Coreia do Norte restringe comemoração do Dia das Mães

23/11/2017 15:28 Atualizado: 23/11/2017 15:28

A Coreia do Norte passou a censurar as mensagens que podem ser entregues no feriado do Dia das Mães, comemoração criada pelo ditador Kim Jong-un em 2012.

O Dia das Mães na Coreia do Norte foi criado para homenagear as mães que apoiam o regime norte-coreano.

“A felicidade da família e o futuro da nação residem na educação dos filhos e das filhas para que se tornem verdadeiros seres humanos. Os revolucionários se dedicam ao país e ao povo. Este é o ponto de vista mais nobre sobre a felicidade e o futuro que as mães deste país apreciam”, anunciou um artigo recente da KCNA, mídia estatal da Coreia do Norte.

Pyongyang prostra-se diante das estátuas dos ex-presidentes Kim Il-sung e Kim Jong-il na colina de Mansu, no 23º aniversário da morte de Kim Il-sung, em Pyongyang, em 8 de julho de 2017 (Kim Won-jin/AFP/Getty Imagens)
Pyongyang prostra-se diante das estátuas dos ex-presidentes Kim Il-sung e Kim Jong-il na colina de Mansu, no 23º aniversário da morte de Kim Il-sung, em Pyongyang, em 8 de julho de 2017 (Kim Won-jin/AFP/Getty Imagens)

O Dia das Mães é celebrado no dia 16 de novembro na Coreia do Norte, dia em que se comemora o discurso “O dever das mães na educação das crianças”, pronunciado em 16 de novembro de 1961 pelo primeiro ditador comunista da Coreia do Norte, Kim Il-sung.

O regime aproveita a data para defender exemplos de mães que ensinaram seus filhos a apoiar o regime de Kim.

“Nossas fileiras revolucionárias estão ficando mais fortes porque há muitas mães diligentes e ternas que enviaram seus filhos e filhas para os postos de defesa do país”, descreve o artigo.

Kim Jong-un definiu o Dia das Mães no ano Juche 101, o ano civil norte-coreano de 2012.

Ironicamente, qualquer informação sobre a própria mãe de Kim, incluindo sua identidade, é um segredo de Estado na Coreia do Norte.

“Ninguém na Coreia do Norte sabe quem é sua mãe”, afirmou o ex-diplomata norte-coreano Thae Yong Ho a legisladores em Washington, DC, em 1º de novembro.

Thae Yong Ho, ex-vice-chefe da embaixada da Coreia do Norte em Londres que desertou para a Coreia do Sul no ano passado, testemunha em uma audiência do Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados em Washington, em 1º de novembro (Samira Bouaou/Epoch Times)
Thae Yong Ho, ex-vice-chefe da embaixada da Coreia do Norte em Londres que desertou para a Coreia do Sul no ano passado, testemunha em uma audiência do Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados em Washington, em 1º de novembro (Samira Bouaou/Epoch Times)

De acordo com a KCNA, as crianças aproveitam o dia para homenagear as mães que seguem os ideais do regime.

“No importante Dia das Mães, todos os anos os filhos e filhas do país felicitam calorosamente as mães que criam seus filhos com seu amor, sentimentos e devoção e apoiam o país socialista”, explica o artigo da KCNA.

Norte-coreanos olham para imagem do ditador Kim Jong-un em uma tela de televisão em frente à estação de trem de Pyongyang em 22 de setembro (Ed Jones/AFP/Getty Images)
Norte-coreanos olham para imagem do ditador Kim Jong-un em uma tela de televisão em frente à estação de trem de Pyongyang em 22 de setembro (Ed Jones/AFP/Getty Images)

Mas justamente quando o feriado começou a ganhar força, ficou sujeito a novas restrições, informa o NK Daily, um site de notícias especializado em obter informações de fontes norte-coreanas.

As autoridades norte-coreanas proibiram as pessoas de anexar mensagens especiais de agradecimento aos buquês de flores enviados às mães para festejar a ocasião.

Segundo uma fonte norte-coreana, o regime tem medo de que o amor das pessoas por suas mães possa competir com seu afeto por Kim Jong-un, seu pai e seu avô.

“Quando esta comemoração foi implementada, as pessoas não se importavam em comemorá-la ou não. Mas à medida que o regime começou a impulsionar a propaganda sobre a data nos anos posteriores, as pessoas começaram a pensar sobre o que comprar para suas mães nos dias anteriores ao feriado”, disse uma fonte na província de Pyongan do Sul ao Daily NK em 15 de novembro.

Criança com uma imitação de rifle participa de uma corrida de obstáculos junto com outros estudantes durante os jogos esportivos que marcam o "Dia da Fundação do Sindicato Infantil", em Pyongyang, em 6 de junho de 2017 (Ed Jones/AFP/Getty Images)
Criança com uma imitação de rifle participa de uma corrida de obstáculos junto com outros estudantes durante os jogos esportivos que marcam o “Dia da Fundação do Sindicato Infantil”, em Pyongyang, em 6 de junho de 2017 (Ed Jones/AFP/Getty Images)

À medida que o dia se tornou mais popular, lojas estatais e outros comerciantes começaram a oferecer vários tipos de arranjos florais. Mas o regime começou a restringir a prática de colocar fitas com mensagens de “obrigado” ou “Eu amo você”, pois isso compete com o significado das ofertas de culto à personalidade através de cestas de flores colocadas em frente aos retratos (de Kim Il-sung e Kim Jong-il)”, acrescentou a fonte.

A restrição provocou desagrado entre os norte-coreanos, disse a fonte.

“É muito triste que as pessoas tenham que expressar sua gratidão ao ‘pai’ Kim Jong-un depois de cada pequena coisa que ele faz, mas não podemos expressar nossos agradecimentos às nossas mães no Dia das Mães”.

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