Por Lisa Bian
A Coreia do Sul é fortemente dependente da China para as importações de ureia, um produto derivado do carvão. Em meados de outubro, a China reduziu suas exportações de ureia devido à escassez de carvão. A Coreia do Sul está agora em uma crise profunda, pois os quase 4 milhões de veículos a diesel do país não podem operar sem ureia.
A ureia é o principal componente do fluido de escapamento de diesel (DEF), um aditivo usado em veículos a diesel para reduzir as emissões. Na Coreia do Sul, o DEF não é apenas obrigatório para fins de controle de qualidade do ar, mas também essencial para a operação adequada dos veículos a diesel vendidos após janeiro de 2015. Os proprietários de veículos a diesel precisam encher seus reservatórios de DEF regularmente. Caso contrário, o veículo pode encontrar uma avaria do equipamento ou uma falha no sistema de combustível do motor.
Cerca de 4 milhões de veículos a diesel na Coreia do Sul precisam de ureia para operar, entre eles 2 milhões são caminhões. Isso significa que a escassez de ureia automotiva levou o setor de logística do país ao caos.
Dados da Agência de Promoção de Investimentos Comerciais da Coreia (KOTRA) mostraram que a China é o maior produtor e exportador de ureia do mundo, fornecendo cerca de 5 milhões de toneladas de ureia por ano. Nos primeiros nove meses deste ano, a Coreia do Sul importou 564.000 toneladas de ureia da China, respondendo por 14 por cento do total das exportações de ureia da China, perdendo apenas para a Índia.
Naqueles mesmos nove meses, 97,6% da ureia industrial da Coreia do Sul – a principal matéria-prima para a produção de ureia automotiva – veio da China, de acordo com o Ministério da Indústria coreano.
No passado, as empresas coreanas também produziam ureia, mas estavam em desvantagem de preço quando competiam com os produtos da China e da Rússia. Quase todos os fabricantes de ureia retiraram-se do mercado por volta de 2013. Por exemplo, a Korea Fertilizer Co. Ltd., não conseguiu suportar as perdas e interrompeu a produção de ureia em 2011.
De acordo com a mídia coreana, Lotte Fine Chemicals, o maior fabricante sul-coreano de ureia automotiva, afirmou que seu estoque atual será vendido até o final deste mês.
A ureia automotiva está agora sendo negociada no mercado a um valor 10 vezes maior do que anteriormente. Ao mesmo tempo, o abastecimento de ureia nos postos de gasolina é muitas vezes interrompido. Alguns estão acumulando o produto, na esperança de obter grandes lucros no futuro.
A Autoridade Portuária de Incheon afirma que se a escassez continuar até o final deste mês, a movimentação de carga no Porto de Incheon será afetada, já que muitos caminhões usados para carregar e descarregar mercadorias são veículos movidos a diesel.
Além disso, 80,5% dos caminhões de bombeiros e 90% das ambulâncias em todo o país precisam de ureia para funcionar.
Um homem do Sindicato Nacional da Construção da Coreia do Sul fez uma manifestação em frente a um prédio governamental em Seul, no dia 4 de novembro, reclamando que caminhões basculantes e caminhões de concreto pararam de funcionar devido à escassez de ureia. O manifestante exigiu que o governo seja responsabilizado pela alta dos preços da ureia automotiva e forneça planos de ajuda aos trabalhadores que operam máquinas pesadas.
Além de restringir o acúmulo, o governo ainda não apresentou nenhum plano efetivo para resolver a crise.
‘Dependência excessiva da China é um grande problema’
Por causa da inesperada escassez de ureia e seu sério impacto, a política do governo sul-coreano em relação ao Partido Comunista Chinês (PCC) foi criticada.
O Seul Economic Daily apontou em um editorial que o caos da escassez de ureia é um desastre causado pelo homem, causado pelo excesso de confiança na China.
“É triste que apenas a Coreia do Sul tenha sido severamente atingida pela turbulência da ureia automotiva”, declarou o artigo, “Pode-se ver que a dependência excessiva na China é um grande problema … A Coreia do Sul sofreu retaliação econômica [da China] após o Incidente THAAD, mas não conseguiu reduzir sua dependência na China. Tem continuado a política da corda bamba de depender dos Estados Unidos para a segurança nacional e da China para a economia”.
O autor também criticou a resposta lenta do governo, quando o PCC baniu as importações de carvão da Austrália há um ano e restringiu as exportações de ureia há 20 dias.
“O mais importante é reduzir o grau de dependência na China. Se continuarmos nosso ‘amor não correspondido’ pela China depois de sermos atingidos todas as vezes, não seremos capazes de evitar crises econômicas e de segurança”, alertou o editorial.
Yoon Seok-youl, candidato à presidência do Partido Poder do Povo da oposição e ex-procurador-geral, escreveu em seu post no Facebook: “Embora a China tenha restringido as exportações de ureia já em 15 de outubro, relevantes reuniões de departamento foram realizadas no dia 2 deste mês. O que o governo tem feito durante esse tempo?”
Ele enfatizou que, se eleito, assumirá o controle sobre os raros recursos e matérias-primas no quais são altamente dependentes de certos países e formulará contramedidas de oferta e demanda no curto e longo prazo.
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