assuntos estrangeiros da Coreia do Norte, as alegações de armas biológicas são uma tentativa de “fazer mentiras parecerem verdades, insistindo obstinadamente que o preto é branco”.
Evidência de assassinato
O assassinato em fevereiro de Kim Jong-nam, o meio-irmão mais velho de Kim Jong-un e sucessor credível do regime, revelou que armas biológicas poderiam ser uma ferramenta preferida do regime norte-coreano.
Kim Jong-nam teria sido assassinado por uma mulher vietnamita e uma indonésia numa conspiração com quatro fugitivos norte-coreanos.
Kim Jong-nam era o herdeiro aparente do regime norte-coreano até que caiu em desgraça em 2001. Alguns acreditam que ele seria o escolhido da China para liderar a Coreia do Norte.
Ele foi assassinado com VX, um agente nervoso e uma arma química proibida. Aparentemente consciente da ameaça, Kim Jong-nam carregava uma dúzia de frascos de antídoto para o letal agente nervoso VX numa bolsa que ele carregava consigo quando foi envenenado.