Coreia do Norte ganhou US$ 200 milhões com exportações proibidas e vendeu armas para Síria e Myanmar

07/02/2018 20:00 Atualizado: 07/02/2018 20:00

A Coreia do Norte violou as sanções da Organização das Nações Unidas (ONU) para ganhar cerca de US$ 200 milhões em 2017 com a exportação de commodities proibidas, de acordo com um relatório confidencial de monitores independentes da ONU, que também acusou Pyongyang de fornecer armas à Síria e a Myanmar.

O relatório destinado ao comitê de sanções do Conselho de Segurança da ONU, visto pela Reuters na sexta-feira, 2 de fevereiro, disse que a Coreia do Norte enviou carvão para diversos portos, incluindo na Rússia, China, Coreia do Sul, Malásia e Vietnã, usando principalmente documentos falsos que mostravam países como a Rússia e a China como a origem do carvão ao invés da Coreia do Norte.

O conselho de 15 membros aprovou por unanimidade sanções contra a Coreia do Norte desde 2006, com o objetivo de sufocar o financiamento dos programas nucleares e de mísseis balísticos de Pyongyang, proibindo muitas de suas exportações, incluindo carvão, ferro, chumbo, têxteis e frutos do mar, e limitando as importações de petróleo bruto e produtos de petróleo refinado.

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“A Coreia do Norte já está ignorando as resoluções mais recentes por meio da exploração global da cadeia de fornecimento de petróleo, de estrangeiros cúmplices, do registro de empresas offshore e do sistema bancário internacional”, disseram os monitores da ONU no relatório de 213 páginas.

A missão norte-coreana nas Nações Unidas não respondeu imediatamente a um pedido de comentários sobre o relatório da ONU. Rússia e China disseram repetidamente que estão implementando as sanções da ONU contra a Coreia do Norte.

Síria e Myanmar

Os monitores disseram ter investigado a cooperação contínua a respeito de mísseis balísticos entre a Síria e Myanmar, incluindo mais de 40 transferências envolvendo a Coreia do Norte que não foram notificadas entre 2012 e 2017 para o Centro de Estudos e Pesquisas Científicas da Síria, que supervisiona o programa de armas químicas do país.

A investigação mostrou “mais evidências do embargo de armas e outras violações, inclusive por meio da transferência de itens com utilidade em programas de mísseis balísticos e armas químicas”, escreveram os monitores da ONU.

Eles também inspecionaram o conteúdo de dois carregamentos de navios da Coreia do Norte interceptados por países não identificados a caminho da Síria. Ambos continham azulejos resistentes a ácidos que poderiam abranger uma área igual a de um projeto industrial de grande escala, informaram os monitores.

Um país, que não foi identificado, disse aos monitores que os carregamentos apreendidos podem “ser usados para construir tijolos para o revestimento interior de uma fábrica de produtos químicos”.

Coreia do Norte, sanções, petróleo, carvão, venda de armas, Myanmar, Síria - Uma bandeira norte-coreana na Missão Permanente da Coreia do Norte em Genebra em 2 de outubro de 2014 (Denis Balibouse/Reuters)
Uma bandeira norte-coreana na Missão Permanente da Coreia do Norte em Genebra em 2 de outubro de 2014 (Denis Balibouse/Reuters)

A Síria concordou em destruir suas armas químicas em 2013. No entanto, diplomatas e inspetores de armas suspeitam que a Síria possa manter secretamente ou desenvolver uma nova capacidade de armas químicas.

A missão síria nas Nações Unidas não respondeu imediatamente a um pedido de comentários sobre o relatório da ONU.

Os monitores da ONU também disseram que um país, que não foi identificado, informou que tinha evidências de que Myanmar recebeu sistemas de mísseis balísticos da Coreia do Norte, juntamente com armas convencionais, incluindo múltiplos lança-foguetes e mísseis terra-ar.

O embaixador de Myanmar na ONU, Hau Do Suan, disse que o governo birmanês “não tem qualquer relacionamento de armas em curso com a Coreia do Norte” e está cumprindo as resoluções do Conselho de Segurança da ONU.

Exportações e importações proibidas

De acordo com uma resolução de 2016, o Conselho de Segurança da ONU limitou as exportações de carvão e exigiu que os países informassem ao comitê de sanções do conselho sobre as importações de carvão da Coreia do Norte. Em seguida, eles proibiram todas as exportações de carvão da Coreia do Norte em 5 de agosto.

Os monitores da ONU investigaram 16 embarques de carvão entre janeiro e 5 de agosto de 2017 para portos na Rússia, China, Malásia e Vietnã. Eles disseram que a Malásia reportou uma remessa para o comitê do conselho e as 15 remessas restantes violaram as sanções.

Depois que a proibição do carvão foi imposta em 5 de agosto, os monitores da ONU investigaram que houve 23 embarques de carvão para portos na Rússia, China, Coreia do Sul e Vietnã. Os monitores da ONU disseram que todas essas remessas “constituiriam uma violação da resolução, se confirmadas”.

“A Coreia do Norte combinou padrões de navegação enganosos, manipulação de sinais, transferência entre navios [em alto-mar] e documentação fraudulenta para disfarçar a origem do carvão”, disseram os monitores.

Os monitores da ONU “também investigaram casos de transferência entre navios de produtos petrolíferos em violação (às sanções da ONU)… e descobriram que a rede por trás desses navios se baseia principalmente na província chinesa de Taiwan”.

Os monitores disseram que um país, que eles não nomearam, informou-lhes que a Coreia do Norte realizou essas transferências para fora de seus portos de Wonsan e Nampo e em águas internacionais entre o Mar Amarelo e o Mar do Leste da China entre outubro de 2017 e janeiro de 2018.

O relatório disse que várias empresas petrolíferas multinacionais, que não foram nomeadas, também foram investigadas por seus papéis na cadeia de suprimentos de produtos petrolíferos transferidos para a Coreia do Norte.

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